Dizem que a paixão cega, por isso é recomendável antes de se apaixonar fazer um rigoroso exame de vista. Isso não assegura que você vá esc...

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Dizem que a paixão cega, por isso é recomendável antes de se apaixonar fazer um rigoroso exame de vista. Isso não assegura que você vá escolher a pessoa certa, mas pelo menos impede que sua decisão decorra de uma ilusão de óptica. Embora o amor seja algo que “arde sem se ver”, é bom saber em que fogueira está se metendo.

De Pedra Lavrada, no Cariri paraibano, para Moscou. Dá para imaginar? Pois é. São muitos quilômetros. E não é só a distância espacial ... ...

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De Pedra Lavrada, no Cariri paraibano, para Moscou. Dá para imaginar? Pois é. São muitos quilômetros. E não é só a distância espacial ... Mas esse foi o caminho percorrido por nosso conterrâneo Paulo Bezerra para se tornar um dos mais autorizados tradutores de Dostoiévski do Brasil, na atualidade. Caminho heroico o desse intelectual, cujo destino inicial talvez fosse ser ferreiro, profissão do pai. Mas o seu sonho era outro: o de estudar. E esse sonho, que foi e é o de tantos meninos e meninas modestos em nossa pátria pouco gentil, transformou sua vida, como costuma acontecer quando as fantasias se tornam reais.

Há um tempo para os vivos e há o tempo dos mortos. Enquanto tentamos dilatar ao máximo o ínfimo tempo da consciência, o outro — o nada...

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Há um tempo para os vivos e há o tempo dos mortos.

Enquanto tentamos dilatar ao máximo o ínfimo tempo da consciência, o outro — o nada — já se apresenta distendido a infinita e desesperadora potência.

Mas como poderíamos nos aproximar dos artifícios lançados por nossos contemporâneos para combater e distorcer esta verdade? Poderíamos partir da idéia de uma nova, e talvez transitória trindade. Não a santíssima trindade e suas implicações doutrinárias e cosmogônicas,

Repentinamente o planeta silenciou, obrigado por uma pandemia que impôs medo à humanidade. No isolamento social a que estamos obrigados vi...

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Repentinamente o planeta silenciou, obrigado por uma pandemia que impôs medo à humanidade. No isolamento social a que estamos obrigados vivenciar, passamos a questionar o que esse silêncio traz escondido na sua manifestação. A sociedade contemporânea está sendo convocada a fazer uma autoavaliação comportamental. O ser humano sendo despertado para a necessidade de olhar para si mesmo, identificando o lado “sombra” de sua personalidade. O coronavírus tem enviado mensagens que precisam ser ouvidas por todos nós. Daí a essencialidade de nos fecharmos em casa, segregados em família, para exercitarmos a reforma íntima.

Faz bem o poeta em escutar as suas vozes interiores, vozes “esquizofrênicas” * sem as quais o poema seria pautado simplesmente a partir...

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Faz bem o poeta em escutar as suas vozes interiores, vozes “esquizofrênicas”* sem as quais o poema seria pautado simplesmente a partir de breviários estéticos ou de conteúdos programáticos. Aliás, já não era sem tempo de os poetas contemporâneos mostrarem-se livres atiradores, diferentes de quando as vanguardas, já exauridas, extenuadas, imprimiam à poesia brasileira uma articulação monocórdica, um repertório cheio de tiques e de cacoetes plenamente superados por força do uso. Tanto é assim que a lírica nacional tem incorporado alguns elementos do surrealismo**,

Tempos apressados estes que estamos vivendo... Ontem, só eu e Nanego em casa, olhando para a noite, linda, majestosa, pensei “sou livre! P...

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Tempos apressados estes que estamos vivendo... Ontem, só eu e Nanego em casa, olhando para a noite, linda, majestosa, pensei “sou livre! Penso, escrevo, leio, escuto música, desenho, danço, canto...” não tem quem me tire essa força, essa integridade que sinto, como se meu corpo e minha alma fossem uma massa de bolo — totalmente integradas, prontas para crescer!

