A minha Semana Santa começa sendo vista sob um novo ponto de vista. Na leitura matinal de hoje, n’A União fui surpreendido por dois excelentes artigos. O primeiro, de Rui Leitão, versa sobre a volubilidade das multidões. De forma inteligente, ele traça um paralelo com o que aconteceu a Jesus Cristo, há 1989 anos, e o comportamento da humanidade nos dias de hoje.
Segundo a convenção religiosa, quando Jesus chegou a Jerusalém foi aclamado pelos judeus como salvador da humanidade. Em menos de uma semana depois era condenado à morte por essa mesma multidão, que estava sendo influenciada pelos sacerdotes da época. Sem provas evidentes, sem um julgamento justo, a massa, volúvel, passou num estalar dos dedos de aclamadora para acusadora.
Mihály Munkácsy
As páginas policiais são ricas em histórias de linchamento coletivo de pessoas subitamente acusadas de algum crime, que são executadas pela multidão sem provas de crime, e sem muito menos ter tido direito a julgamento justo.
Mihály Munkácsy
Estamos assistindo à humanidade em geral, e ao brasileiro em especial, se comportarem como rebanhos, acompanhando cegamente falsos profetas, sem refletir no que dizem esses “líderes”, abastecidos por notícias e informações falsas. Sem enxergar se eles estão nos levando para um abismo logo adiante.
O segundo artigo d’A União desta Quinta-feira Santa, do arquiteto Germano Romero, contém em seu bojo um terceiro artigo, escrito no passado pelo grande cronista Carlos Romero, falecido há poucos anos. A peça revisitada de Carlos Romero é um primor,
Veronese
Ao finalizar, propõe Germano Romero a mudar o foco da Semana Santa pra dedicar o acontecimento ao lado bom: a Páscoa. Num gesto inusitado, e muito generoso, propõe Germano que seja extinta a Malhação do Judas, comum no sábado de Aleluia, num perdão tardio ao gesto de Judas, que se arrependeu às vésperas de matar-se. E que a Semana Santa seja voltada para a Páscoa: a renovação, os votos de um bom recomeço.
Benjamin West
Assim, com essas duas crônicas iniciamos de forma magistral as comemorações de mais uma Páscoa. Que a humanidade se torne diferente, mais justa, que seja menos rebanho dominado por pessoas inescrupulosas, como alerta Rui Leitão.
Espero que os apelos de Rui Leitão, Carlos e Germano Romero sejam atendidos por todos aqueles que se acham religiosos, e homens e mulheres de boa vontade. E que a Páscoa seja um bom momento, um bom início de renovação não somente para alguns, mas para todos. O nosso mundo com certeza será bem melhor.
Encerro perguntando: Ele realmente salvou a humanidade? Essa que está aí?! Há controvérsias...