Vinte e cinco anos antes de morrer, Beethoven escreveu um pungente testamento. Um retrato de sua existência assinalada por sofrimentos ...
O testamento de Beethoven
Charles Estarréte, na gostosa pronúncia do interior. Mas também podem chamá-lo de Durango Kid. Naqueles finais da década de 1950, os pés d...
Durango Kid
A Fundação Joaquim Nabuco está se associando aos 80 anos que a nossa Academia de Letras comemora, este ano, precisamente no 14 de setembro...
A última ou a mais nova
Autorretrato De superfície… Jamais! Detesto coisas rasas. Atiro facas, quebro correntes Deságuo rios de palavras crua...
Moldada em maresia
De superfície… Jamais! Detesto coisas rasas. Atiro facas, quebro correntes Deságuo rios de palavras cruas, reviro os céus. Nem os anjos me acodem em tais momentos Minha sede pede mais que um copo d’água. Nada me marca com um simples arranhão Vou ao fundo do fundo.
Ele sai à noite, pelas ruas adormecidas ao encontro de passados abandonados, na tentativa de construir seu futuro. E no momento do desen...
Marcas doloridas da realidade noturna
E no momento do desencontro entre dia e noite, acha, acolhe e recolhe, o quê para uns já não tem serventia.
Sapatos que não andavam mais, aliviarão seus calos.
A poesia de Augusto dos Anjos tem sido objeto de múltiplas avaliações. A riqueza imagística, a erudição inesgotável e a profundidade psico...
Augusto dos Anjos e a hipótese da reencarnação
Depois da safra do caju, no rastro das primeiras chuvas do ano, nossos olhares estavam direcionados às jabuticabeiras existentes no sítio....
Jabuticabeiras de Serraria
Em verdade, os tons de harmonia e tranquilidade da paisagem apolínea cultivada desde a Grécia clássica, atualizados hoje, no cinema, seduz...
As máscaras de Apolo e as exposições dionisíacas
Quem afirma é Rosa Freire D’Aguiar, viúva de Celso Furtado, no prefácio do livro Correspondência Intelectual – 1949-2004, organizado por e...
Coisas do Brasil
cinco poeminhas de chuva * (* para meus sobrinhos pequeninos joão vítor e gabriel luís ) 1 sem problemas raios e...
Pedro lava o céu
“O futuro pertence à jovem guarda, porque a velha está ultrapassada”. A essa frase de Lênin se atribui o motivo do nome dado ao movimento...
A Jovem Guarda
"Se nossas vidas são dominadas pela busca da felicidade, talvez poucas atividades revelem tanto a respeito da dinâmica desse anseio ...
A aventura de viajar no século XX
Alain de Botton, A Arte de Viajar
Lembrei de quando fui a primeira vez à Europa, em 1975, para estudar Inglês em Londres. Depois de um mês, fui viajar por Paris, Estrasburgo, Zurique, Berna, Lucerna, Roma, Florença, Barcelona e Lisboa. Tudo isso em dois meses de voos, trens, ônibus e sonhos. Como não tínhamos roteiro pré-estabelecido (somente uma passagem aérea bem grossa em papel, travels cheques e um passaporte não válido para Cuba!), tudo era pelo mapa da intuição ou conhecimento prévio de jovens curiosos.
Não possuíamos o savoir faire de viajar, mas na precariedade da experiência, tínhamos muitas malas. Não resisti aos mercados londrinos e me enchi de túnicas indianas de espelhinhos! O companheiro de viagem, de livros de arte e pincéis e tintas e papel couché. Aprendi aí que, não se pode andar com tantas malas! Deixávamos essas benditas no aeroporto e numa malinha fazíamos as mudas para aqueles 5/6 dias nos lugares. Era inverno, então imaginem nesses tempos a aventura o que era vestir pullovers emprestados das primas, casacos que nem sempre estavam na moda, e gorros ridículos! Mas, o conforto era preciso.