Jacob Bittencourt (ou Jacob do Bandolim como ficou conhecido), falecido em 1969, era considerado um dos maiores instrumentistas do Brasil....

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Jacob Bittencourt (ou Jacob do Bandolim como ficou conhecido), falecido em 1969, era considerado um dos maiores instrumentistas do Brasil. Nos finais de semana, Jacob promovia saraus (que ficaram famosos) na sua casa no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, nos quais participavam grandes nomes da música brasileira. No final da década de 1950, Jacob teve conhecimento (através de gravações caseiras) da excelência de um grupo de músicos do Recife

O cinema de Woody Allen representa certamente o que há de mais "genuíno" na arte cinematográfica norte-americana com sotaque nov...

O cinema de Woody Allen representa certamente o que há de mais "genuíno" na arte cinematográfica norte-americana com sotaque nova iorquino. Mas a sua relevância reside antes pela ironia que caracteriza as narrativas do que pela glamourização da vida chique dos habitantes de Manhattan.

Nós estamos na Semana Santa de 2021, e há mais de um ano vivemos uma crise múltipla na história da humanidade, que nos desestabiliza em t...

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Nós estamos na Semana Santa de 2021, e há mais de um ano vivemos uma crise múltipla na história da humanidade, que nos desestabiliza em todos os sentidos. Cenas de desespero e horrores, sentimentos de temor e incerteza ameaçam a paz, banalizam a morte, corroem a esperança, ameaçam a fé.

Muitos buscam na religião um meio de combater a inquietude do presente e fortalecer a confiança no futuro. Para os cristãos, a narrativa da Paixão de Cristo revivida em encenações da Via Sacra é um poderoso estímulo ao restabelecimento da fé. Esse precioso sentimento que tem o poder de proteger e estabelecer a necessária unidade entre corpo e espírito.

Por isso eu achei oportuno relembrar hoje o oratório Via Sacra em que um poema de Waldemar José Solha, minha música e a coreografia de Rosa Cagliani interagem cooperativamente para transmitir mais uma versão dessa história de um poder inigualável.

Estas entrevistas datam do ensaio geral do Oratório, que foi estreado na Semana Santa de 2005, na Igreja de São Francisco, em João Pessoa. Elas estimulam a memória dos processos criativos e interpretativos que moldaram a música e a cena que interpretam o poema Via Sacra, de W. J. Solha, resultando num espetáculo multimídia, sobre o qual ele se refere:

“Eu não sou religioso, mas fascinado pela grande metáfora da vida, que é a religião. Por isso pensei em culminar o texto com uma ressurreição, que seria a do ser humano se perpetuando na Terra através das gerações.”:

Isto se encontra nas últimas estrofes do cordel que é um verdadeiro canto de esperança e de fé no homem:

A noite será um pesadelo Se não se espera outro dia Se o Sol se vai de uma vez A treva é terna e agonia Por isso precisa-se tanto Disso que agora eu canto A volta da alegria A luz que o mundo regressa Confirma a nossa esperança Pense no horror da velhice Sem ter a quem dar sua herança Herança de uma unidade Que só prossegue em verdade Quando aparece a criança No fim do caminho há o homem Que se identifica com Deus Que sai da treva glorioso Assim como o Sol lá no céu Que compreende seu mundo Torna-se grande e profundo Sabe que tudo é seu Eu

Oratório "Via Sacra"

A mão rabisca contornos impróprios de um especialista. Rascunhos dos galhos, filtros do clarão, da luz com bordas amareladas que desmergul...

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A mão rabisca contornos impróprios de um especialista. Rascunhos dos galhos, filtros do clarão, da luz com bordas amareladas que desmergulha na linha horizontal da água ou dos entornos de terras distantes, das planícies ou das irregulares elevações. Desenho grafitado em preto e branco, inicialmente superficial, mas com tantos detalhes guardados que adentram aos olhos, estremecem o coração, arrepiam o corpo em saltos diante de visível belezura e mistério. Espasmos de contentamento, fragmentos de todos os tempos.

Mexo nos meus baús e encontro essa matéria que produzi, em dezembro de 2011, para a Revista "AlgoMais", do Recife. Diz respeito ...

