Para vivir un año es necesario morirse muchas veces mucho.
Ángel González
Alguns poetas são atletas do abismo. Espreitam, com seu olhar irrequieto e sensível, o entardecer por detrás da História. Debulham o seu passado – o nosso passado – e nos ofertam um ladrilho de palavras. Esses mesmos poetas se especializam, tornam-se alpinistas do nada e penduram-se no portal do tempo. Sabem-se clandestinos, insignificantes e fadados ao esquecimento.
Conversando com amigos sobre Augusto dos Anjos, um deles me perguntou sobre a vinculação do poeta do Eu, se poderia considerá-lo modernista, mesmo que se possa constatar, em sua poesia, algo de parnasiano e de simbolista. A minha resposta foi longa, mas tentarei resumir aqui.
Liberdade significa o direito de agir segundo a própria vontade ou livre arbítrio, desde que pessoas ou instituições não sejam prejudicadas. Daí os orientadores informarem, em "O Livro dos Espíritos", que não existe liberdade absoluta, mas relativa: “[…] porque todos precisais uns dos outros, tanto os pequenos como os grandes.
Seja como for, Nilvan Ferreira não será mais o mesmo. Agrega em seu currículo de aparência política até bem pouco obscura a metade (menos uma fração) do eleitorado de uma das capitais mais politizadas do país. Sem o prisma ideológico de um Boulos, de uma Marília Arraes ou de Manuela d’Ávila, lideranças novas que o pleito confirmou, o radialista que se destacava apurando pleitos há d ser considerado em qualquer situação ou composição futura.
Conheci Flávio Tavares adolescente, e começamos a namorar quando eu tinha 15 anos, já no primeiro olhar, e nos casamos, eu com 19 e ele com 23. Duas crianças. Ficava encantada ao vê-lo pintar. Surgir as cores, formas, vida. Durante 10 anos, acompanhei essa experiência sensorial/gestual/orgânica de outra pessoa. Ainda em formação da minha própria identidade intelectual, eu absorvia as coisas da imaginação, tinha espasmos de felicidade ao ver uma tela surgir e sofria ao vê-lo criar ou não criar, mergulhar no seu trabalho. Ele, muito jovem e com muitas inquietações sobre o desenho, a pintura, sua identidade, suas crises de criação, tão normais a quem vive nessa e dessa vertigem. Até hoje sou plugada nesse processo seja de qual arte for.
Um dia pisei nas areias umedecidas por outro oceano, o Pacífico. Claras e silenciosas águas faziam um bordado no chão. O mar usava um vestido de noiva azul, com um véu de rendas se estendendo até mim.
Eis que amanhece um certo dia parecendo junho. Nuvens escuras enfeitam o céu que o sol tímido teima em aparecer, a terra e as plantas molhadas e a água empoçada pelos desníveis das ruas denunciam o desaguar noturno. Cajus e mangas feitos luzes ornamentam árvores pelos matos e casas, e os jambeiros dão o tom arroxeado ao chão de muitos terreiros e calçadas de moradas. Sinais natalinos de novembros e dezembros por estas terras abaixo do Equador. E feito loop temporal desembarcamos em outros tempos juninos, novembrinos e dezembrinos.
A esquadra inglesa comandada por sir Sidney Smith apareceu no porto de Lisboa no dia 16 de novembro de 1807 com uma força de sete mil homens. A intenção era levar a Família Real portuguesa ao Brasil, protegendo-a durante esse trajeto de um provável ataque das tropas napoleônicas. Napoleão havia declarado guerra à Inglaterra e pressionara Portugal a se declarar a favor da França.
São conhecidos os fortes laços que unem Gilberto Freyre à Paraíba. Não vou, portanto, trazer novidade para o leitor. Mas isso não deve ser impedimento para revisitarmos o tema, nem que seja para, neste particular, exercitarmos um justificado orgulho de uma paraibanidade que, em outros aspectos mais recentes, tem deixado a desejar.
Creio ser justo afirmar que, de todos os estados nordestinos, a Paraíba foi o mais próximo do grande pernambucano. É possível que a proximidade geográfica tenha facilitado essa aproximação, mas lembremos, por exemplo, que Freyre não se ligou tanto aos seus vizinhos ao sul, os alagoanos, igualmente próximos do ponto de vista físico. Mas vamos aos fatos.
