O corte no solo feito pela lâmina da água que brota do fundo da terra ou mergulha do alto do céu ao longo dos tempos cria a estrada permanentemente irregular, bela e de onde até das pedras emana o cheiro de vida. Na contramão da água em cantoria vinda de uma nascente próxima, o corpo humano aceita o desafio e avança, a mente acata o convite à viagem e viaja e o Sol encontra espaços para compor pincéis de luzes telas.
Rio Mumbaba - Trilha Ecológica (Paraíba) Clóvis Roberto
Rio Mumbaba (PB) (cogumelos, mata atlântica, grutas) Clóvis Roberto
O relevo é mais uma atração. Pedras-passagens, pedras-armadilhas, pedras simples pedras... E grutas, travessias, cavernas... A água cristalina em descida, a água que chocalha no cantil, a água escura acumulada da chuva, a água do beijo da boca do amor e do morcego, a água que apenas flui e transpira pelos corpos, a água em nova dança que inunda os pés invasores e benzem todo o trajeto, purificando tudo após a passagem humana.
E raios que são rios em muitos recantos. Cores que se mesclam, unem-se em arco-íris na terra batizada por sóis. Tons de muitos verdes, marrons calcários, de branco de uma areia de praia que vira leito de córrego, azuis, sutis e fortes.
Trilha Ecológica pelo Rio Mumbaba (Paraíba) Clóvis Roberto
E abram-se cavernas... Elas clareiam o interior e fazem refletir o íntimo, desvendam curvas, paredes, seres, cravam nas mentes a escuridão. De repente, aparentemente se está só no interior do estômago da terra e vivos. Luzes que surgem, piscam vaga-lumes de lanternas e celulares, mãos ajudam, com o tato, tudo clareia e retorna-se à superfície, uma clareira. A solidão era imaginária. Dão-se as mãos, alicerçam-se momentos, avança-se pelo espaço.
Clóvis Roberto
Ali por perto, as oliveiras em época de frutas trazem gostos de tempos idos, surgem pelo caminho, alimentam, colorem, arroxeadas bocas como uma cachaça vivente, apaixonante. Ao redor, o homem avança e ameaça. Em máquinas tratorais, em pássaros gigantes que avoam com gentes e pousam e decolam próximos. E ainda há teju-açu espantado a correr perseguido por um cão. Para um quase uma diversão, para o outro fuga, sobrevivência, libertação.
O lugar, uma volta ao Bairro das Indústrias. Mas adiante, uma ida ao território santaritense, um conhecer e reconhecer-se no Rio Mumbaba, tão íntimo nome da adolescência, do mergulho vivo em outros rios, outros caminhos, que ajuda a matar a sede da idade, da cidade, da saudade. Para a natureza, não há limites, divisas ou fronteiras. Ela naturaliza-se em espaços. E o rio, o banho, a água reencontrada e que refresca a alma, anestesia a mente, alimenta.