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Mexo nos meus baús e encontro essa matéria que produzi, em dezembro de 2011, para a Revista "AlgoMais", do Recife. Diz respeito à Cruz da Menina, obra erigida em memória de Francisca, a criança morta a pauladas por uma jovem dona de casa a cujos cuidados fora entregue pelos pais, fugitivos da seca. O lugar é, atualmente, um dos mais visitados pontos de romaria do Sertão nordestino.

Alexandra caminhou sentindo os pés descalços tocarem a água espumosa que morria mansamente na praia. Antes, e isso não fazia muito tempo, ...

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Alexandra caminhou sentindo os pés descalços tocarem a água espumosa que morria mansamente na praia. Antes, e isso não fazia muito tempo, essa sensação lhe dava muito prazer. Adorava ver as ondas espocando contra as pedras, o sol caindo no horizonte e as palhoças dos pescadores.

Parte 1: Barcelona No final de 1989 o Brasil vivia a expectativa da posse do novo presidente, Fernando Collor de Melo, recentemente eleit...

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Parte 1: Barcelona


No final de 1989 o Brasil vivia a expectativa da posse do novo presidente, Fernando Collor de Melo, recentemente eleito sob o signo da mudança.

Ao longo de sua campanha ele vendeu a sua imagem resumida a “Caçador de Marajás.” Não tendo programa de governo, Collor prometia combater a corrupção e acabar com privilégios.

Eu tinha 8 anos, mal sabia ler, e já conhecia de cor a primeira parte de “O Canto do Piaga”, de Gonçalves Dias. Ainda que essa primeira pa...

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Eu tinha 8 anos, mal sabia ler, e já conhecia de cor a primeira parte de “O Canto do Piaga”, de Gonçalves Dias. Ainda que essa primeira parte tenha 24 versos, distribuídos por 6 quadras, confesso que não sou nenhum prodígio. Um prodígio saberia Gonçalves Dias de cor. O fato é que três das minhas irmãs mais velhas do que eu — eu sou o sétimo de uma família de 10 — estudaram em colégio de freiras, em Bananeiras, e uma delas mais afeita às artes cantava no coro. Foi através de minha irmã e da música, que a já citada primeira parte de “O Canto do Piaga” se alojou na minha memória.

Meus amigos, minhas amigas. Pensem numa dupla desigual! Está aqui uma: Tião Malvadeza e Cicinho. O primeiro, o Sebastião, era um homão f...

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Meus amigos, minhas amigas. Pensem numa dupla desigual! Está aqui uma: Tião Malvadeza e Cicinho.

O primeiro, o Sebastião, era um homão faltando pouco para chegar aos dois metros de altura e quase que a metade disso em largura. O que tinha de forte tinha de bravo e de ruim. Puxou uns quinze anos atrás das grades, em regime fechado, pelas malvadezas que praticou nesses buracos do mundo. Era ruim que só o diabo.
Quando esteve vendo o sol nascer quadrado, mandou pelo menos meia dúzia de desafetos falar com Deus. Aqui fora, ninguém sabe quantos despachou desta para uma melhor. Por essas “jabuticabas” de nossa justiça, ganhou liberdade e está solto esparramando terror nesse mundão de Deus.

Já Cícero, um hominho de pouca estatura, magrinho, com os bracinhos e as pernas que mais pareciam canudinhos de tomar refrigerante, era uma criatura com a índole de um passarinho. Uma bondade em pessoa. Temente a Deus e, pelo jeito, a muita gente. Fugia de encrencas, pois sabia que desavença não era sua praia. Não tinha músculos para encarar essas paradas. O jeito era ficar na dele, em paz com esse mundo e outros, se outros houvesse.

Malvadeza era grosso como papel de embrulhar prego, Cicinho era uma seda no trato com toda gente. Tião não levava desaforo para casa e cobria de sopapos o infeliz que tivesse essa ousadia. Cicinho não era assim. Pedia perdão por eventual ofensa que dele tivesse partido, assim, como perdoava a quem o tivesse ofendido; do jeitinho que pede a oração. Tião, dizem, nem batizado foi. Igreja? Só entrou uma vez para assaltar a sacristia.

