Ninguém vê mais terra, chão, verde, ambiente natural nas cidades de hoje. Os parques são uma espécie de "reserva" na paisagem,...

A cidade e os carros

caos urbano transito veiculos
Ninguém vê mais terra, chão, verde, ambiente natural nas cidades de hoje. Os parques são uma espécie de "reserva" na paisagem, ainda assim transformados em “parquinhos” modernosos, como fizeram com a Lagoa e a Bica, aqui em João Pessoa.

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Thiago Japyassu
É óbvio que isso aumenta a opressão sobre o indivíduo, é uma tortura psicológica danada. Sem dúvida, essa situação potencializa a violência urbana. Na explosão de violência também está a inconformação do indivíduo (que já não tem educação, saúde, emprego e moradia decentes)com o processo de desumanização da cidade em que vive e a desigualdade imposta pelo traçado urbano.

Quem não se sente de alguma forma agredido, caminhando nas nossas calçadas estreitas e mal cuidadas? É impossível o indivíduo ter saúde física e mental caminhando pelas nossas calçadas cheias de obstáculos e buracos. E se resolve olhar para o alto, se deparando com a "barreira" da fiação nos postes, tudo dentro de uma atmosfera visual e sonora bastante opressiva?

Do corte do galho de uma árvore à construção de um viaduto, tudo aqui é feito em função dos carros, que, aliás, proliferam como coelhos, tornando impossível qualquer solução racional para o trânsito caótico da cidade. Mobilidade urbana não é apenas facilitar o trânsito de veículos. É melhorar também – e principalmente - a locomoção dos “sem-carro”.

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Zuyet Awarmatik
Os carros roubaram a paz do pedestre e até do próprio motorista, restringiram enormemente o espaço dos caminhantes e aceleraram a devastação e a desumanização das cidades, contribuindo, em larga medida, para tornar a natureza um ambiente hostil ao homem e, indistintamente, a todos os seres vivos.

Nossos dirigentes e legisladores devem deixar de pensar como se seus cérebros fossem peças de automóvel. João Pessoa é também para os “sem-carro” — a imensa maioria da população —, com transporte público eficiente, menos poluição, concreto, asfalto, automóveis, e mais áreas verdes e calçadas largas, livres e bem cuidadas.

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Ezequiel Garrido
Como tudo de ruim tem sua origem na (des)ordem política, social e econômica, que reina há séculos no Brasil, nas mínimas coisas a gente observa que nossa democracia é uma tremenda figura geométrica, quando não figura de retórica. Privilegiar quem tem carro, com uma média histórica de apenas 30% da população possuindo veículo próprio, é privatizar a cidade.

Mas acontece que o Poder é motorizado. Então...


As frases seguintes são de Enrique Peñalosa, economista, urbanista, ex-prefeito de Bogotá, uma das maiores autoridades em mobilidade urbana no mundo:

“O primeiro artigo de todas as constituições democráticas, inclusive a brasileira, diz que todos são iguais perante a lei. Se isso é verdade, um ônibus com cem passageiros tem direito a cem vezes mais espaço nas ruas que um carro com uma pessoa.

“As pessoas usam carros porque é mais confortável, dá liberdade e segurança.

“Os carros são maravilhosos para passear, para sair à noite. Mas se todos resolvem ir de carro ao trabalho, a cidade entra em colapso. Quando falamos de cidade sem carros, ou com poucos carros, não estamos falando da ilusão de um hippie louco. Estamos falando de cidades que já existem e que são as mais bem-sucedidas do mundo, como Nova York, Londres, Zurique. Em Paris, a maioria dos prédios no centro nem tem estacionamentos.

“O Brasil vai na contramão, com o governo federal incentivando a compra de carros e o municipal exigindo garagem dos novos empreendimentos.

“Isso é um erro. Não defendo que as pessoas não tenham carro. Defendo que repensem como usá-los. Não devemos proibir o carro, mas dificultar sua utilização e facilitar a vida daqueles que queiram viver sem ele.

“Tratar os engarrafamentos com vias maiores é como apagar fogo com gasolina”.


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  1. Se o colapso ja é evidente agora, imagina com mais 5 aninhos pra frente. A extrema verticalização abriu espaço pra muita gente que sonhava descer do grande platô que vai de Tambauzinho até o Cordão Encarnado, e ir morar em Tambau, por ex. Em breve muitos estarão querendo subir a serra de volta, pela absoluta falta de mobilidade na barreira litorãnea.

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