Oscar Wilde dizia que o patriotismo é a virtude dos corruptos. Ele tinha boas razões para assim se expressar, uma vez que foi preso em seu...

A virtude dos corruptos


Oscar Wilde dizia que o patriotismo é a virtude dos corruptos. Ele tinha boas
razões para assim se expressar, uma vez que foi preso em seu país – a Irlanda do sul na
época ainda fazia parte do Reino Unido – por práticas homossexuais. Após a prisão,
foi para a França, onde passou o resto de seus dias. Não tenho a pretensão de, com as
minhas, dar respaldo às palavras do ilustre escritor, mas ele tinha razão. O que é,
afinal, patriotismo? É o amor a pátria, apontarão os melhores dicionários.

Pois bem, por que devemos amor a uma pátria? Ora, quando passamos a fazer parte de algum
grupo cultural não foi por escolha nossa. Ali fomos inseridos pelas mais diversas
circunstâncias, menos por nossa vontade. Mesmo aquele que opta onde prefere
compartilhar a cultura, ele também já é egresso de um outro grupo cultural, do qual fez
parte sem espontaneidade. Será que alguém tem culpa de não ser brasileiro?

O patriotismo não é senão a semente da xenofobia. Esse sentimento de amor
exacerbado pela nossa cultura é o que nos leva ao preconceito. Não foi por outra
causa, que não o patriotismo, que em meados do século passado vimos uma tal raça
ariana nutrir sentimentos de superioridade em detrimento de outras. E alguns desejam
que sejamos como os americanos, bandeira na porta de casa, hino na ponta da língua.
Pra quê? O que o patriotismo americano tem de bom? Essa atitude beligerante, com
fins econômicos, de impor a outros povos a sua cultura?

Se por um lado as fronteiras e as culturas movem-se com a história, por
outro a nossa condição humana continua imutável. Somo seres humanos antes de tudo.
Seja o nórdico da Noruega ou o banto africano, ninguém lhe vai tirar sua condição de
humano. Por que celebrar a segregação comemorando a independência? Antes, melhor
que celebremos a união dos povos, sob uma única bandeira, sem vistos ou passaportes.
Afinal, somos condôminos da Terra, apesar de alguns restringirem o seu uso. Mas falo
da união espontânea, como a que caminha na Europa, e não a imposta.

Orgulho do samba? Claro, mas tenho orgulho do tango e da polca também,
pois são expressões artísticas do mesmo homem, que por um acaso nasceu nesse ou
naquele país. “E o Brasil na Copa?, eu vi você torcendo fervorosamente. Isso não é
patriotismo?”. E nas Olimpíadas também, acrescento, mas não creio que seja de forma
patriótica. A competição entre nações é como a competição dentro de um mesmo país.
Não nutro qualquer orgulho especial em torcer pelo Flamengo, apenas torço. Mas
felizmente nós brasileiros não somos patriotas. O 7 de Setembro não é mais que um
feriado que a gente espera todo ano que não aconteça no sábado ou no domingo.


Douglas Antério é advogado e escritor
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