Em julho de 1998, estava há dois anos e meio trabalhando em Bogotá, na Colômbia, como funcionário de carreira da OPAS/OMS, na qualidade de Assessor de Saúde Ambiental no País. Todos os funcionários de nível internacional, como eu, possuíam passaporte diplomático e, por essa razão, tinham oportunidade de participar de encontros com diplomatas estrangeiros, festas sociais, e algumas vezes conversar até com o presidente da República. Nossas esposas também estavam em contato com as embaixatrizes e esposas dos embaixadores, participando de eventos, cursos e reuniões diversas.
Bogotá
Daniel Pizano ▪ @DanielSamperPi
Não posso deixar de citar outro personagem importante da Colômbia, o pintor e escultor Fernando Botero Angulo, mundialmente famoso, nascido em Medelín no dia 19 de abril de 1932. Suas obras são dedicadas, na grande maioria, por tudo aquilo que tem a ver com o tratamento dos volumes e das formas de modo a se obter um efeito de monumentalidade.
No começo de agosto desse mesmo ano (1998), recebi um convite enviado pelo presidente do Congresso da Colômbia para participar da posse do novo presidente Andrés Pastrana Arango que seria realizada na sexta feira do dia 7 daquele mês, às 15 horas no Capitólio Nacional. O convite estava marcado com um “D” de diplomata, inscrito em um círculo verde e cada convidado teria que apresentá-lo na ocasião da chegada ao recinto.
Sérgio Rolim
Bogotá está construída sobre a Cordilheira dos Andes. Tanto é que a propaganda da prefeitura da cidade é: “Bogotá, 2.650 metros más cerca de las estrellas”. A temperatura média anual é de 16,5 ºC, com precipitação ao redor de 1.000 mm por ano. A metade dos dias do ano chove em Bogotá, algumas vezes com chuvas intensas e trovoadas. Os meses mais secos são janeiro, julho e agosto. Porém, não se sente muito o frio por causa do clima seco, com pouca umidade, dificultando o crescimento de baratas e outros insetos, além da vantagem de diminuir bastante a possibilidade de proliferação de mofo.
Capitólio Nacional da Colômbia, em Bogotá ▪Luis Romero / Wikimedia
A solenidade teve, como é usual, uma sequência de muitos discursos, com várias autoridades, principalmente representantes dos países latinos. Quem representou o Brasil foi nosso Vice-Presidente Marco Antônio de Oliveira Maciel.
Cerimônia de posse de Andrés Pastrana, Bogotá, 1998 ▪ APA
Por outro lado, observei que havia outras pessoas de posse de guarda-chuvas de cores diferentes, vermelho e azul. Encontrei na saída um cidadão com um guarda-chuva azul. Perguntei se ele queria trocar pelo meu. Aceitou de pronto. Minha esposa assistiu à solenidade pela TV e quando cheguei em casa, me disse: “Seu guarda-chuva não era amarelo, por que você trouxe um de cor azul? A cor amarela era para as autoridades mais destacadas”. Respondi que iria aproveitar o guarda-chuva para usá-lo e não para dizer que a cor amarela era para pessoas importantes. Como sou muito distraído, não percebi que as três cores distintas estavam representando as cores da bandeira colombiana.
Andrés Pastrana, nasceu em Bogotá no dia 17 de agosto de 1954 e foi o trigésimo presidente da Colômbia, no período de 1998 a 2002, tendo seguido os passos do pai Misael Pastrana Borrero, também presidente entre 1970 a 1974. Estudou nos Estados Unidos como todo colombiano de posses e depois de sua graduação,
Andrés Pastrana ▪ US Gov. / PD
Quase três anos depois, no dia 1º de fevereiro de 2001, fui aprovado no concurso para ocupar novamente o posto de Assessor em Saúde Ambiental da OPAS/OMS, desta vez, na Cidade do México. Um pouco antes, como é de praxe, tivemos que empacotar nossos pertences, vender os eletrodomésticos seminovos e outros haveres a custo de banana etc, etc, para poder efetuar nosso futuro traslado. Voltando ao guarda-chuva, desta vez, azul. Por incrível que pareça, nossa citada umbrella continuou empacotada e remetida pela nova transportadora para o México. Claro, como poderia perder esse útil e importante artefato histórico (para mim)?
Cidade do México ▪ C. Aranda
Na realidade, meu ideal, desde o começo, era trabalhar como funcionário de carreira no reconhecido Centro Pan Americano de Engenharia Sanitária e Ambiental (CEPIS) da OPAS/OMS, como pesquisador e consultor de Águas Residuais para a América Latina. Entretanto, esse cargo ficou fechado durante 10 anos. Aconteceu que esse posto foi aberto, quando estava recentemente a trabalhar no México. Não poderia perder essa oportunidade. Tive que participar de outro concurso para essa única vaga, quando, após minha aprovação, comecei minha labuta no dia 21 de setembro de 2002, em Lima, capital do Peru, onde estava localizado esse importante centro de pesquisas. Tivemos que providenciar nossa mudança rapidamente e, para surpresa de vocês, quem foi incluído nessa bagagem? O meu famoso paraguas azul com sua embalagem original desde a mudança da Colômbia.
Lima, Peru ▪W.J. Vasconcellos
Foi aí que decidi levar meu (já famoso) guarda-chuva azul para João Pessoa. Em Lima, não teria nenhuma utilidade, pois, sua precipitação anual é cerca de 50 mm, devido ao fenômeno Humboldt (Alexander von, 1769-1859). Isso acontece devido a uma corrente marítima, muito fria, originada próxima da Antártida que passa no sentido norte do Oceano Pacífico pela costa ocidental da América do Sul nos litorais do Chile e do Peru. Ocasionado pelo encontro dessa corrente com a Cordilheira dos Andes, a evaporação das águas é impedida de acontecer, por causa da baixa temperatura e da pouca umidade relativa do ar, dando margem à formação de desertos, o Deserto de Atacama, no Chile, por exemplo. Essa manifestação da natureza também faz com que a precipitação
Costa peruana ▪Nat Conservancy
Quando cheguei no aeroporto de Guarulhos, caí na amostragem da Receita Federal. Meu passaporte diplomático não serviu para nada. E, além da minha mala, estava comigo o pacote com meu guarda-chuva azul. Dentro de minha bolsa de mão havia trazido também, várias moedas de prata. O fiscal iniciou implicando com elas. Expliquei que pertencia à área da numismática desde os oito anos de idade. E as moedas tinham pouco valor. Como viajava muito, pouco a pouco fui aumentando minha coleção. Tive que convencê-lo com muita conversa para que não cobrasse imposto nem multa por tê-las trazido comigo. Quando estava pensando que já estava livre, perguntou novamente: “O que você tem dentro deste pacote”? Respondi: um guarda-chuva. “Um guarda-chuva? Nunca na minha vida de fiscal presenciei alguém trazendo uma guarda-chuva tão bem embalado em uma caixa”. Já estava que não aguentava mais de tanta chateação. Foi então que respondi: Na vida, a gente está sempre aprendendo. Você agora vai saber que é possível transportar um guarda-chuva embalado em uma bonita caixa de papelão, em qualquer aeronave. Imaginem se ele soubesse que esse guarda-chuva era testemunha da posse do presidente da Colômbia!