Vivi algumas vezes o salto desse garoto nu para o deslumbrante abismo, em meu quadro "Mirabile Visu", embora não me desse co...

Tua é a terra com tudo o que existe no mundo

pintura abismo waldemar solha
Vivi algumas vezes o salto desse garoto nu para o deslumbrante abismo, em meu quadro "Mirabile Visu", embora não me desse conta disso ao criá-lo, nem me preocupasse com explicações:

pintura abismo waldemar solha
WJ Solha
1
o saltar da ponte pênsil do açude Mãe d´Água, em Coremas, em 1963;

2
ao desafiar o babalorixá de Fortaleza a um duelo, ele "atuado" com o seu alegado pai Zé Pelintra, em 69;

3
ao chegar à casa de José Américo de Almeida com os originais de meu livro Zé Américo Foi Princeso no Trono da Monarquia, sabendo que iria enfurecê-lo, 1976;

4
ao mergulhar ao lado da placa de "Área sujeita ao ataque de tubarões", nas filmagens d'O Som ao Redor, 2010;

5
ao não aceitar a oferecida remoção imediata da agência do BB de Pombal quando se soube que Antônio Letreiro fora pago para me matar, 69;

6
ao decidir deixar de fazer teatro, em 1988;

7
ao deixar de fazer cinema, em 2010;

8
ao deixar de pintar, em 2004 — para me dedicar exclusivamente à literatura.

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WJ Solha
Uma semana antes do falecimento de meu pai, em 1992, encontrei-o de cama. Conversamos bastante. Em certo momento, pediu-me que lesse em voz alta, para ele ou para nós, o poema Se — "If" — , de Kipling, que havia — em tradução de Guilherme de Almeida —, no Tesouro da Juventude — coleção que fora minha e deixara para ele, ao vir para o Nordeste.

Fiz isso. E acho que entendi a razão do pedido da leitura, ao chegar a estes versos:

"Se és capaz de arriscar numa única parada Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada, Resignado, tornar ao ponto de partida, (...) Tua é a terra com tudo o que existe no mundo E o que mais — tu serás um homem, meu filho!"
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WJ Solha
Senti que a leitura do poema tinha a ver com o investimento pesado — e perdido — (vendera casa e carro para isso) na produção d'O Salário da Morte, desastre compensado com o prêmio Fenando Chinaglia, em 74, a meu primeiro romance, Israel Rêmora.

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