Por conta dessa “operação aeroporto”, sempre chegávamos horas antes dos voos para poder trocar as mudas de roupa suja com as limpas. Sim , lavamos roupa na pia do hotel, com sabão de coco que minha mãe cuidadosamente me indicava. Uma vez, queimei um suéter lindo emprestado porque tinha colocado-o para secar no aquecedor do quarto. Cada uma! Pela falta de dinheiro, sempre escolhíamos a hora dos voos em hora de almoço ou jantar... filar a bóia era preciso. Nos voos da Panair!
Viajar era para os fortes, e a vida toda os governos dificultavam a vida. Nessa viagem mesmo, existia uma lei que nos obrigava a depositar 12.000 Cruzeiros por um ano no banco. E depois disso, com a inflação galopante, perdíamos tudo.
As quantias eram parcas e por isso em Paris, era Crepe Suzette sempre com uma taça de vinho, nada de água ou café… Numa noite extravagante – um prato de frutos do mar com os mariscos saltitantes e uma taça de vinho branco. Éramos pobres e sabíamos!
Chegávamos na cidade, íamos à estação de ônibus (porque era onde havia hotéis mais baratos), fazíamos check-in, e, depois de ter o mapa da cidade, escolhíamos os locais de visita e imaginávamos quantos dias seriam suficientes para aquele programa. Aí vinha a operação mais complicada. Fazer as contas de quanto dinheiro iríamos precisar. Em tempos de Libra, Franco Francês, Suiço, Lira, Pesos e Escudos, tínhamos que entender de câmbio para não trocar demais nem de menos, ainda mais com as moedas – gastávamos as restantes no aeroporto, com chocolate, sempre com prejuízo daquelas que teimavam em não comprar nada e viravam souvenir nas gavetas.
O dinheiro era curtíssimo, e comíamos na maioria das vezes nas estações de trem. Lembro que, em Zurique, falávamos bóia dos ferroviários, um PF barato e bom. Só não usávamos os macacões. E quando passeávamos nas Strasses, a contemplar os Trams, a distinção de classe era gritante. Aquele povo chique de casacos de peles, e nós com nossas roupinhas caseiras e disformes. Mas o desejo de conhecer o mundo era tanto, que tudo parecia pouco diante da felicidade de jogar moedas na Fontana de Trevi, sentar nos Boulevards de Paris, ou saborear um éclair pelas ruelas medievais de Estrasburgo. Virávamos os lugares pelo avesso. Museus, praças, livrarias, Mercados das Pulgas (para enlouquecer), um crepe ali, uma taça acolá, uma sopa de cebola, uma oração na Catedral Westminster, um assobio em Roma, um beijo na ponte de Florença. Tudo me dilatava a pupila. Com ou sem moeda local!
Sem mapa, nem planejamento prévio, nos lançávamos no abismo do desconhecido. Na Suiça, subimos até Greendwald, nos Alpes, e por estar vestidos inadequadamente, ficamos cegos diante da luminosidade da neve; não tínhamos conhecimento cultural daquelas cidades e por vezes descartávamos programas importantes; fiquei boquiaberta diante de uma paisagem de inverno em Interlaken – Montanhas nevadas, lagos e pinheiros iguais aos calendários que mamãe pendurava na cozinha.
Em Berna, me senti um brinquedo de filme de Pinóquio; em Lisboa fui ao cabeleireiro e fiz um permanente; em Roma comprei um óculos para me parecer com Sophia Loren ; em Londres um casaco jeans comprido que me dava um ar grunge e alternativo. Nada de Galeria Lafayette; nada de marcas; nada de make up; nada de nada. Quando entrei na Harrod’s em Londres, senti-me amiga da Rainha! E saí por aquelas portas giratórias imaginando uma vida de princesa. Mas a minha terminava logo ali.
