Walter Carvalho
Eu não persigo a beleza, ela tem que aparecer junto comigo. Walter Carvalho Um dia fui assistir a uma palestra do cineasta Walter L...
Luz, câmera, emoção!
Walter Carvalho
“Vox Populi, Vox Dei” é uma expressão latina que pretende dizer que “a voz do povo é a voz de Deus”. Tenho muita dificuldade em aceitar is...
A voz do povo não é a voz de Deus
Eneias deve deixar Troia. Os Argivos invadiram a cidade, estão matando seus habitantes e destruindo-a. Heitor lhe aparece em sonho e lhe d...
Virgílio e Bernini: a fuga de Eneias
Ele adoeceu, recolheu-se por meses e não o visitei. Achei melhor assim. Nascemos no mesmo ano e a dois meses da data completa. Curtíamos e...
Juarez Farias
A Maíra, Iam, Tao e Jade. Ravi, Maya, Ben e Joaquim. Flores do meu jardim. Andrea, Fidoca, Ítalo e Aline.
O pequeno mundo de Ravi
Logo depois de O SOM AO REDOR, ainda em 2010, fui convidado a trabalhar como ator em ERA UMA VEZ EU, VERÕNICA, do Marcelo Gomes – célebre...
O mundo é pequeno
A vida tem me feito refletir, pensar, sentir, lembrar. Voltando no tempo, lembro-me do café da manhã de 27 de janeiro de 1996 aqui na P...
Criando união
Pessoas correndo de um lado pro outro, espelhos pendurados nos diferentes cômodos da casa, crianças de todos os tamanhos correndo agitadas, enfeitadas, canecas de café com leite em meio aos pedaços de tule que sobraram dos enfeites, fitas, panos. Uns comendo, outros se penteando, se vestindo, uma mistura de cheiros na ar.
Eles formam a dupla de compositores de maior sucesso da nossa música popular. Desnecessário dizer que se trata de Roberto e Erasmo Carlos....
Um velho e renitente roqueiro
É da Professora Beatriz Jaguaribe a tese segundo a qual "a literatura e outras artes retomaram o realismo estético, ou ‘o choque do r...
Adalberto Barreto e a Invenção da Verdade
Há 25 anos, interessados em registrar a atividade na Imprensa da Paraíba, os jornalistas Jorge Rezende e Nara Valusca publicaram o livro ...
E agora, 25 anos depois?
Ando dedicada a ofício novo: uma apreciação muito exata das coisas mínimas e um artesanato do meu cotidiano. Cada detalhe da minha vida de...
A poesia das coisas mínimas
Existem as pessoas que não sabem arrumar o quarto, existem as que não organizam os horários e existem as que não conseguem engavetar, orga...
Aos que dançam na chuva
Estes geralmente são avessos a ordens, normas e protocolos. Vagam contemplando coisas que quase ninguém vê. Enxergam uma “flor no lixo”, ou “que o fim da tarde é lilás”, ou “o avesso do avesso do avesso”.
A página aberta num branco em formato ofício que já não é mais palpável como em tempos idos, assim como a caneta que rabiscaria palavras...
Escritos perdidos
Abri as torneiras e deixei a água correr ao piano de Brigitte Engerer. A banheira era um luxo que nunca desfrutei em minha vida e era a pr...
Eu e o espelho
É um hábito do menor esforço sair deixando em cada livro da estante o papel ou documento que, na pressa, nunca atino onde guardar. Às vez...
Onde escondi Drummond?
Estar recluso numa UTI, e espreitar o entorno, a quem quer que seja é sentir-se incomodado como se estivesse numa ante-sala da morte. A...
Percepções sobre céu e inferno: transcendência em UTI
No sombrio tempo contemporâneo impera o sentimento de que a morte está à espreita e nos impõe a dura transcendência de que esta virá impetuosa, sem pedir licença. O tempo de viver, apenas, se reparte entre um abrir e fechar de olhos. Estranhamente, dilacerante é conviver com o sentimento de que um dia a mais, é sempre um dia a menos.
