No café da manhã da padaria Bonfim muitos comensais reclamavam de suas insônias. No meu caso, expliquei, dava-se exatamente o contrário porque depois das atividades físicas da madrugada durmo uma hora antes de ir para a academia e a natação. Depois do almoço, durmo três horas e, à noite, mais seis horas. Ou seja, durmo dez horas a cada dia. O índio do gelo (aquela figura que o professor Dorgival Terceiro Neto
tão bem reconheceria como uma hipótese) entrou na conversa e emendou:
⏤ Doutor, dormir é bom demais. Eu também durmo muito. Ô Doutor, se dormir já é tão bom, às vezes eu fico matutando que morrer deve ser melhor ainda, né?
Naquela mesa, dos oito ocupantes, somente três não tínhamos problemas com o sono. Chamou-me atenção esse fato e fui procurar saber se muitas pessoas sofrem com insônia.
Bom, o que se diz é que muita gente já sofreu. O exemplo mais antigo seria do cônsul romano Marco Atílio Régulo, a primeira pessoa da história a morrer de insônia. Ele teria sido entregue aos cartagineses, inimigos de Roma, que o torturaram até a morte, amputando-lhe as pálpebras e obrigando o pobre coitado a olhar continuamente para o sol. Não encontrei nenhuma comprovação científica sobre a veracidade deste fato, mas descobri que nos países menos industrializados no máximo 2% da população sofre de insônia, enquanto na Inglaterra esse percentual pode passar dos 40%. Não há espaço para dizer a quantidade de razões, todas críveis, corroborando essa constatação. Vamos em frente.
Também descobri que os remédios e tratamentos para combater a insônia são do balacobaco. Um clérigo inglês, Robert Burton, ainda em 1628, recomendava não comer couve à noite, enquanto na Austrália do século XIX anunciavam-se “cigarros índios” da Grimault & Co., que continham...maconha. Arretado mesmo era dizer que a insônia vinha da afluência da circulação sanguínea no cérebro, fazendo as extremidades do corpo ficarem frias. Óbvio que se assim fosse o cérebro ficaria de vigília, daí a insônia. O remédio? Esfregar as mãos com uma escova para favorecer a circulação faria a pessoa dormir rapidamente.
O fato é que a ingênua indústria farmacêutica descobriu o filão e começou a produzir de um tudo para curar a insônia. A projeção é de que até 2030 o negócio fature mais de seis bilhões de dólares.
Voltando ao nosso café da manhã na Bonfim. Um dos insones revelou que aproveita bem as noites não dormidas, colocando em dia uma lista de coisas para se preocupar.