Em 2009 fui ao Teatro de Santa Isabel, no Recife, ver a estreia da ópera Dulcineia e Trancoso, do Eli-Eri Moura, libreto meu. Um ou dois dias depois, recebi ligação do cineasta Daniel Aragão, de Pernambuco, apresentando-se como diretor de casting do primeiro longa de seu conterrâneo Kleber Mendonça Filho, O Som ao Redor - em fase de pré-produção. Disse que estava filmando a ópera quando, ao me ver subir com o compositor ao palco, para agradecer os aplausos, tivera o estalo: “É o seu Francisco!”
Kleber Mendonça Filho e WJ Solha Acervo do autor
- No Som ao redor fui o produtor de casting. Levei algumas pessoas novas para esse filme, entre elas a que mais me orgulho é o W.J Solha, um grande escritor e ator paraibano que ainda não tinha um grande papel no cinema. Chamei ele na marra pra fazer o teste para O som..., já certo de que iria ser sensacional. Foi lindo o processo.
Realmente lhe dei trabalho. Tanto insistiu, porém, que lhe pedi o roteiro, certo de que não gostaria dele e o descartaria, mas o script do Kleber me pegou. Excelente. Vi que, pela primeira vez, o cinema abordava a classe média nordestina urbana, contemporânea e aceitei.
Fortunato Solha Acervo do autor
- Vai – ele respondeu - mas não vai assistir.
A história foi motivo de muito riso, quando a contei, durante as filmagens.
- Vôte!
Pois bem. Em 2012, quando se deu que o filme foi interrompido por problemas técnicos na estreia brasileira, durante o Festival de Gramado, antes que eu aparecesse em cena, ficando o avant-première adiado para o dia seguinte, enquanto vinha equipamento novo de Porto Alegre. Interpretei, rindo, que (de acordo com meu pai) aquela seria minha última noite. Mas tudo correu bem.
Perguntei-me a razão do sonho. E “acho” que a encontrei: Pouco antes, assistira ao Gladiador, do Ridley Scott, e – no livro que comprara sobre o filme – lera que o velho Oliver Reed morrera durante as filmagens, e o velho Richard Harris... logo depois.