Virgínia Woolf foi considerada uma grande inovadora na escrita literária da língua inglesa, principalmente pelo uso do chamado fluxo de consciência, técnica que alterna o pensamento lógico, com impressões pessoais momentâneas e associações de ideias. E aqui descubro o nome do estilo com o qual mais frequentemente escrevo meus textos.
Woolf não foi a criadora desse recurso, mas o utilizou com muito êxito. Foi uma ensaísta e pensadora revolucionária, que questionou a condição feminina, as regras da família, as questões amorosas e a dificuldade de criar uma obra sendo mulher. Seu livro de ensaios mais conhecido, lançado em 1929, é o resumo do que ela acreditava ser fundamental para que uma mulher pudesse se dedicar a qualquer projeto artístico: "Um Teto Todo Seu".
Na verdade, a frase completa é: "uma mulher precisa ter dinheiro e um teto todo seu, um espaço próprio se quiser escrever ficção". Woolf exerceu grande influência sobre as comunidades feminista e LGBT, bem como sobre a literária. Seu livro foi colocado entre os 100 livros do século, pelo jornal francês Le Monde.
Essa aventura vivida por Virgínia Woolf se estabelece novamente neste novo século que caminhamos, porque ainda observamos como os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres conhecem, ao contrário, um certo empuxo-ao-homem, e em nome da igualdade jurídica são obrigadas a repetir "eu também".
Ao mesmo tempo, os homoafetivos, reivindicam os direitos e símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Que fique claro que essa descrição não é uma crítica pessoal, somente uma narrativa de fatos, nos quais paira uma grande instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a fixidez de antigamente.
O amor se torna líquido, constata o sociólogo Zygmunt Bauman. Cada um é levado a inventar seu próprio "estilo de vida" e assumir seu modo de guardar e amar.
Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social não desapareceu para neles se conformar, mas está em baixa. Esse é o pensamento de Jacques-Alain Miller, um dos fundadores da École de la Cause Freudienne ("Escola da Causa Freudiana") e da Associação Mundial de Psicanálise, por ele presidida de 1992 a 2002. Ele escreveu que os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena mutação.
Penso que, intensamente, devemos ser mais perceptíveis a eles com respeito e senso de coletividade, entendendo suas particularidades e abrangências na sociedade. Afinal, se utilizarmos os olhos sem voz, somos todos corpos iguais, o gesto e a alma dão nosso tom profundo de personalidade individual.