A minha Semana Santa começa sendo vista sob um novo ponto de vista. Na leitura matinal de hoje, n’A União fui surpreendido por dois excel...

A Semana Santa vista sob outro prisma

A minha Semana Santa começa sendo vista sob um novo ponto de vista. Na leitura matinal de hoje, n’A União fui surpreendido por dois excelentes artigos. O primeiro, de Rui Leitão, versa sobre a volubilidade das multidões. De forma inteligente, ele traça um paralelo com o que aconteceu a Jesus Cristo, há 1989 anos, e o comportamento da humanidade nos dias de hoje.

Segundo a convenção religiosa, quando Jesus chegou a Jerusalém foi aclamado pelos judeus como salvador da humanidade. Em menos de uma semana depois era condenado à morte por essa mesma multidão, que estava sendo influenciada pelos sacerdotes da época. Sem provas evidentes, sem um julgamento justo, a massa, volúvel, passou num estalar dos dedos de aclamadora para acusadora.

Mihály Munkácsy
Esse comportamento é frequente nas multidões. A história é pontilhada de episódios semelhantes, como o da escola primária paulista, décadas atrás, que foi acusada da prática de pedofilia em seus ambientes e teve as suas instalações apedrejadas e os seus professores execrados pela multidão, quase que linchados.

As páginas policiais são ricas em histórias de linchamento coletivo de pessoas subitamente acusadas de algum crime, que são executadas pela multidão sem provas de crime, e sem muito menos ter tido direito a julgamento justo.

Mihály Munkácsy
Anos atrás, no famoso episódio do PowerPoint, as multidões invadiram as ruas das capitais com gosto de sangue nos dentes. Naquela noite, açuladas pelo procurador-adolescente, elas poderiam ter causado tragédias. Se, por exemplo, alguém vestido com a camisa do Internacional de Porto Alegre, ou do Náutico de Recife, passasse perto da Avenida Paulista, correria o risco de ser massacrado, pelo simples fato de vestir vermelho. No mínimo seria ofendido, sem nada ter feito. Pois esses procuradores agiram semelhantes aos sacerdotes do templo de Jerusalém, açulando a multidão sem provas.

Estamos assistindo à humanidade em geral, e ao brasileiro em especial, se comportarem como rebanhos, acompanhando cegamente falsos profetas, sem refletir no que dizem esses “líderes”, abastecidos por notícias e informações falsas. Sem enxergar se eles estão nos levando para um abismo logo adiante.


O segundo artigo d’A União desta Quinta-feira Santa, do arquiteto Germano Romero, contém em seu bojo um terceiro artigo, escrito no passado pelo grande cronista Carlos Romero, falecido há poucos anos. A peça revisitada de Carlos Romero é um primor,
Veronese
uma ode à paz, à civilidade, ao humanismo. Bem ao perfil do autor. Em seu artigo ele reclama da inclinação do povo religioso cristão para cultivar o aspecto negativo da Semana Santa. De exaltar o sofrimento de Jesus, a Via Crucis, a sua agonia e morte no monte Calvário, que virou um adjetivo. Agindo assim, esquecem os cristãos, ou subestimam, toda uma vida exitosa, repleta de boas ações, milagres, bodas, curas, belos conceitos, encontros educativos, como com os sábios. Carlos Romero exalta as mulheres da vida de Jesus, entre elas as irmãs Marta e Maria, além de Madalena, que foi a maior amiga de Jesus.

Ao finalizar, propõe Germano Romero a mudar o foco da Semana Santa pra dedicar o acontecimento ao lado bom: a Páscoa. Num gesto inusitado, e muito generoso, propõe Germano que seja extinta a Malhação do Judas, comum no sábado de Aleluia, num perdão tardio ao gesto de Judas, que se arrependeu às vésperas de matar-se. E que a Semana Santa seja voltada para a Páscoa: a renovação, os votos de um bom recomeço.

Benjamin West
Pois, não por coincidência, a história do sofrimento de Jesus (trevas) e a Páscoa (luz) foram ajustadas para coincidir com o equinócio da primavera no hemisfério norte, para pontificar o fim do inverno, das trevas, e a chegada da luz representada pela primavera. Foi muito bem estudada.


Assim, com essas duas crônicas iniciamos de forma magistral as comemorações de mais uma Páscoa. Que a humanidade se torne diferente, mais justa, que seja menos rebanho dominado por pessoas inescrupulosas, como alerta Rui Leitão.

Espero que os apelos de Rui Leitão, Carlos e Germano Romero sejam atendidos por todos aqueles que se acham religiosos, e homens e mulheres de boa vontade. E que a Páscoa seja um bom momento, um bom início de renovação não somente para alguns, mas para todos. O nosso mundo com certeza será bem melhor.

Encerro perguntando: Ele realmente salvou a humanidade? Essa que está aí?! Há controvérsias...

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  1. E isto mesmo, caro cronista.
    Samaritano, como o são os médicos desde os tempos imemoriais, ninguém tem tanta autoridade para falar da caridade exercida para com o próximo e da alegria que o retorno que essa caridade provoca nos familiares e amigos com a recuperação do ente querido, trazido de volta ao aconchego dos seus, pela ação competente e, muitas vezes, caridosa, daqueles que fazem do juramento de bem servir, que lhes foi dado por Hipócrates, o fundamento maior de seu trabalho.

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  2. Agradeço as críticas, de quaisquer naturezas. Todas me são estimulantes, auxiliam o meu aprimoramento.

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