Gostaria de falar
Sobre coisas importantes
Mas prefiro as úteis
Como o desejo
De desfazer a história
Não para que ela deixasse
De existir
Mas para que
Se fizesse outra
Como aquelas
Que nunca existiram
Porque nelas não houveriam homens
Eles não sabem fazer histórias
De verdade
Daquelas que Cabem todo mundo
É que eles não sabem
O que é todo mundo
Talvez uma história
Sem tempo
Só ela
Plena
Sem ser e
Sem linha reta ou circular
Uma que fosse inteiramente
Isenta de verdades
E coubessem nela
Areias e universos
Que são sim
Coisas importantes
Amar é um verbo incompetente
É incapaz de traduzir o que pretende
É menor que a delícia
Que se sente
E não pode dizer o tanto
Do ser e do estar amar
Amar é menor
Que a Doçura de um olhar
E nada é
Quando é a alma que sente
Mas se só temos esse verbo
Que seja ele mais que uma palavra
Seja também uma atitude
Um cuidado
Seja maior que os mares
As montanhas e os homens
Maior que Deus
E caiba numa nota sonora
Numa palarvorealada...
Um homem que crer
Que é mortal
E mais humano
Um homem que respeita a morte
E muito mais humano
E dorme de bruços
Um homem de meias na madrugada
Respeita seus pés
E os protegem do frio
Um homem que tem amor
Só por ter
Compreende tudo isso
Para minha amiga Auxiliadora, que eu chamava de Galega. Companheira de luta pela vida contra um câncer. Hoje ela mudou de plano.
Fecha-se a possibilidade
Da volta
E a vida atira-se ao infinito
Sempre achamos injusto
O ir sem retorno
Pela dor que causa
Mas nunca avaliamos as asas que
Ganhamos quando se salta
Para além do que nos prende
E se derrepente a dor estanca
E Esparge a luz que desconhecemos
E então se renascemos é uma nova dança
Não há promessa de eu levando ainda
Um baú pesado do passado
Só eu... livre... com asas
Se restará um jazigo
Que seja um jazz
De saudades passageiras
Eu voar agora comigo
E soprar o perfume
Que chamam de eternidade.
















