Espiando as rochas negras pela fresta da janela, veio logo a sensação de um claro “déjà vu”. Se bem que a lembrança não estava associada ao cenário que eu olhava. Mas apenas ao contexto transcendente e sem igual, pois que era bem antigo todo aquele visual.
Apesar de ser o mesmo, de anos, talvez séculos, cada dia é diferente, o que surge ali na frente. Seja o céu, ou seja o mar, o marulho, o farfalhar, seja a brisa ou mesmo o Sol, tudo muda a cada hora. Lá em cima são
Também muda a melodia, na aurora ou na alvorada. Uma vez, o bem-te-vi, doutra vez é a jandaia, e à noite, vez por outra, soa o pio da coruja. Pois existe aqui bem perto um casal de buraqueiras, corujinhas que se aninham no terreno ainda verde. Seus filhotes não demoram, saem do ninho, descobrem o mundo, brincam uns dias e ganham o céu. Pouco mais, os dois amados se acasalam novamente no aconchego desta relva, e assim vai se cumprindo o mistério admirável que se rege pelas “mãos” da Divina Criação.
Das rochas nunca esqueço, dada a força que elas têm auferido com o tempo. Na face negra e rude, tão antiga, há resquícios de milênios, e talvez até vulcões. Mas agora decidiram pela inércia suspirar, onde dormem suavemente entre as ondas que as permeiam. São lavadas dia-a-dia com carícia de espumas, num contraste bem dosado de profunda harmonia entre a robustez do sólido e a leveza do etéreo.
Qualquer noite de luar, ainda vou ali na praia ver de perto o bailado dessas rochas com o mar. Certamente sairei mais convicto e com mais fé na Lei que nos criou, que está por trás de tudo, muito antes dos que pensam que esta vida vai ter fim...