Em Trastevere, charmoso bairro de Roma, há um pequeno restaurante com uma das melhores cozinhas da cidade. Mas o que chama logo a atenç...

Em Trastevere, charmoso bairro de Roma, há um pequeno restaurante com uma das melhores cozinhas da cidade. Mas o que chama logo a atenção do cliente que ainda não lhe conhece a cozinha é um extraordinário aviso emoldurado na parede: “NON ABBIAMO WI-FI. PARLATE UN PÒ TRA VOI.” Em bom português: “Não temos wi-fi: conversem um pouco entre si.”

Não é incomum, hoje em dia, quatro amigos dividirem uma mesa de restaurante, cada um comunicando-se isoladamente com alguém que não está à mesa, através do celular, como se não houvesse pessoa alguma ao seu lado naquele momento. Ver uma foto, um vídeo, ler ou responder a uma mensagem (coisas que ficam gravadas e podem ser vistas quando se estiver sozinho) ficam sendo algo mais importante e prazeroso do que conversar com as pessoas com quem você combinou de encontrar-se e que estão ali, ao lado, com a sua presença viva, tornando possível o milagre que é compartilhar um instante único e irrepetível.

Outubro caminha pelos seus meados com suas pancadas de chuvas aleatórias e, cada vez mais diminutas, mas que tantas vezes surpreende...

cotidiano olhar urbano
Outubro caminha pelos seus meados com suas pancadas de chuvas aleatórias e, cada vez mais diminutas, mas que tantas vezes surpreende com seu barulhinho bom, música mais rara nestas paragens do ano, enquanto o calor aumenta e anuncia dias muito mais sufocantes. No ar, uma espécie de anticlímax enquanto o tempo imparável marca que age em tudo e, mesmo assim, muitos nem se apercebem. Seguem apinhados roteiros de cartas marcadas, insistem em abraçar desastres. Alheia a tudo isso, a vida prossegue, a cidade não para... O céu era prata, agora é ouro, que rebrilhará ainda mais nos próximos meses.

“Sai daí, menino severgonho. Vou dizer ao Coronel”. É o que se encontra como fechamento do capítulo XV de Menino de engenho , de José ...

“Sai daí, menino severgonho. Vou dizer ao Coronel”. É o que se encontra como fechamento do capítulo XV de Menino de engenho, de José Lins do Rego (Ficção completa, volume I, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1976, p. 77), obra que chega este ano aos seus noventa anos. Assim mesmo, severgonho, sem nasalização na primeira sílaba, por ser mais fácil de prolatar, como grupo de força que a expressão sem-vergonha é, permitindo que se juntem as duas palavras, porque, na realidade, elas formam uma única estrutura de prolação. É o que, igualmente, acontece com porisso e apartir. Mas não é desses termos que eu quero falar.

Confesso que não alcançava o sentido dos versos do hino dedicado à Senhora de Fátima: “A treze de maio, na Cova da Iria”... Perguntava ...

Confesso que não alcançava o sentido dos versos do hino dedicado à Senhora de Fátima: “A treze de maio, na Cova da Iria”... Perguntava aos meus pequenos botões, naqueles idos do catecismo ministrado pela professora Dapaz, braço direito do Padre, quem teria sido a pobre Iria, do que teria morrido e o que a santa fora fazer em sua cova. Simplesmente aparecer no Céu? Melhor faria se cuidasse de devolvê-la à família e aos amigos, entre eles, certamente, os três pastorezinhos.

Ainda não descartei a minha que, durante dois anos, os canais locais de comunicação da Saúde me impuseram com disciplina tão responsá...

mascara pandemia covid
Ainda não descartei a minha que, durante dois anos, os canais locais de comunicação da Saúde me impuseram com disciplina tão responsável quanto solidária.

Fomos um estado exemplar no combate sem trégua.

No ponto mais agudo queríamos, como povo, festejar o São João, um desafio arriscadíssimo para os da terra e os que ao terreiro maior e mais animado dos festejos seriam atraídos. Governo e prefeito, independente de bandeiras políticas, souberam coligar-se. E João, e Romero, e todos os demais sem oposição a se encontrarem ou se abraçarem ansiosos no esforço salvador de improvisar hospitais, ampliar a oferta de leitos e, dependendo do Ministério, avançar com a vacina.

