FINADOS Todos os anos, novas flores, em túmulos lavados, murcham e caem, sob o sol de novembro. Todos os anos, uma ve...

A tênue esperança de um milagre

poesia paraibana marineuma oliveira
 
 
FINADOS
Todos os anos, novas flores, em túmulos lavados, murcham e caem, sob o sol de novembro. Todos os anos, uma vela acesa de repente se apaga, ao vento norte que teima em surgir. Todos os anos, uma breve oração entrecortada, apressada, sem convicção. Todos os anos, uma saudade, antes imensa, aos poucos se dilui na poeira da estrada que os vivos precisam seguir.



DA MORTE
Imensa é a solidão de quem está morrendo. Não há como fugir do instante derradeiro a ser enfrentado. Viver pode ser comunitário, mas morrer é, sem dúvida, um momento solitário.



ANONIMATO
pouco vale a frágil vida é quase nada essa ferida aberta a muque na hora fatal da emboscada a terra há de cobrir o parco corpo caído a tiros de balas propositais ou perdidas na vala fria uma história sem graça, ou desgraçada, será esquecida



TREM
postes árvores pedras velocidade sol vazando pelas cortinas das janelas luminosidade casinhas passando depressa fugacidade que vidas ali se escondem? anonimidade que mortes aqui se instalam? susceptibilidade



AQUELAS MÃOS
aquelas mãos descarnadas já estão preparadas para um último movimento: de adeus, um aceno.



ANJOS
Seres cansados brancos e azuis orbitam leitos amarelos onde pacientes, em soluços, engolem a dor de gravitar em busca de bolhas de ar. Ambos, num mesmo delírio, carregam a tênue esperança de que um milagre possa a uns redimir, e a outros ressuscitar.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também