Na Rua da República vocês acham o que procuram”. Era uma cadeira antiga, de madeira, com encosto e assento em palhinha. Coisas do arco...

Ao balanço do sonho

cronica saudosismo antiquario
Na Rua da República vocês acham o que procuram”. Era uma cadeira antiga, de madeira, com encosto e assento em palhinha. Coisas do arco da velha. Hoje, tudo é descartável, de rápido servir, pouco tempo de uso e sacudido no lixo. Existem lojas sobreviventes apinhadas de antiguidades. Negociantes de mobiliário são mais encontradiços na Rua da República. Não são muitas e ficam espalhadas ao longo de casarões centenários.

Queriam encontrar a pretensa cadeira, bem conservada, em plenas condições de uso. De movelaria em movelaria, eis a mais sortida. Simpático, o proprietário atendeu os fregueses: ´podem ficar à vontade, me acompanhem. Era um amontoado de peças, não somente móveis, mas xícaras, panelas, jogos de xadrez, biscuits, vasos belos e enormes enfeitados.

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Cuidado enorme para não cair entre os pertences expostos e espremidos no exíguo espaço. O vendedor mantendo a simpatia, advertindo para algum tropeço. Lá em cima a cadeira. Aquela serviria. Bateram os olhos sobre ela, pensaram, fizeram todas as previsões de utilidade; exatamente, a dos sonhos: fixa e em balanço. De quantas leituras a cadeirona bem conservada seria cúmplice! A palhinha bem esticada, conservada, ideal para encosto e nádegas.

Os braços lisos, toda polida. Vizinha a ela, em postura elegante, outra de balanço concorrente. Foi criada a dúvida. Vai lá, vem cá, a primeira é escolhida. “Gostam de ler? Passarão tempos com literatos”, bem sentados, a cadeira é confortável”. A quem ela teria pertencido? Móveis de madeira de lei são raríssimos. A cadeira que será adquirida logo, logo (o comprador comovido) a esposa participando, chamando atenção para outros objetos, louças e um velho relógio em algarismos romanos de ponteiros se movendo. A mulher concordava com o marido. Uma cadeira de balanço opcional, ou seja, era fixa, não arranharia o chão, e outras bondades.

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Pertencera, supostamente, a alguém que a colocava num terraço e cochilava, olhando a paisagem em sua mansuetude de século passado. Também, a dona da casa trazia o tricô ou crochê; e passava o tempo; pássaros havia, algazarras de estudantes vindos da aula, o jardim alegre de flores. Felizes: além da cadeira, haviam comprado um pufe da mesma geração, uma rotatória para a escrivaninha. A cadeira de balanço, que também é fixa, foi instalada no quarto do casal. Ao rugir do vento forte que entra pela janela do apartamento, ele ou ela se entrega a livros. Uns já esquecidos retornam joviais. Ao balanço do sonho.

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