Na Ponte de Waterloo, eu olhava para a Torre de Londres e pensava em Ana Bolena. Minhas aulas de História do Lyceu de Tambiá! E de scone em scone eu seguia pelo mundo, sem lenço, sem documento, e sem nenhuma organização maior para me lançar nos espaços alhures e, quem sabe, intuir o tamanho desse mundo.
Entrei em muitas roubadas viajando no século passado. E também em estórias pitorescas: encontrei Paul & Linda McCartney nas calçadas de Bristol; dormi num quarto comunitário para caixeiros viajantes em Cuzco-Peru; meu ônibus engalhou numa ribanceira em Chichicastenango na Guatemala, e entrei em pânico achando que iria cair das alturas: avistei um ciclone por essas mesmas estradas; tomei vinho Alsaciano em Colmar; peguei metrôs de madrugada em Londres para buscar cunhado (Sérgio Tavares) na estação de Vitória Station, e tive medo de encontrar Jack, o estripador; subi as colinas em Pisa-Peru, e andei de carona na boleia de caminhão junto às Cholitas e aquele francês lindo com um chapéu mais lindo ainda; passei um ano novo nos Alpes Suiços (Goretti & Alain Antille), tomando quentão com pão feito pelos esquiadores que, com suas tochas, anunciavam o ano gelado! Comi marmota, um bichinho peludo que tem pele luxuosa para casacos; dancei muito nas noites Londrinas nos clubbers dos anos 70 e tantas coisitas...; fiquei muda no Sena e diante do Arco do Triunfo; Place de Vosges! Os vitrais da Catedral de Chartres; as rezas das mesquitas em Istambul; o Mar Egeu das Ilhas Gregas e meu topless of my own em Mikonos – Zorba era eu! Com Moussaka e Tzazique na mesa e octopus grelhado; meu espanto nas águas do Bósphorus; minha loucura no Grand Bazaar e todas as granadas e véus – meu saruel de florzinhas! Meu passeio de burro pelas ladeirinhas abissais da Ilha de Ios, Santorini! E suas ruelas brancas e igrejinhas azuis; as cerâmicas eróticas que compramos no México – Puebla, Antígua, pirâmides e um certo anel de ônix e Lápis-lazúli.
A minha bagagem gigante sempre vinha abarrotada de cartões, mapas, souvenirs de tickets e outras lembranças das casas de escritores, quadros famosos, ou música flamenca! Um vidrinho de curry, um chá breakfast , uma matrioska de Praga e o desejo de voltar em tantas cidades divinas e maravilhosas. Cidades que eu não tinha mapa nem direção, somente o olhar, o sentir, o perder pelas ruelas de Veneza e avistar uma gôndola acolá. Anônima Veneziana eu era!
Hoje, quando vejo as viagens, excursões e tantos planejamentos, fico a lembrar, até com uma certa nostalgia, o acaso que era se lançar no mundo. Ficar sem notícias de casa, dos medos de que alguém morresse na minha ausência (e morreram muitos!), do olhar arregalado do meu pai vendo aquela menina que gostava dos países, das línguas e do des-conhecido para além de Goiana.
Ao término da conversa com meus sobrinhos Raphael, Bartyra e Samuel, fiquei viajando nas minhas memórias viajantes. Tantas!
A visita noturna, indesejada, inoportuna e impostora, porém, infalível. Ao penetrar a madrugada, ela desperta e bate à porta, esmurra a ja...
Insônia
O leite era escasso. O que remiu o lactente de 87 anos atrás foi a cabra preta de seu Emídio, morador com casa um pouco acima da várzea de...
O leite era escasso
Meu amigo Germano, nesse pouco tempo em que nos conhecemos, constatei que temos algumas coisas em comum. Uma delas é o amor pelas viagens....
Carta a Germano Romero
A Doutrina Espírita, ou Espiritismo, ensina que Jesus é o Espírito mais perfeito que Deus enviou à Terra, o Messias ou Mensageiro divino,...