Passava ao largo de qualquer templo fosse católico ou evangélico. O outro, o pequenino de quem falávamos, era casado com Claudete, mirradinha e mansa como ele. Tiveram três bacurizinos.

Mas o destino aprontou mais umas das suas e fez que essas duas criaturas de quem estamos falando, tão desiguais, viajassem juntas no mesmo trem da Mogiana. Isso, estou dizendo, aconteceu lá de priscas eras, quando viajar de trem era sinônimo de conforto e segurança.

Cicinho embarcou em Rifaina. Vivia ali, naquela cidadezinha acanhada à beira da represa. Antes de embarcar, numa birosca daquela gare, reforçou o estômago com pastel, quibe e empada de palmito. Esse reforço iria segurar o apetite até Campinas, seu destino final. Foi de segunda classe, grudado na janela apreciando a paisagem. Era pé de café e de cana a não poder mais. Lá ia ele embalado pelo balanço gostoso do trem pensando em Claudete e nos bacuris. Quase adormeceu. Ia pegar no sono não fosse o trem parar na estação de Franca. E trem quando para faz barulho. Quem entra no trem? Quem? Adivinhem! Isso mesmo, Tião Malvadeza.

Entrou cheio das vontades. Viu lugar vazio ao lado do nosso hominho e se encheu de banca. – Chega mais pra lá, criatura. Só vou descer em Ribeirão. – nem deu bom dia e já foi chamando o pobre de “criatura”.

Pois não, senhor – respondeu a criatura resignada e obediente.

Malvadeza não disse mais uma só palavra, foi se esparramando no assento, prensando Cicinho junto da janela. Este ficou quietinho conforme mandavam sua índole e sua coragem.

Passado um tempinho, o trem partiu. Próxima parada? Ribeirão Preto. Ia ter que suportar o incômodo até lá. Cicinho ainda conseguiu dar uma viradinha de lado e deu uma medida no tamanho do homão, quando viu o cabo de uma garrucha no cinto do valentão. Cicartiz no rosto, garrucha no cinto, só podia ser o tal de Malvadeza que vivia aterrorizando a região. Sim era ele, conjecturou nosso amiguinho.

Malvadeza adormeceu ligeiro, foi então que Cicinho notou que na redondeza os olhares se dirigiam para onde esta sentado. Olhares ansiosos, medrosos. Também pudera, tinham identificado Malvadeza que já puxava seu ronco em sono pesado.

Cicinho teve todo o medo do mundo. Começou a passar mal. Lá em suas entranhas o quibe começou a arengar com a empada, essa por sua vez brigou com o pastel. Não se entendiam. Foi então que o estômago resolveu botar essa trinca para fora e fez Cicinho devolver aquela gororoba justamente no colo de Malvadeza. Só teve tempo de ouvir o passageiro do banco da frente dizer:

– Malvadeza, quando acordar, vai espetar o magrinho! – mas o ogro nem ouviu, nem acordou E lá ia o trem. O pessoal do entorno na expectativa, vira e mexe olhavam para o coitadinho, antevendo a desgraça. Mas ninguém sabia de uma coisa: Cicinho era um danado de esperto.

O trem foi chegando em Ribeirão Preto e Malvadeza despertou. Viu aquela massa nojenta no seu colo e olhou com sua cara de bravo para Cicinho. Este tirou um lencinho do bolso, ofereceu o paninho para Malvadeza e perguntou com a voz mais meiga do mundo:

– O senhor melhorou?

De repente me vejo passando pela calçada de chão batido do pequeno chalé do antigo Centro Espírita, em Jaguaribe, o vermelho das papoulas ...

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De repente me vejo passando pela calçada de chão batido do pequeno chalé do antigo Centro Espírita, em Jaguaribe, o vermelho das papoulas cheias rivalizando seu brilho com os ramos amarelos das rainhas do prado derramadas no muro vizinho de Hermano José. E Hermano José sentado de través no vão da sua janela.