A partir dos 15 anos, de manhã e ao meio dia caminhava até o centro de Sorocaba, onde ficava a loja de eletrodomésticos Lauro Miguel & Cia, de que era datilógrafo.
Tudo começava com a descida - na ladeira em que ficava minha casa - até o riacho Supiriri, que eu margeava até a rua paralela à nossa, de onde começava a subir para a cidade.
Tudo começava com a descida - na ladeira em que ficava minha casa - até o riacho Supiriri, que eu margeava até a rua paralela à nossa, de onde começava a subir para a cidade.
Foram quatro, cinco anos dessa rotina, trabalho de dia, escola de Arte à noite, desilusão com o curso de pintura, substituído pelo de contabilidade, depressão crescendo pela falta de rumo.
Numa dessas vezes, depois do almoço, ao ladear o córrego, vi o reflexo de um arco-íris em círculo ao redor do sol, na água, encarei o clarão, fechei os olhos com força, o facho passou a voltar em negativo, cada vez que eu piscava e, mal cheguei ao emprego, fiquei cego.
Sentei-me – indiferente - no batente, e "vi" um inquieto ziguezague brilhante surgir na treva, em forma de um "C" ao contrário. Lentamente, ele foi completando a volta, até que um torto "O" se fechou, recuperei a visão com uma dor de cabeça infernal.
Voltei para casa, arruinado. Minha mãe se assustou, "O que houve?" - e eu, indo para a cama, "Estou muito cansado". Deitei-me, já dormindo, e só acordei no dia seguinte.
Nunca mais tive a cegueira, mas o irrequieto C invertido que se fecha em torturado Ó me persegue até hoje. Principalmente durante as depressões.
A Internet confirma:
"Auras Visuais
Algumas alterações visuais associadas incluem ver:
Pontos cegos;
Manchas coloridas;
Flashes de luz;
Estrelas ou brilhos de luz;
Linhas em ziguezague.
Frequentemente, começam no centro do campo de visão de uma pessoa antes de se moverem para fora. As pessoas também podem sofrer perda temporária de visão ou cegueira durante um episódio de enxaqueca”.
( De minha auto b/i/o grafia )