Ele definitivamente não está no panteão dos dez ou quinze maiores filósofos da humanidade, mas seu pensamento de inegáveis matizes morais persiste até nossos dias. Foi ele que nos ensinou que o homem se perde em tempos que não são seus (o homem só pensa em ver os dias passar, ou gastar seu próprio tempo, perdendo-se em atividades como dançar, beber, jogar etc), deixando o tempo presente escapar-lhe como areia de suas mãos – um pensamento poderoso e moderno sobre a fugacidade da vida que influenciou sobremaneira os filósofos de índole existencialista.
Seu legado científico é assombroso: tocou várias áreas da física e da matemática, vindo a influenciar também a economia, as ciências atuariais, a informática. Seu pensamento em teologia, por vezes, mostra-se um tanto contraditório, sendo, a um só tempo, racionalista e irracionalista, o que demonstra, de forma patente, as próprias imperfeições, agruras e medos do ser humano. Pascal sondou nossa alma a fundo.
Atacou o Deus mecanicista de Descartes. Para ele, “O coração – e não a razão – é que sente Deus. E isto é a fé: Deus sensível ao coração e não à razão.” Por conseguinte, A crença em um Deus dependeria da fé, algo que não é inerente a todos os seres humanos. Afirmava que a razão humana seria impotente para provar a existência de Deus. Acredito ser a sua definição sobre fé a mais perfeita de todas.
“Pensamentos”, sua obra mais conhecida, é, na verdade, uma compilação de fragmentos, o que, no entanto, não diminui a força de suas palavras e do seu raciocínio. Segundo Pascal, somos traídos por nossa própria imaginação inúmeras vezes, fazendo, não raro, julgamentos errados, inclusive sobre pessoas.
As investigações de Pascal buscavam o divino, mas eram poéticas e demasiado humanas: “o coração tem razões que a própria razão desconhece” – quem nunca ouviu essa frase? Não, tolinho, não foi o poetinha Vinícius que a escreveu.
E, para encerrar esse pequeno texto, uma das sentenças fundamentais das reflexões poderosas desse gênio francês: “O silêncio dos espaços infinitos apavora.” Eis aí um silêncio ensurdecedor...