Como um rio Escrevo, quase sempre no arrastar dos dias, medindo a temperatura dos meus sentimentos. Mas também como um rio em busca do m...

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Como um rio

Escrevo, quase sempre no arrastar dos dias, medindo a temperatura dos meus sentimentos. Mas também como um rio em busca do mar. Estado que me dá a chave do tempo. Com ela, posso movê-lo ao meu bel-prazer e até aprisioná-lo. Meus olhos, mesmo fechados, se converteram em lentes poderosas.

Se soubesses... Tudo tão contraditório em mim! Quero apossar-me de todas as paisagens e passagens, com suas cores, marcas, perfumes, e ao mesmo tempo desejo adormecer, até mesmo anestesiar-me, algumas vezes. Cansaço!

Na adolescência habitamos a mesma paisagem e fomos alimentados pela garapa da cana caiana e pisamos no barro que ficou pregado nos pés...

Na adolescência habitamos a mesma paisagem e fomos alimentados pela garapa da cana caiana e pisamos no barro que ficou pregado nos pés. Ramalho Leite e eu carregamos a sina de ter nascido na terra onde exala poesia e brotam sinais de bonança em cada córrego e capoeira. Entre Borborema e Bananeiras, Ramalho construiu vitórias antes de exibir o estandarte da imortalidade. No aceiro da paisagem das duas cidades encontra-se Serraria, com belas palmeiras que acenam do cocuruto das serras, impulsionando-nos a não desistir mesmo que os caminhos sejam enviesados.

Li há algum tempo uma pesquisa sobre a palavra mais bonita da língua portuguesa. Muitos levaram em conta apen...

Li há algum tempo uma pesquisa sobre a palavra mais bonita da língua portuguesa. Muitos levaram em conta apenas o conteúdo e responderam “amor”, “ética”, “democracia”, “credibilidade” e semelhantes. Essas são palavras nobres, não há dúvida, pois veiculam elevados conceitos ou sentimentos. Mas os responsáveis pela pesquisa estavam mais interessados na forma. Queriam saber das palavras como organismos sonoros ou mesmo visuais. Palavras que tinham uma beleza em si.

Poderíamos chamá-la de lutadora ou de guerreira e estaria muito bem, apesar do clichê. Ela foi (é) tudo isso e muito mais. Uma vencedora, ...

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Poderíamos chamá-la de lutadora ou de guerreira e estaria muito bem, apesar do clichê. Ela foi (é) tudo isso e muito mais. Uma vencedora, por exemplo. Mas vamos chamá-la de brasileira, simplesmente, porque aí estará tudo incluído, acertos e erros, principalmente os primeiros, que errar é humano e ninguém é santo. Estou falando de Elza Soares, a cantora que, nonagenária (91 anos), nos deixou há poucos dias e teve sua extraordinária trajetória contada pelo jornalista Zeca Camargo no livro “Elza”, da Editora Leya.

Paraíba, 23 de janeiro de 2022 A Pauta Cultural do Ambiente de Leitura Carlos Romero chega ao Episódio nº 25 em novo formato — ALCR Revi...

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Paraíba, 23 de janeiro de 2022

A Pauta Cultural do Ambiente de Leitura Carlos Romero chega ao Episódio nº 25 em novo formato — ALCR Revista — que a partir desta semana dará sequência ao registro de eventos, atualidades e participação de seus autores e leitores.


Certas coisas “calam” a alma, e uma desesperança preenche, subitamente, o espaço que recriamos, dia -a -dia, para existir. Após assistir ...

Certas coisas “calam” a alma, e uma desesperança preenche, subitamente, o espaço que recriamos, dia -a -dia, para existir. Após assistir a um vídeo que me foi encaminhado pela professora e ambientalista Renata Bonfim, já fiquei assustado. Aquilo que eu remoía, previa, sentia, se configurou verdade. O abismo humano, aquele que antecede a erosão objetiva da terra devastada, se estendeu pelas encostas de Domingos Martins. Hoje passei pelo local do registro das primeiras imagens do desmatamento. É muito maior do que as imagens mostram, e olha que as fotos e o vídeo retratam, de forma clara e objetiva, a tragédia ecológica. Mas as imagens não foram capazes de traçar os limites precisos da desolação que me atingiu. Pois não tem limite o homem com sua vulgaridade e torpeza. Derruba-se aqui, ali, e seu entorno. E o limite é a morte. A busca da felicidade, do paraíso terrestre, da fuga da Covid nos grandes centros… A falta de incentivo para a preservação, o parcelamento dos terrenos familiares e necessidade de capitalização… Eis alguns dos argumentos. E o meio ambiente? A flora, a fauna, a água, o clima…. E a certeza de que haverá vida e a beleza será preservada apesar de nós? O que somos? Assistimos e comentamos? O que fazemos? Passamos no Mundo. Mas o que deixamos? Sejamos responsáveis e nos unamos para impedir, protestar e combater o que está ocorrendo no município de Domingos Martins e demais municípios da serra do Espirito Santo ... do Brasil, pois a Mata Atlântica é frágil e depende de todos nós.


GRITOS PELO VERDE

Não interrompa o cotidiano das serpentes, elas não buscam nos homens o seu veneno.


 
 

 
Verdes Versos I
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.
Kioto
A redoma estilhaçada faz frágil o ser antropocêntrico. A névoa, agora, é cinza de morte. A hora se apresenta túrgida de desassossego. O suor que nasce e evapora do febril pensante é quente, como no Holocausto de ontem. A vidraça, o vapor, a névoa, sobretudo o calor, fundem o metal encantado de Wall Street, em pleno Sol de meio-dia. É o céu um espelho partido, forjado por todos os alquimistas que acenderam o fogo da ambição. O girassol torporoso, refugia-se entre as pétalas que não tombaram ao orvalho ácido do alvorecer. Ele é incapaz de encarar a verdade deste Sol. O que dizer dos seres ignotos que se admiram nos espelhos das nuvens... Onde está a cuspideira, para que eu possa comemorar a soberba humana? Homem, mosaico de fluidos, senhor dos pensamentos dúbios e incoerentes, não tardes esperando que tua racionalidade te dê o norte. Ouve os ociosos que, perdidos entre estrelas, anteveem o simples fim. A rosa oriental que nasceu aos pés do cogumelo de poeira, já era rubra, ao brotar. Hoje, ganhou um toque tropical, está mais encarnada, herança diária dos inocentes exangues, que teimam em nascer, à margem do mundo globalizado. Os seres débeis já se esvaem na fumaça que escreve números em todo o céu. E o principal protagonista não lê os escritos das ondas, que, insistentes, desistiram de lavar as areias e passaram a deixar os seus escritos, nas memórias de uma geração.
Verdes Versos II
Nada menos humano, menos carnal que o verde. Pútrida carne verde dos abandonados em valas. O que é verde o corpo despreza. Catarro, pus, vômica sinônimos de morte. A pele que ainda respira quando verde agoniza. De verde apenas os seres de nosso pobre imaginário. Nada mais vida, mais sentimento que o verde.
Morte verde
Gostaria de que o final do ciclo dos sóis visíveis me encontrasse bestando a apreciar bromélias.
Pensamento
A transparência dos fatos macula-se com a palavra. Como se a busca pelo caos fosse brindada com louvor e êxtase.
Entropia
Em algum momento, antes do fim absoluto, o homem enfim olhará suas mãos sujas com a poeira do caos.
Vegetariano
“O esquecimento jamais devolve seus reféns” Fabrício Carpinejar Somos formigas demais para o verde que resta. A escada de Tistu já não existe mais, perdeu-se no fogo verde. Ele, felizmente, está salvo, é um anjo... Legou-nos a metáfora de seu toque, mas nessa fila de ir e vir só a pele interpreta e julga o que o olhar não entende. Somos deuses demais para o verde que resta. Pode chorar ingazeira, pois não se volta do esquecimento. O tropel segue polvilhando cinzas sobre o cobre do entardecer, e a consciência não segue os passos de seus atos. Afinal, criamos Deus à nossa imagem, temos a chave da vida. Somos dementes demais para o verde que resta.
Apocalipse verde
O mar afoga as colinas onde até anteontem os passos deixavam [ marcas de certezas. Os três ou quatro versos que eu deixei voltaram ao sal. Já não restam vogais, somente rastros na rocha dos tempos. Rezar não adianta; na cruz – poleiro dos derradeiros papagaios –, os musgos viçosos sobrevivem. O VERBO partiu e levou consigo o pecado. O mundo suspira aliviado o retorno à solidão.
O verde psicografado
Certa vez, psicografei um beija-flor morto na morna manhã da sensatez. Ele me confirmou que a turba renovará o erro de sempre. – O desespero do luar está em teus olhos, disse-me ele. Diz-me, rapaz, és capaz de ver quantas perspectivas na falsa inércia de um tronco?... Acreditas mesmo que um coração pode ser o centro do Universo?...
Poema à morte da ingazeira
Morre de pé o verde, até que a inexorável gravidade trace seu rumo definitivo: partir para o esquecimento.
Hóstia verde
Vó Bela! O homem é assim: cultiva a ausência do verde, e, quando este finalmente falta, vende o que resta aos idólatras. Benditos os iconoclastas derrubadores do ídolo verde! Vó Bela! Será que chegará o dia em que tomaremos em nossas bocas uma folha verde como hóstia?
Ofertório
Certas bocas não vestem bem as palavras.

ATENÇÃO
VAMOS COMBATER O DESASTRE AMBIENTAL!
(clique aqui para assinar)

Como muitos cineastas, Steven Spielberg cresceu sonhando em ser diretor de cinema. Corriam os anos 1950 quando o então adolescente Steven ...

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Como muitos cineastas, Steven Spielberg cresceu sonhando em ser diretor de cinema. Corriam os anos 1950 quando o então adolescente Steven Allan Spielberg, um judeu ortodoxo, nerd e fã de pulp fictions (não o filme, que ainda não havia sido rodado, mas as populares revistas de antigamente) de ação e ficção científica, até arriscou fazer algumas produtoras amadoras utilizando a câmera do pai.

A revista semanal “O Cruzeiro” foi um dos maiores sucessos editoriais do Brasil. Criada, em 1928, pelo jornalista paraibano Assis Chateaub...

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A revista semanal “O Cruzeiro” foi um dos maiores sucessos editoriais do Brasil. Criada, em 1928, pelo jornalista paraibano Assis Chateaubriand (Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello, 1892-1968) alcançou, nos anos 1940, uma circulação média de 300 mil exemplares, quando a população do País era de 50 milhões de habitantes. Em 1954, a edição com o noticiário da morte de Getúlio Vargas chegou a vender cerca de 720 mil revistas. “O Cruzeiro” era o mais importante veículo do grande império de comunicação construído por Chateaubriand, que se tornou um dos brasileiros mais poderosos, ao ponto do jornalista Fernando Morais ter dado a sua biografia o título de “Chatô, o Rei do Brasil”.

Apesar de parcerias com vários compositores ligados à UFPB – José Alberto Kaplan, Ilza Nogueira , Carlos Anísio e Eli-Eri Moura – e com o...

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Apesar de parcerias com vários compositores ligados à UFPB – José Alberto Kaplan, Ilza Nogueira, Carlos Anísio e Eli-Eri Moura – e com o cineasta Marcus Vilar, do NUDOC, apesar de ter sido tema da monografia da atriz Suzy Lopes para seu bacharelado de teatro da mesma universidade e de ter o painel Homenagem a Shakespeare no auditório da reitoria, não tive formação acadêmica. Esse painel – de 1997 – e meu livro “Zé Américo foi Princeso no Trono da Monarquia”, de 84, em que penso ter demonstrado que “A Bagaceira” – teve (conscientemente ou não) influência do “Hamlet”, me remetem a uma ligação de João Batista de Brito, então do CCHLA (Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes) convidando-me para dar uma palestra sobre Shakespeare num dos aniversários de nascimento e morte do Bardo, 23 de abril.

Quando Epitácio Pessoa, jovem ministro de Campos Sales, decidiu confiar a Clóvis Bevilacqua, seu contemporâneo da Faculdade de Recife, a c...

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Quando Epitácio Pessoa, jovem ministro de Campos Sales, decidiu confiar a Clóvis Bevilacqua, seu contemporâneo da Faculdade de Recife, a codificação das nossas leis civis, Ruy Barbosa virou a fera que era de esperar do jurista de opulenta expressão da língua no pináculo do seu prestígio. “É um rasgo do coração e não da cabeça” – reagiu certamente seguido pela opinião de todo o Brasil, exceção do Ceará. E entre decorrências grandes e pequenas, réplicas e tréplicas, veio a polêmica célebre entre Ruy e o baiano Ernesto Carneiro Ribeiro.

Traduzir não é tarefa fácil. Traduzir línguas clássicas, que já não se utilizam no cotidiano, como o grego arcaico de Homero é ainda mais ...

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Traduzir não é tarefa fácil. Traduzir línguas clássicas, que já não se utilizam no cotidiano, como o grego arcaico de Homero é ainda mais complexo. A tradução per se requer paciência e conhecimento mais do que as duas línguas, a que se traduz e a que acolhe a tradução. Os pontos de partida e de chegada, portanto, devem ser conhecidos. Mas não é o bastante. É preciso que se conheça o contexto e o assunto do que se traduz. No caso de tradução de texto literário, é preciso que se conheça o autor, seu estilo e a estrutura do texto que se traduz. Além disso, precisamos ter a consciência de que não existe a tradução, mas uma tradução possível naquele momento, quando nos referimos aos clássicos.

A água escorria pela biqueira após chocar-se com força no teto e escorregar pelo leito das telhas. Era um chuveiro de alegria que deslizav...

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A água escorria pela biqueira após chocar-se com força no teto e escorregar pelo leito das telhas. Era um chuveiro de alegria que deslizava pela lateral da casa. E seguia trazendo felicidades ao encontrar o elemento terra. Aliás, presenteava-a com perfume, a fragrância terra molhada, gosto de infância.

Tem gente achando que eu sou avesso ao progresso, às modernidades. Nada disso, mas há coisas que nasceram e vão ficar do jeito que foram...

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Tem gente achando que eu sou avesso ao progresso, às modernidades. Nada disso, mas há coisas que nasceram e vão ficar do jeito que foram inventadas. Para sempre! Querem um exemplo? O limpador de para-brisas. Ou não é? O tempo passa, os modelos de carros evoluem, mas aquelas duas varetas desajeitadas são daquele jeito desde o tempo do “Ford Bigode”. Não vislumbro alguma possibilidade de mudança a curto prazo.

Eu revi, no Canal Curta, retransmitido pela NET, “O Engenho de Zé Lins”, filme rodado em Pilar e em partes diversas do País onde Vladimir ...

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Eu revi, no Canal Curta, retransmitido pela NET, “O Engenho de Zé Lins”, filme rodado em Pilar e em partes diversas do País onde Vladimir Carvalho foi buscar depoimentos acerca da vida e da morte daquele que melhor expôs a saga do Nordeste açucareiro. Nele, os dramas atinentes ao advento das usinas e à consequente falência política e econômica dos antigos donos de banguês.

Os que são do meu tempo haverão de lembrar uns tais cadernos de confidências que as meninas produziam e entregavam a alguns privilegiado...

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Os que são do meu tempo haverão de lembrar uns tais cadernos de confidências que as meninas produziam e entregavam a alguns privilegiados para preencherem. Em cada página havia uma pergunta para os mancebos escolhidos responderem. Não ser convidado para participar desses tais cadernos era o mesmo que ser chamado de feio ou idiota. Tremenda frustração.

Passou o tempo e com o advento da internet surgiram os grupos de zap. Eles têm de um tudo, desde os grupos de família até grupos de profissão, passando por grupos de amigos - esses sim, o motivo deste escrito.

O olhar tem a velocidade da luz. Instantâneo, fulminante, radiográfico. Por ele flui o pensamento, ainda mais veloz. Quisera o olhar pud...

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O olhar tem a velocidade da luz. Instantâneo, fulminante, radiográfico. Por ele flui o pensamento, ainda mais veloz. Quisera o olhar pudesse se acostar ao pensar e ser mais rápido que a luz.

Dos sentidos, o mais misterioso. O olhar fita, filtra, traduz em cores o que capta a íris. E pelo espectro mágico se faz pensamento, impressão, emoção. Tudo é bom quando é bom o olhar, já dizia Jesus.