Publicado em 1972, O Animal Social , do psicólogo estadunidense Elliot Aronson (1932), é uma obra de referência da psicologia social ...

Radicalização ideológica

ideologia radicalizacao socializacao psicologia social
Publicado em 1972, O Animal Social, do psicólogo estadunidense Elliot Aronson (1932), é uma obra de referência da psicologia social contemporânea. O livro realiza uma análise das dinâmicas sociais, propondo reflexões sobre os desafios enfrentados em sociedades marcadas por desigualdades, manipulações simbólicas e ódio. Ele ensina os leitores a reconhecer e resistir a mecanismos de manipulação, contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos, e apresenta uma análise dos fatores que influenciam o comportamento humano em sociedade, aliando pesquisas empíricas a reflexões teóricas acessíveis tanto ao público acadêmico quanto ao leigo.

ideologia radicalizacao socializacao psicologia social
Elliot Aronson
University of Minnesota
O autor busca responder a questões sobre a natureza da convivência humana:

Por que as pessoas seguem regras sociais mesmo sem questioná-las? Como a propaganda e a publicidade exercem influência sobre o comportamento individual? O que leva alguém a se conformar com a maioria, mesmo sabendo que ela está errada? Como uma pessoa comum pode ser levada a cometer atos extremos, como violência ou corrupção? Por que surgem estereótipos e preconceitos, e de que forma eles podem ser combatidos?

O livro O Animal Social aborda a conformidade — a tendência de seguir normas do grupo — e a persuasão, ou seja, a influência sobre pensamentos e comportamentos. Aronson expõe as estratégias utilizadas por políticos, publicitários e líderes religiosos para convencer o público, muitas vezes recorrendo à exploração de emoções como o medo, o desejo e a culpa. Entre as técnicas de persuasão analisadas, destacam-se:

reciprocidade — a tendência de retribuir favores, mesmo quando não solicitados; escassez — a percepção de que produtos ou ideias têm maior impacto quando parecem limitados; autoridade — a inclinação a obedecer a pessoas que demonstram poder; prova social — a crença de que, se muitas pessoas aceitam ou acreditam em algo, é porque aquilo deve ser verdadeiro.

ideologia radicalizacao socializacao psicologia social
Esses mecanismos, segundo o autor, ajudam a explicar como os cidadãos podem ser levados a tomar decisões sem plena consciência de suas motivações internas.

Elliot Aronson defende que grande parte do comportamento humano só pode ser compreendida por meio da realidade social em que ocorre. Em vez de atribuir as ações humanas exclusivamente a traços de personalidade, ele propõe que o ambiente social exerce influência decisiva sobre atitudes, decisões e comportamentos. Essa perspectiva é confirmada por diversos experimentos. Um deles é o estudo do psicólogo polonês Solomon Asch (1907–1996) sobre conformidade, que demonstra como a pressão de um grupo pode levar indivíduos a adotar comportamentos contrários à sua própria percepção ou julgamento.

Aronson também destaca o experimento conduzido por Stanley Milgram (1933–1984), que investigou a obediência à autoridade. Nele, participantes foram levados a realizar atos moralmente questionáveis por estarem obedecendo a ordens de um
Stanley Milgram @harvard.edu
líder autoritário. Esses estudos reforçam a tese de que o comportamento humano é moldado por pressões sociais, muitas vezes inconscientes. Ao evidenciar essas influências, Aronson convida o leitor a refletir sobre a noção de autonomia individual, revelando a complexa rede de fatores sociais que orientam as escolhas cotidianas.

Em O Animal Social, Aronson dá destaque ao conceito de dissonância cognitiva, desenvolvido pelo psicólogo estadunidense Leon Festinger (1919–1989). Segundo essa teoria, os seres humanos buscam coerência entre suas crenças e comportamentos. Quando essa harmonia é rompida, surge um estado de desconforto psicológico — a dissonância — que os indivíduos tendem a reduzir por meio de mecanismos de racionalização. O autor também analisa o fenômeno da autojustificação, entendido como a tendência de reinterpretar fatos e decisões a fim de preservar uma autoimagem positiva. Esse mecanismo psicológico é evidente em situações de falha moral, nas quais, em vez de reconhecer o engano, o indivíduo reformula suas crenças ou atitudes para manter a ilusão de consistência e integridade. Essa racionalização aparente mantém narrativas pessoais distorcidas.

GD'Art
A partir desse mal-estar, Aronson investiga como tais mecanismos contribuem para a formação e a perpetuação de dinâmicas sociais como o preconceito, a polarização política e a radicalização ideológica. Como proposta para a redução dessas hostilidades, o pensador defende o contato intergrupal estruturado. Quando realizado com cooperação entre os grupos e apoio institucional, esse tipo de interação diminui a tensão entre comunidades, promovendo o respeito e o diálogo para a construção de sociedades mais solidárias.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. Questões universais e até mesmo atemporais, dada a sua amplitude. O filósofo Klebber sempre nos ensinando e ajudando a pensar. Parabéns. Francisco Gil Messias.

    ResponderExcluir

leia também