Vivi algumas vezes o salto desse garoto nu para o deslumbrante abismo, em meu quadro "Mirabile Visu", embora não me desse conta disso ao criá-lo, nem me preocupasse com explicações:
WJ Solha
1
o saltar da ponte pênsil do açude Mãe d´Água, em Coremas, em 1963;2
ao desafiar o babalorixá de Fortaleza a um duelo, ele "atuado" com o seu alegado pai Zé Pelintra, em 69;3
ao chegar à casa de José Américo de Almeida com os originais de meu livro Zé Américo Foi Princeso no Trono da Monarquia, sabendo que iria enfurecê-lo, 1976;4
ao mergulhar ao lado da placa de "Área sujeita ao ataque de tubarões", nas filmagens d'O Som ao Redor, 2010;5
ao não aceitar a oferecida remoção imediata da agência do BB de Pombal quando se soube que Antônio Letreiro fora pago para me matar, 69;6
ao decidir deixar de fazer teatro, em 1988;7
ao deixar de fazer cinema, em 2010;8
ao deixar de pintar, em 2004 — para me dedicar exclusivamente à literatura.WJ Solha
Fiz isso. E acho que entendi a razão do pedido da leitura, ao chegar a estes versos:
"Se és capaz de arriscar numa única parada
Tudo quanto ganhaste em toda a tua vida
E perder e, ao perder, sem nunca dizer nada,
Resignado, tornar ao ponto de partida, (...)
Tua é a terra com tudo o que existe no mundo
E o que mais — tu serás um homem, meu filho!"
WJ Solha