Escrito por Platão, "O Banquete" (ou "Simpósio") é belíssima peça literária que faz apologia ao Amor. O texto, diferent...

O Banquete

platao socrates filosofia paisanias eros kardec jesus espiritismo caridade maria antunes de moura ambiente de leitura carlos romero

Escrito por Platão, "O Banquete" (ou "Simpósio") é belíssima peça literária que faz apologia ao Amor. O texto, diferente dos demais produzidos pelo filósofo, descreve uma reunião festiva na residência do poeta trágico Agaton, da qual fazem parte inúmeros convidados famosos, a elite da sociedade ateniense.

platao socrates filosofia paisanias eros kardec jesus espiritismo caridade maria antunes de moura ambiente de leitura carlos romero o banquete
Entre políticos, poetas e filósofos encontra-se Sócrates, o mais honrado e ilustre de todos. Acomodados ao redor de uma mesa de banquete, inicia-se uma discussão sobre o amor, suas origens e significados, utilizando-se o usual método helênico do diálogo, no qual um assunto é analisado por meio de pequenos discursos livremente apresentados.

Trata-se de uma obra que exerceu marcante influência na construção do pensamento da sociedade ocidental, na época em que Platão viveu e nos séculos seguintes. Nos dias atuais, os diálogos de O Banquete são utilizados por médicos e psicólogos nos processos psicanalíticos, e também pela teoria geral do conhecimento, visando compreender o amor e os sentimentos que o inspiram.

Nenhuma prosa humana poderia atrever-se a fazer justiça, com os meios da análise científica ou de uma paráfrase cuidadosamente decalcada sobre o original, à suma perfeição da arte platônica, tal qual o Banquete nos revela. Na realidade, o Banquete não é um diálogo no sentido usual, mas antes um duelo de palavras entre pessoas que ocupam todas uma posição elevada.

platao socrates filosofia paisanias eros kardec jesus espiritismo caridade maria antunes de moura ambiente de leitura carlos romero

As principais ideias desenvolvidas podem ser assim resumidas: Fedro - poeta, filho de escravos, e introdutor do gênero fábula na literatura romana — explica que, sendo o Amor força vital e imortal da Humanidade, é não só honroso, mas também poderoso para aquisição da felicidade e da virtude, entre os homens, tanto na vida como na morte, uma vez que o amor é um encontro verdadeiro com o Eu supremo e divino, que compõe o sentido da existência e fortalece a sensação de pertencermos a algo maior.

platao socrates filosofia paisanias eros kardec jesus espiritismo caridade maria antunes de moura ambiente de leitura carlos romero
O filósofo Pausânias, um dos discípulos de Sócrates, destaca que o Amor sempre apresenta duas faces, que se completam: a humana e a divina. A primeira é de natureza impulsiva e sensual, a segunda é madura, própria dos que amam com a alma e que estão dispostos a compartilhar.

Erixímaco, conhecido médico ateniense, considera que o Amor “deve produzir harmonia na alma, no corpo e na Natureza”. O poeta Aristófanes analisa que “o desejo deve estar necessariamente associado ao amor, sem o qual é impossível ocorrer a fusão de dois seres que se amam.”

Ágaton exalta de forma idealística a beleza, a natureza e os dons do Amor, divinamente personificado em Eros, deus do amor e da beleza, segundo a mitologia grega.

Sócrates — o memorável filósofo, não é quem segura a batuta de toda a discussão, como costuma acontecer nos diálogos platônicos; é um de muitos oradores e, além disso, o último. É por isso que só no final do Banquete a dialética aparece, em perfeito contraste com a variegada retórica e brilhante poesia dos demais personagens.

De forma notável, Sócrates assinala as diferenças entre o Amor e o desejo, fornece o verdadeiro significado do mito Eros e, ao final, conduz os ouvintes ao terreno da realidade psicológica: Todo o eros representa um anseio por qualquer coisa que não se tem e se deseja ter. Por conseguinte, se Eros aspira ao Belo, é porque não é ele próprio o Belo".

platao socrates filosofia paisanias eros kardec jesus espiritismo caridade maria antunes de moura ambiente de leitura carlos romero o banquete
Da mesma forma, Eros também não é o Amor em si, apenas representa a atração sensual. Sócrates sugere que o Amor deva ser visto como “daimon” (espírito ou gênio), no sentido de poderosa força que extrapola a união física de dois seres, representada por Eros: o Amor é a misteriosa força espiritual de coesão existente em toda a Criação que, revelada em sua ampla magnitude, sugere que a sua essência “nem é mortal nem é deus, nem matéria, nem espírito, mas algo dos dois, manifestado num poder que os harmoniza não só na constituição do universo, mas particularmente na organização e destinação de nossa vida”.

O Teorema do Amor de Sócrates pode ser sintetizado nesta sua assertiva, ao citar Diotima de Mantineia (considerada a filósofa e sacerdotisa grega que teria orientado Sócrates a respeito da genealogia do Amor): "É o Amor o amor de consigo ter sempre o bem"!

Tais conceitos socráticos, aqui rapidamente expostos, não diferem, em essência, do pensamento de Emmanuel:

O amor puro é o reflexo do Criador em todas as criaturas. Brilha em tudo e em tudo palpita na mesma vibração de sabedoria e beleza. É fundamento da vida e justiça de toda a Lei. Plasma divino com que Deus envolve tudo o que é criado, o amor é hálito dele mesmo, penetrando o Universo.

Mais adiante acrescenta:

"O amor, repetimos, é reflexo de Deus, Nosso Pai, que se compadece de todos e que a ninguém violenta, embora, em razão do mesmo amor infinito com que nos ama, determine que estejamos sempre sob a lei da responsabilidade que se manifesta para cada consciência, de acordo com as suas próprias obras. E, amando-nos, permite o Senhor perlustrarmos sem prazo o caminho de ascensão para Ele, concedendo-nos, quando impensadamente nos consagramos ao mal, a própria eternidade para reconciliar-nos com o bem, que é a sua regra imutável."

Nenhum conceito sobre o Amor se iguala, contudo, ao anunciado por Jesus:

"Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com toda a tua mente. Este é o primeiro e grande mandamento. O segundo, semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Nestes dois mandamentos está dependurada toda a lei e os profetas."

platao socrates filosofia paisanias eros kardec jesus espiritismo caridade maria antunes de moura ambiente de leitura carlos romero
Amar ao próximo, na linguagem de Jesus, significa: “Assim, tudo quanto quereis que os homens vos façam, assim também fazei vós a eles, pois esta é a Lei e os Profetas.”

A prática dessas máximas tende à destruição do egoísmo. Quando os homens as adotarem como regra de conduta e como base de suas instituições compreenderão a verdadeira fraternidade e farão que entre eles reinem a paz e a justiça. Não mais haverá ódios, nem dissensões, mas apenas união, concórdia e benevolência mútua.

Finalmente, não poderíamos ignorar o mais belo poema escrito sobre o Amor, traduzido como Caridade pela divina inspiração de Paulo, o Apóstolo dos Gentios:

“Ainda que eu falasse línguas, dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade, seria como bronze que soa ou como o címbalo que tine.

Ainda que tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a ciência, ainda que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse a caridade, nada seria.

Ainda que distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse meu corpo às chamas, se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria.

A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho.

Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor.

Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo cré, tudo espera, tudo suporta.

A caridade jamais passará."


Marta Antunes de Moura é vice-presidente da Federação Espírita Brasileira

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também