O episódio nº 14 da Pauta Cultural entra no ar na ALCR TV com atualidades do mundo cultural participação dos autores leitores e telespectadores do Ambiente de Leitura Carlos Romero.
A violência à mulher é, sem qualquer dúvida, consequência do machismo que ainda perdura na nossa sociedade. Continua na cabeça de muitos homens a ideia de que a mulher é sexo frágil e que podem fazer dela sua propriedade. Consideram-se em nível de superioridade e não aceitam facilmente a independência que elas vêm conquistando ao longo do tempo. As marcas do ciúme e do preconceito são promotoras dos atos de violência, sejam verbais, ou físicas, praticados contra elas.
Os frutos sedosos vinham carregados na cesta de vime. O portão de nossa casa rangia. Ela vencia cada degrau com sacrifício: os joanetes a forçá-la em cuidados, as pernas trôpegas. Mamãe acolhia a vizinha da frente, a do bangalô elegante. O sorriso sonoro de d. Ernestina, a alegria em presentear-nos com os abacates cultivados no quintal de sua moradia.
Casada com seu Carlos, trabalhava ela nos “Correios e Telégrafos”, quando estes demoravam instalados no lindo prédio da praça Pedro Américo. Uma mulher simples, cativante, liberta. Sentada no terraço, o rádio de pilha sobre o avental, escutando o rádio transistor. Nunca tivera filhos. O marido já aposentado, vestindo um paletó invariável, fechado, caladão, somente de cumprimentos rápidos. E protegendo a careca com um ramenzoni bem cuidado que o portador não deixava quieto, sempre se descobrindo e cobrindo a cabeça. Um tique que se lhe incluía na personalidade enigmática.
Mas, voltemos aos abacates: amassados e peneirados eram a delícia do pós-almoço. As crianças apostávamos: aquele que terminasse de consumir por último a pasta verde depositada num prato de ágata seria o vencedor. Cada qual que se contivesse, porque o paladar exigia fortemente. Era um divertimento. As tias reclamavam de nossas brincadeiras ingênuas. E nós medindo cada colherada. Muitas vezes, eu não tinha paciência e raspava o prato, mesmo que fosse alvo de chacota.
D. Ernestina simbolizava a amiga sem subterfúgios, sincera, pronta e solidária. Foi madrinha de crisma de uma prima minha, Vitória, já falecida, o que confirmou o entrelaçamento afetivo entre nós. Contava histórias interessantes, abria sua vida privada, em desabafos de confiança. Nem uma rusga, nem um sinal de desavença houve entre nós. No dia em que anunciou sua saída da rua, por motivos particulares, ficamos transtornados, querendo retê-la e quase sem acreditarmos.
Lamentei a mudança de d. Ernestina. Pensei nos abacates sedosos que ela nos trazia com tanta satisfação.
Thomas Edison não era considerado um cientista. Na Matemática, o engenhoso inventor norte-americano somente dominava as quatro operações da aritmética. Também não tinha proficiência nos fundamentos da Física. Apesar dessas aparentes deficiências, Edison possuía uma extraordinária capacidade de observação que lhe permitia aperfeiçoar ideias, suas e dos outros, dando-lhes aplicação prática. Em seu laboratório de Melon Park, em Nova Jersey, ele comandava um grupo de habilidosos técnicos em vários ofícios. De lá saíram mais de duas mil patentes de engenhocas diversas, muitas delas incorporadas, até hoje, ao nosso cotidiano.
Deu em A União, em reportagem de Francisco José, ter desabado parte da cobertura do mercado público de Campina Grande, agravando os problemas de acessibilidade, segurança e infraestrutura. No dia seguinte, no mesmo jornal, Laura Luna vem com a mudança do Ponto de Cem Réis em feira de frutas, verduras, eletrônicos, panos de prato, açaí, brinquedos e o mais que coube.
João Guimarães Rosa, para além de grande obra que produziu, soube como ninguém criar ditos, alguns tornados aforismos, dignos de serem reproduzidos em qualquer roda erudita, sem perder, contudo, o sabor popular de um saber que atinge as pessoas na medula, não importando a classe social ou o grau de escolaridade. Um deles, de que mais gosto, encontra-se em "O burrinho pedrês", de "Sagarana": "quem é visto é lembrado" —, aprecio sempre dizer na negativa: