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Flóscolo, sempre Flóscolo!

primeira vez que o vi foi na livraria do Xavier, lá na rua Maciel Pinheiro. Quem m'o mostrou, foi meu irmão Orlando, que vendo-o, cochichou-me aos ouvidos, num entusiasmo de quem fez uma rara descoberta: “olhe ali o Dr. Flóscolo, uma das maiores cabeças da Paraíba”. Olhei, era um homem magro, calvo e silencioso, que estava, a escolher livros, alheio completamente ao ambiente. E o proprietário, decerto, nunca imaginou a presença em sua livraria de personagem tão importante.
Flóscolo comprou um livro e saiu, numa lentidão de sombra. Que livro seria aquele? Fiquei curioso. O tempo foi passando e eis que encontro o Dr. Flóscolo na Faculdade de Direito, ensinando “Introdução ao Direito”. Vez por outra saía artigos seus neste matutino, abordando temas científicos.
Flóscolo da Nóbrega! Como me impressionou, o seu silêncio interior, a sua sólida cultura, a sua sabedoria...
Ao tempo em que eu mantinha, na Rádio Tabajara, o programa de música erudita “Paisagem Sonora”, fui surpreendido com um pedido seu, por telefone, para incluíssemos no programa, “Nabuco”, de Verdi, o que muito nos lisonjeou.
Flósculo era desembargador do nosso Tribunal e muito honrou aquela Corte, não só com sua conduta, mas, sobretudo, com sua erudição. Seus acórdãos eram curtos e objetivos.
Em suas aulas, o silêncio dos alunos era grande. O mestre sabia trocar em miúdos a disciplina mais importante do curso de Direito. Teve como auxiliar o bacharel Jovani Paulo Neto, que me contou um caso interessante a respeito do mestre. Certa vez, os alunos foram surpreendidos com sua risada diante do jornal que estava lendo, criticando a compra de votos. Flóscolo não quis acreditar no que lia, tal a pureza de seu caráter.
Um homem calado, respeitado por todos, o nosso mestre, com o objetivo de facilitar o estudo do Direito, escreveu o livro “Introdução ao Direito”, em que consegue simplificar o assunto, tornando-o accessível aos iniciantes das ciências jurídicas. É que de um modo geral, os mestres do Direito complicam o ensino dessa matéria. É Flóscolo quem diz com muita modéstia: “O presente trabalho não tem outra pretensão além de servir de itinerário aos que iniciam o estudo do Direito. Não é livro para mestres, para doutos, para juristas”. Mais adiante, acentua “A nossa preocupação dominante foi simplificar e clarificar a exposição da matéria”. E conclui: “Evitemos as digressões eruditas, o criticismo exagerado, o abuso de transcrições cansativas de obras estrangeiras”.
Estejamos portanto, vigilantes. Esta obra do professor Flóscolo precisa ser sempre reeditada e a nossa universidade deve estar atenta a isso.
Mas o erudito mestre foi também escritor dos melhores. Seu estudo sobr Augusto dos Anjos é uma profunda interpretação da obra única do poeta. Com esse estudo, ele entra na nossa Academia sendo saudado pelo escritor, jurista e parlamentar João Lélis, que cognominou o nome do novo acadêmico de “devorador de livros”.
Flóscolo da Nóbrega... Há alguma rua com o seu nome? Não, mas uma penitenciária... Que absurdo. Ele nunca foi criminalista. Decerto, rejeitaria tal homenagem. Fiquemos por aqui e jamais esqueçamos o Dr. Flóscolo.

Lembrar que o grande jurista e homem de letras chegou a pedir ao marechal Rondon para fazer parte de sua famosa marcha Brasil a dentro. O marechal negou o pedido, por achá-lo muito jovem, fato que João Lélis cita no seu discurso de saudação ao novo acadêmico.

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