Nunca antes na história desse país tivemos uma eleição para presidente dessas! Não mais programa eleitoral, caminhadas, comícios, re...

Nunca antes na história desse país tivemos uma eleição para presidente dessas! Não mais programa eleitoral, caminhadas, comícios, respeito ao adversário, debates acirrados na TV, santinhos, panfletagem, para garantir a vitória. Tudo isso acontece ainda. Mas sem muita eficácia. Os comentaristas políticos meio perdidos; o povo decidindo voto na última hora; os eleitores sendo orientados para não responderem às pesquisas. As pesquisas sem conseguir ler o desejo dos eleitores…

Fico com Neruda, poeta do mundo, quando citou Arthur Rimbaud: só com uma ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade qu...

Fico com Neruda, poeta do mundo, quando citou Arthur Rimbaud: só com uma ardente paciência conquistaremos a esplêndida cidade que dará luz, justiça e dignidade a todos os homens.

Com Poesia magistral, o poeta chileno lutou contra as mazelas que destroem a humanidade, escravizam e reduzem a farrapos homens em seus elementares direitos.

A mídia tem mostrado com uma frequência preocupante a viol...

politica disputa polarizacao eleicao
A mídia tem mostrado com uma frequência preocupante a violência no esporte. Cenas de murros, tiros e facadas invadem os noticiários televisivos, fazendo-nos admirar que gente pacífica ainda entre em campos de futebol. O mais doloroso é que os alvos nem sempre são os torcedores, mas pessoas que eventualmente circulam pelas cercanias dos estádios.

O esporte existe para canalizar e reduzir a violência, mas o que temos visto ultimamente é a violência transformada em esporte. Um dos motivos para isso é a mística atribuída a certos clubes, cujos fanáticos torcedores os têm como religiões. Ou melhor, têm-nos como seitas, pois as religiões exercem um papel comunitário que essas agremiações estão longe de exercer.

E eis que Virginius completaria cem anos se vivo fosse nesse 19 de outubro de 2022. Levando a vida boêmia que levou, dificilme...

literatura paraibana virginius gama melo
E eis que Virginius completaria cem anos se vivo fosse nesse 19 de outubro de 2022. Levando a vida boêmia que levou, dificilmente atingiria o centenário, mas a vida tem seus mistérios e o menestrel poderia perfeitamente ainda estar entre nós, inclusive com o pleno uso das faculdades mentais, como alguns idosos privilegiados que estão por aí. Seria curioso ouvirmos o que ele estaria achando dessa nossa contemporaneidade, tão diferente do seu tempo, a despeito de ter sido ontem que ele pontificou em nosso meio. Esse centenário terá certamente muitas comemorações; pelo menos, é o que espero, sempre receoso que sou da amnésia paraibana. Para prevenir algum lapso oficial, temos a seguir uma espécie de sumária rememoração do grande crítico e romancista que tanto marcou nossa vida cultural no século passado, seguindo uma certa ordem cronológica, para facilitar a leitura e o desenrolar do texto.

Dolorosa, infeliz e real constatação. Estamos imersos nesta “ desumanidade “ sufocante em estágio avançado e para piorar a situação ain...

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Dolorosa, infeliz e real constatação. Estamos imersos nesta “ desumanidade “ sufocante em estágio avançado e para piorar a situação ainda mais, somos levados a brigar entre nós.

O atraso espiritual é asfixiante, de tirar o ar que respiramos. O que mais horroriza é sentir ruir a humanidade nas mãos de líderes equivocados, gananciosos na perpetuação do poder pessoal e de suas próprias dinastias, clãs familiares e de amigos.

