Que ninguém seja lento para buscar sabedoria quando jovem, nem cansado em sua busca quando estiver envelhecido, pois nenhuma idade é muito precoce ou muito tardia para a saúde da alma.
Epicuro
Epicuro
E assim, inesperadamente, o convite para “fugir da pandemia “ foi aceito. Um dia para conhecer um novo-velho lugar, parte das histórias que ouvia meu pai, apaixonadamente, contar. Berço das duas famílias, dos meus antepassados.
A primeira parada foi no estacionamento da Igreja Matriz. Alguns minutos para me certificar da ausência de pessoas, duas máscaras, álcool, e uma certa segurança nas duas doses da vacina e no exame de Anticorpos Neutralizantes.
Na porta principal, uma lajota no piso, desgastada pelos anos, marcava uma data longíqua: 01/01/1861. Fiquei ali, como se detivesse o tempo, imaginando avós, tios, pais, frequentando aquele lugar.
Diante de mim, uma paisagem extremamente bela me recebeu. Um gramado verde e fechado, ainda com o orvalho que o sol preguiçosamente permitia. A vontade de sentir a textura do tapete natural, após um ano e três meses no apartamento, foi o primeiro prazer. Para Freud, a felicidade consiste em buscar o prazer e evitar o desprazer…então eu estava quase feliz! Para Shopenhauer “a essência do homem consiste no desejo e desejar novamente, assim indefinidamente"... para se contrapor, Lacan, não existe o conceito porque a felicidade não pode ser nomeada. E essa sensação de bem estar?
Nesse impasse psicanalítico-filosófico, um som do badalar dos sinos de um Mosteiro, uniu a gratificação visual com a auditiva, e me reportei ao acordar em Florença... meu pensamento voou na fantasia... vi uma casa como a de Vinícius de Morais: era uma casa tão engraçada, não tinha teto, não tinha nada, ninguém podia entrar nela não, porque a casa não tinha chão... as janelas, as primeiras providenciadas, bem largas para deixar entrar o perfume da mata, o cheiro de terra molhada, com jardineiras floridas de beijos para a ruela tranquila. O estilo? Provençal, com seus tons azuis e a recordação do Vale do Loire... o piso seria ladrilho hidráulico, nosso antigo mosaico repaginado, ou madeira para ecoar meus passos. Na parede da sala, um relógio que pertenceu a minha mãe, embalaria as noites com sua contagem musical...
E o espaço ainda teria que acomodar: uma jabuticabeira, um jambeiro rosa, um limoeiro, e uma laranjeira para fazer chá, todos enxertados para que o tempo de frutificar me fosse possível de usufruir seus sabores.
Com esse projeto quase pronto, faltaria o mais importante, a técnica, aceitação e assinatura do filho arquiteto... será que se responsabilizaria pelo sonho da mãe? e o sonho para Freud, é a realização do desejo...
As cigarras trouxeram a sinfonia do entardecer e o aviso de que a hora de partir chegara... retornar ao carro, a estrada, e... à pandemia. No entanto, a experiência vivida me lembrou as palavras de Montaigne: “o temor, o desejo e a esperança jogam-nos sempre para o futuro”.