procissão de jangadas no dia de são pedro o sol acende as velas que iluminam a enseada. em fila, qual brancas formiga...

Velas que iluminam

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procissão de jangadas no dia de são pedro
o sol acende as velas que iluminam a enseada. em fila, qual brancas formigas marítimas, lá se vão as jangadas contritas e beatas. (em 29/06/22, dia de São Pedro)
simbiose
qual um caranguejo, a bicicleta expõe o esqueleto. a carne sou eu, feliz e andejo
a bicicleta e eu
(quase improviso no dia do ciclista) apesar da fachada aberta a bicicleta é fechada e se completa hermética hermeticamente trancada em si mesma como um ovo a bicicleta é inteira osso a osso do quadro passando às vértebras dos raios até o bagageiro evoé, baco! eis-me também inteiro com o peito estufado como o ego inflado dos pneus-balão com o vento nos meus cabelos e tatalando as flâmulas próximas aos guidões
engulam
palavras são atrevidas palavras são abusadas palavras todas retirem-se palavras engulam as palavras.
ares shakespeareanos
o ralo da pia suga a água. mas, fosse cumprida a sua vontade, sugaria o poema, a casa, e o cadáver de ofélia levaria boiando, boiando, através dos canos. este ralo tem ares shakespearianos.
usina vista de cima
o telhado visto de cima (não de lado) diz ação de ser arado. plantação urbana de limo (não de cana) o telhado não é usina mas engana. bovinos gatos pastam silêncio: mesmo felinos são exatos para o telhado que engana: boi, usina, cana. perto da lua medem os bois distância da rua para o cercado: em reflexões os gatos são bois de telhados. pulos engenheiros, exatos e matemáticos, os gatos diferem: são assimétricos dos bois de cercados. os bois mesmo mansos e tranquilos pesam nos passos o peso dos quilos. (poema de “Gestos Lúcidos”, Edições Sanhauá, 1967, livro de estreia do autor)
as frações do boi
a) boi, pasto, vastidão: futuro reduzido, hoje é botão. casa, vertical e japonesa; espaço enforcado na fração do boi. boi, círculo de tristeza, imagem que não foi. b) o boi nos chifres pressente: armações futuras, construções de pentes. o pente (mudo e capilar) na cabeça pasta sem ruminar. (poema de “Gestos Lúcidos”, Edições Sanhauá, 1967, livro de estreia do autor)

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  1. Extremamente telúricas essas manifestações, caro Sérgio.
    A isto, some-se a tradição que, infelizmente, está sendo sufocada por modernismos que não nos conduzem a nada.

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