De repente, o prazer de todos os dias, de abrir os olhos que sorriem para a vida que em segundos, pode não mais ser perene. O dia surge radiante e cálido, e ao nosso mirar está a natureza que viceja compartilhando com a alegria dos viventes. Subitamente, o que seria mais um dia de celebração, me atingiu um ritmo cardíaco declinante dando às claras sensações de desaceleração e de inesperado declínio. As aurículas e ventrículos tão preciosos dão sinais imprecisos e convulsos, anunciando que a distância e o tempo nos aproximam e sinalizam que a morte ronda. Passo a viver uma mise en scène, e protagonizar um grave enredo ao mais comum dos mortais: simplesmente morrer.
E, celeremente, percebi que os meus batimentos, que tanto na minha vida se exultaram com belas e intrépidas emoções, em muitos anos, já não eram os mesmos. O coração vacilante não creditava mais ao cérebro, e a todos os órgãos, a energia e a eletricidade vital. O corpo demonstrava passos cambaleantes, a respiração ofegante, e a oxigenação dos pulmões se revelava precária. Os batimentos cardíacos se refletiam de modo grave em ritmo declinante e destemperado, o que sinalizava um estado de torpor arrítmico comandado por um bloqueio total que poderia estar anunciando a proximidade de uma morte súbita.
Médicos experientes me vociferaram: busque socorro! Olhei em paz ao meu lado, e fui acudido por um filho querido, também chamado de Francisco, que pelas mãos divinas estava ali numa grave hora. Acomoda-me num bólido, e infringindo todas as cautelas do trânsito, num ritmo alucinante, percorre 150 kms e calmamente diz – “Vamos, Pai.” E num piscar de olhos chegamos ao hospital.
Celeremente, me desembarcam numa UTI, diante da insistência de desatinados batimentos que já não ultrapassavam um percentual mínimo. O coração iria me decretar morte súbita.
Com o olhar vago, vejo uma UTI e seu sinistro ambiente. Tudo o que ninguém deseja. E de pronto, a aleatoriedade. De modo involuntário vão surgindo inconsistentes divagações e pensamentos. Não havia desespero. Sabia que tinha uma caminhada difícil, e, tinha a certeza de que diante das minhas orações obteria a benevolência divina.
Tive a felicidade de acalmar os meus filhos na porta da UTI. Dediquei-lhes o meu sorriso e os meus gestos de paz como um sinal de que eles me esperassem. Não iria demorar. Tinha certeza que o meu coração não iria ser indelicado com eles, e menos ainda comigo. Logo ele, que tanto havia dividido comigo mais momentos de felicidade do que de amargura. Havíamos de continuar juntos.
A Covid, tempos antes me atingira. Passou célere. E eu alegremente a observei dobrando a esquina. Pressentia desde que me enfurnei na UTI, e acreditei, mesmo vendo o lado soturno e desalentador daquele ambiente quase funesto, que iria mais uma vez ter um sursis divino que me restituiria a doçura da vida. Assim o foi.
Ninguém entra numa UTI impunemente, há sempre um preço a pagar. Hoje, apenas um mês depois, tenho a mais absoluta convicção do drama que significou para as 460.000 mil vítimas que vivenciaram o término de suas vidas cercados de desespero e dos sons aterradores do sofrimento. Um ambiente onde ressoavam gemidos e aterrissava a morte.
O pesadelo passou. E com coração novamente forte, tributário da cirurgia, solfejando alegremente num diapasão que o continuará sintonizado com a minha doçura de viver. Com clara percepção, sei hoje o que significa ir ao inferno e ressurgir em paz rumo ao céu da vida em paz. Longe, muito longe da mescalina de Huxley, me distanciei do mundo, viajei e vi quase tudo.
Cumpre-me agradecer aos que me propiciaram a alegria de me sentir redivivo.
Aos meus filhos, pelo afeto, em especial Francisco, que, competente e arrebatado, me conduziu ao hospital como um distinto Samaritano, iluminado pelo espírito franciscano da extremada e virtuosa amiga médica, Dra. Maria de Lourdes Lopes. Igualmente aos médicos Marco Antônio Barros, ao competente cirurgião André Avelino de Queiroga, e aos uteístas que me acudiram nos meus dias e incontáveis horas, meus distinguidos agradecimentos e homenagens.