Incitação da insígnia do pensamento é como eu definiria um insight. A mim é uma grande tarefa (risco) tecer alguns comentários sobre o poeta, a pessoa de Carlos Aranha e o seu primeiro livro de poemas, “Nós – an insight”
(Linha D’água, 2011). Nesse livro, o autor nos promove um diálogo com o poeta do “Eu” (Augusto dos Anjos) sob perspectivas multifocais, que – na verdade – ao condensarmos suas essências, somos levados a uma espécie de unanimidade, pois, com seu lirismo, Carlos utiliza jogos de linguagem que duelam ora com unicidade, ora com pluralismo. Tomemos como exemplo o poema “Nós”, página 17:
“A nossa luz há de brilhar ali.
Sem sombra, assombro,
Assumo o ser que somos nós.
Deus é ser de tom tamanho
que seu silêncio é som da nossa voz”
[...]
Somos nós: um só ser
igual e iguais a Deus,
Imagem retrospectiva,
semelhante introspectiva”.
Com esses embates, Carlos consegue o essencial para se fazer um bom poema: a filosofia. Somos imagem retrospectiva, porque estamos repetindo, em pequenas doses, os milagres da divindade e, ao mesmo tempo, semelhança introspectiva, porque se somos imagem e semelhança como explicar os malefícios que causamos uns aos outros? Deus é mal? Não! Essa introspecção de que o poeta fala pode nos remete à ideia de que somos Deus(es) atrofiado(s).
Outra forma de analisarmos a referência do “Nós” no título da obra, além da relação de contraponto ao livro “Eu”, do Augusto dos Anjos, é tomarmos o “Nós” como as várias facetas que Carlos Aranha possui: músico, leitor, cinéfilo, viajante, rebelde, filósofo. O escritor Astier Basílio percebeu isso ao dizer: “Aranha é um poeta intertextual. Porém... isso não significa que “Nós – An insight” seja um ‘livro polifônico’, mas de fonias muito pessoais”. O uso frequente da metalinguagem e da adoção de ideias metafísicas conferem o caráter pessoal do livro, de um homem que viveu as vanguardas de todas as gerações que se sucederam e que hão de vir. Como disse o saudoso Walter Galvão no prefácio da obra: “É a síntese das inquietações de várias gerações”.
O poeta do “Nós” dá nós na nossa cabeça como um bom versejador sabe fazer (perdoem o trocadilho). Não se trata de um livro para leitores comuns, embora possa conquistar de leitores leigos a intelectuais. Foi assim com a poética do autor de “Versos íntimos”, que, com todo o cientificismo, hermetismo, tornou-se um dos poetas mais celebrados do mundo!
Insight é um poder intuitivo, é previsão, percepção, eclosão de uma grande ideia. Ser nós em Nós constitui um controle sobre o existente e o existencial. Como se a nossa mente fosse a única galáxia a nunca ser reconhecida, porque um insight incita um flash que não poderá ser repetido de uma forma fiel ao que já foi iniciado. “Insightezemo-nos!”.