Protágoras de Abdera, famoso filósofo grego que viveu entre 480 a.C. e 410 a.C., expressa a seguinte afirmação em seu trabalho Acerca d...

Verdade individual

filosofia grecia antiga
Protágoras de Abdera, famoso filósofo grego que viveu entre 480 a.C. e 410 a.C., expressa a seguinte afirmação em seu trabalho Acerca da verdade: “O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são”. Conforme essa tese, o único critério para determinar a verdade está na perspectiva individual. A ideia é explorada no diálogo Teeteto, escrito por Platão, filósofo e matemático grego que viveu entre 428/427 a.C. e 348/347 a.C. Protágoras destaca a importância da subjetividade e particularidade de cada indivíduo,
confirmando que tudo é relativo e que não existe uma verdade absoluta.

As duas obras do filósofo de Abdera são As Antilogias e A Verdade. As Antilogias abordam o tema da realidade de forma instável e incerta, revelando a complexidade da tarefa de cada pessoa ao se posicionar como defensor de critérios e limites para a verdade e/ou decisões. Nesse contexto cético, a antilogia surge como uma oposição entre argumentos que possuem força equivalente. A verdade, portanto, é exclusivamente dependente da experiência pessoal. Se uma pessoa acredita que algo é verdadeiro, então, para ela, isso é a verdade. Consequentemente, cada indivíduo é a medida de sua própria percepção.

O sofista Protágoras foi o primeiro a argumentar, em As Antilogias, que todas as questões têm dois discursos coerentes em si, mas que se contradizem mutuamente. O antropocentrismo protagórico sustenta que “o homem é a medida de todas as coisas”, ou seja, nada pode ser considerado válido para todos os homens. As leis, as regras, a cultura, tudo deve ser definido pela comunidade, e o que é válido em um lugar não é necessariamente válido em outro. Assim, não se pode chegar a um conceito absoluto sobre qualquer coisa. Essa teoria enxerga a realidade como algo contraditório,
afirmando a imanência recíproca dos opostos, dividindo a contradição e relativizando o conhecimento. De cada pessoa, individualmente considerada, dependem as coisas, não na sua realidade física, mas na sua forma conhecida.

Segundo Platão, em seu livro Protágoras (Editora da Universidade Federal do Pará, 2002, 322a-323c, p. 67 – 68), o sofista de Abdera defende a ideia de que todos os homens possuem a mesma capacidade de pensar e compreender as dificuldades e os problemas da Polis, e conseguem posicionar-se adequadamente. Cada Polis, por sua vez, molda o pensamento e a reflexão do homem. A razão sócio-política portanto, é relativa à convenção. Não existe uma Polis perfeita, exceto em fantasias e imaginações. Até mesmo a razão é construída socialmente. Cada Polis possui uma maneira única de compreender a si mesma.

Protágoras defendia a democracia e ensinava seus alunos a articularem-se de forma incontestável na Assembleia. O processo contraditório no diálogo protagórico é de extrema importância para o exercício democrático. Nele, não se deve buscar a essência da verdade, que é relativa e carece de consenso. É necessário intensificar a lógica nos argumentos opostos.

Protágoras é um humanista em sua filosofia. Conforme sua principal teoria (“o homem é a medida de todas as coisas”), cada indivíduo deve desenvolver suas próprias opiniões. O seu pensamento relativista e individualista ensina seus seguidores a construírem suas próprias verdades e a serem responsáveis por sua própria história e destino. A certeza está diretamente ligada à experiência pessoal. Um conhecimento absoluto, além das opiniões, não é possível. Dado que não se pode negar a veracidade da percepção de outra pessoa, cada ser humano é o juiz absoluto de sua própria percepção. Portanto, nenhuma interpretação pessoal pode ser questionada. Cada indivíduo tem autonomia para determinar o que é e o que não é. O conhecimento está sempre condicionado às circunstâncias e contextos em que uma pessoa se encontra. Ele conclui que qualquer conceito e afirmação é relativa a um determinado ponto de vista, sociedade ou modo de pensar. As seguintes frases expressam o pensamento protagórico:

“Tal como cada coisa se apresenta para mim, assim ela é para mim, tal como ela se apresenta para você, assim ela é para você.”

“Todo o argumento permite sempre a discussão de duas teses contrárias, inclusive este de que a tese favorável e contrária é igualmente defensável.”

“Das coisas belas, umas são belas por natureza e outras por lei, mas as coisas justas não são justas por causa da natureza, os homens estão continuamente disputando pela justiça e a alteram também continuamente.”

“Sobre qualquer questão existem dois argumentos contrários entre si.”
A Escola Sofista congregava eruditos nas áreas da filosofia, literatura, poesia, oratória, ciência e música. Sua natureza era nômade, uma vez que os sofistas espalhavam seu conhecimento por diversas cidades gregas, em troca de pagamento. Seu objetivo era transformar as pessoas em cidadãos exemplares, virtuosos. Atualmente, suas contribuições continuam a enriquecer a educação com uma pedagogia diversificada e significativa, considerando o contexto político, cultural e as necessidades sociais para a construção da dignidade humana, do senso de pertencimento e da partilha de verdades individuais.

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