No Canto IX de Os Lusíadas , em que se inicia o célebre episódio da Ilha dos Amores, momento e descanso merecido de Vasco da Gama e s...

lusiadas amor astenio fernandes poesia paraibana
No Canto IX de Os Lusíadas, em que se inicia o célebre episódio da Ilha dos Amores, momento e descanso merecido de Vasco da Gama e seus navegantes, em ilha regida por Vênus, cujo objetivo era “dar-lhe nos mares tristes alegria” (estrofe 18, verso 8), após a grande empreitada por “mares nunca de antes navegados” (Canto I, estrofe 1, verso 3), o poeta Luís Vaz de Camões refere-se ao Amor, com a propriedade dos amantes experimentados (estrofe 83, versos 7-8):

Que bom ter o amigo Germano Romero se lembrado da extinta Great Western ao percorrer, com os seus, os caminhos de ferro da Europa, em ...

great western rail trem ferrovia
Que bom ter o amigo Germano Romero se lembrado da extinta Great Western ao percorrer, com os seus, os caminhos de ferro da Europa, em viagem de tão bom proveito.

Que bom ter reclamado a volta dos trens que tanta falta fazem à vida dos brasileiros e a um processo econômico que hoje se move em lombo de caminhão. Isso, com sabidos e dolorosos custos: o impacto dos fretes no salário nosso de cada dia, a superlotação das rodovias e a violência do trânsito que em tempos de paz tem por aqui saldos de guerra. Um desses relatórios da Confederação Nacional dos Transportes contabiliza quase 90 mil mortes por decênio.

O calor do sol, depois das 9, começa a ressecar o pulmão dos velhos ou dos doentes do peito. Há mais de sessenta anos, em fins de out...

gonzaga rodrigues reminiscencias nostalgia
O calor do sol, depois das 9, começa a ressecar o pulmão dos velhos ou dos doentes do peito.

Há mais de sessenta anos, em fins de outubro de 1959, fui passar a limpo uma tosse com febre persistente no final das tardes, e como resultado terminei saindo na manhã quente a suar frio e me acostar a Malaquias Baptista, jovem médico dos universitários, num posto ao lado do Cine Municipal.

Um dos sobrados mais antigos e imponentes, com marcas da história de Serraria, agora está nas mãos de um novo dono, ganhou espaços pa...

serraria centro historico ovidio duarte
Um dos sobrados mais antigos e imponentes, com marcas da história de Serraria, agora está nas mãos de um novo dono, ganhou espaços para manifestações culturais, resgata o passado da cidade e das famílias que ajudaram no povoamento e desenvolvimento local, em louvável iniciativa das mãos de jovens empreendedores.

“Hospital Albert Einstein libera bichos de estimação para pacientes em São Paulo” (Portal UOL)   Certa manhã, ...

bicho estimacao saude animal
“Hospital Albert Einstein libera bichos de estimação para pacientes em São Paulo” (Portal UOL)  

Certa manhã, Casimiro se sentiu mal. O médico da família foi chamado às pressas:

– Princípio de AVC. É preciso internar agora. – Ele vai ficar bom? – quis saber Clotilde, apavorada. – A evolução depende muito dos hábitos de vida do paciente.

Casimiro não cometia excessos, mas também não era nenhum estoico. Fazia o que a maioria faz. Uma cervejinha nos fins de semana, vez por outra uma feijoada, doces com alguma moderação. Para não dizer que não fazia exercícios, combatia o sedentarismo caminhando todos os dias com o seu cão, Aladim.

Parece título de fábula ou de conto de fada. Mas não é. Trata-se de história verídica contada, segundo Mirabeau Dias, por Genival Vel...

jaguaribe sapateiro dostoievski
Parece título de fábula ou de conto de fada. Mas não é. Trata-se de história verídica contada, segundo Mirabeau Dias, por Genival Veloso, nosso mestre de Medicina Legal. O tal sapateiro chamava-se Isac, morava e trabalhava em Jaguaribe, meado do século passado, e era quem consertava os calçados da família de Genival, também moradora do bairro. Esse artesão, autêntico espécime do proletariado urbano, tinha uma característica inusitada: gostava de ler Dostoiévski, autor até hoje considerado não muito fácil e por isso restrito a paladares literários mais refinados. Veja só.