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Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra...

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Dizem que a paixão cega, por isso os apaixonados não percebem os defeitos dos parceiros. Uma tradução aproximada dessa verdade se encontra no velho ditado: “Quem ama o feio, bonito lhe parece”. Os apaixonados são movidos por razões que só Freud explica – e aqui não me limito a repetir um clichê. Para o criador da Psicanálise nossa atração pelo objeto amoroso decorre de nebulosas determinações inconscientes, que remontam às vivências infantis.

A gripe é sobretudo uma agressão moral. Você sabe que ela não vai lhe matar, mas o estado a que o reduz é lastim...

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A gripe é sobretudo uma agressão moral. Você sabe que ela não vai lhe matar, mas o estado a que o reduz é lastimável. Não dá para fazer selfie com o nariz vermelho e os olhos injetados. E o pior é o defluxo que dele emana (prefiro o termo “defluxo” ao escatológico “catarro”).

A medicina criou um nome pomposo para designar a gripe – influenza, que vem do italiano. É um termo simpático e que até nos dá vontade de passar pela experiência. Parece haver certa nobreza numa afecção cujo nome evoca a pátria de Dante e Michelangelo. Mas a empolgação acaba quando vêm os espirros e a febre (ou melhor, a febrícula, com esse sufixo derrisório). Seu moral começa a balançar, e o corpo pede cama.

O soneto “Apóstrofe à Carne”, publicado em Outras Poesias, é um dos que bem exemplificam a estética dissonante e segmentada de Augusto dos...

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O soneto “Apóstrofe à Carne”, publicado em Outras Poesias, é um dos que bem exemplificam a estética dissonante e segmentada de Augusto dos Anjos. Nesse poema estão presentes alguns dos tópicos relevantes de sua obra – como o sentimento da morte próxima, a antevisão da própria decomposição física, o julgamento negativo e moral da carne (sexual e perecível) em confronto com o espírito, o desconforto com a hereditariedade (cujo veículo – a conjunção carnal – o eu lírico rejeita). Eis o texto, que a seguir brevemente apreciamos:

A pandemia não foi de todo embora; persiste em casos esparsos, que assustam e às vezes matam. Ainda assim, é grande a pressa das pessoas p...

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A pandemia não foi de todo embora; persiste em casos esparsos, que assustam e às vezes matam. Ainda assim, é grande a pressa das pessoas para voltar ao antigo normal. Isso se explica pelo longo tempo em que o coronavírus privou-as de liberdade, modificando hábitos, dificultando a convivência e fazendo a maioria se enfurnar em casa.

A casa existe como um contraponto da rua, é o lugar para onde se volta depois de sair (com todas as ressonâncias simbólicas que esse gesto possui).

1 A utopia da igualdade gerou algumas tiranias modernas, como o socialismo stalinista. É raro um ditador que não invoque, para conquistar ...

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A utopia da igualdade gerou algumas tiranias modernas, como o socialismo stalinista. É raro um ditador que não invoque, para conquistar o poder, o princípio de que todos são iguais. Esse tipo de pensamento justifica a aplicação de uma diretriz única, confundida com a existência de um único partido. Como pode o Estado, identificado com um partido único, comprometer-se com a diversidade do corpo social? Se for de esquerda, vai demonizar os que têm; se for de direita, vai ignorar os que não têm.

Melancolia e ironia têm em comum a percepção do contraste entre a pequenez do homem e o seu desejo de transcender a si mesmo rumo a uma ...

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Melancolia e ironia têm em comum a percepção do contraste entre a pequenez do homem e o seu desejo de transcender a si mesmo rumo a uma experiência do Infinito. Tanto o melancólico quanto o ironista manifestam a consciência do impasse entre a relatividade do indivíduo e o Absoluto a que ele aspira.

Outra característica comum às duas é o combate entre ideia e forma, sentimento e expressão. É através da Forma que o melancólico procura compensar o sentimento de vazio, o vácuo narcísico que lhe compromete a referência autoidentitária. A arte é um sucedâneo do Objeto Perdido, o que dá à criação artística um estatuto de essencialidade e transcendência.

Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode ser ...

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Desde que o homem é homem, tem a ambição de fabricar instrumentos que o auxiliem e eventualmente o substituam. A história humana pode ser contada, e sobretudo compreendida, a partir dos artefatos com que ele vem transformando a natureza. A máquina é uma extensão de nossas faculdades e aptidões; quanto mais sofisticada, mais indicativa do refinamento a que terá chegado a inteligência humana.

Entre a enxada e o computador, vai um abismo que separa a nossa pré-história do estágio em que fazemos viagens fora da Terra, aspirando à conquista do espaço cósmico. O paradoxal é que, enquanto supercomputadores calculam as trajetórias

A melancolia acompanha o homem desde os seus primórdios, confundindo-se com o desencanto consequente à perda do Paraíso. Na literatura ocid...

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A melancolia acompanha o homem desde os seus primórdios, confundindo-se com o desencanto consequente à perda do Paraíso. Na literatura ocidental, a representação do afeto melancólico remonta a Belerofonte, herói da mitologia grega, e desde então aparece em artistas, filósofos, cientistas e intelectuais cujo luto pelo Objeto Perdido precipita-os num abismo de devaneios e cogitações.

No princípio era o verbo, mas o que era mesmo esse verbo? Signo, carne, luz? Dependendo da resposta que cada um venha a dar, tem-se um mís...

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No princípio era o verbo, mas o que era mesmo esse verbo? Signo, carne, luz? Dependendo da resposta que cada um venha a dar, tem-se um místico, um filósofo, um escritor. Ou mesmo um indivíduo pragmático, para quem a palavra é mera subsidiária da ação. Nascemos entre signos, e o verbo nos engendra.

1 O individualismo é a verdadeira religião universal. Como o indivíduo não se liga a grupos, credos, partidos, não exclui ninguém; está s...

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O individualismo é a verdadeira religião universal. Como o indivíduo não se liga a grupos, credos, partidos, não exclui ninguém; está sempre aberto a todos. Mas o individualismo, ressalte-se, é diferente do egoísmo. O egoísta tende a recusar os outros. O individualista, não.

1 O maior favor que o escritor pode fazer ao leitor é ser sincero. Geralmente os que fogem à sinceridade o fazem por medo do ridículo, co...

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O maior favor que o escritor pode fazer ao leitor é ser sincero. Geralmente os que fogem à sinceridade o fazem por medo do ridículo, como se as íntimas verdades que expõem não fossem também as de quem o lê. O terreno comum aos homens é o das fraquezas disfarçadas, vilanias escondidas, aspirações muitas vezes inconfessáveis; o leitor agradece a quem o leva a se deparar com tudo isso, que também compõe o seu cenário interior.

Entre os ofícios de pai, está o de comemorar o aniversário dos filhos – e comemorá-lo da melhor forma possível, provendo-o não apenas do m...

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Entre os ofícios de pai, está o de comemorar o aniversário dos filhos – e comemorá-lo da melhor forma possível, provendo-o não apenas do material como também do espiritual. E tudo devidamente documentado com fotos e filmes para depois, olhando esses registros, todos na família confirmarem que estavam felizes. Nada pode dar errado e comprometer o sucesso do evento.

O poema “Barcarola”, inserido por Augusto dos Anjos no Eu, remonta a uma tradição cultivada pela poética medieval. Segundo Segismundo Spin...

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O poema “Barcarola”, inserido por Augusto dos Anjos no Eu, remonta a uma tradição cultivada pela poética medieval. Segundo Segismundo Spina, a poesia luso-galega nos legou ao todo quinze barcarolas, sendo que treze delas apresentam estrutura paralelística. Também conhecido por marinha, esse tipo de composição versa sobre assuntos ligados ao rio ou ao mar.

Num dos episódios de “ The Crown ”, o personagem do príncipe Philip recebe a visita dos três astrona...

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Num dos episódios de “The Crown”, o personagem do príncipe Philip recebe a visita dos três astronautas que foram à Lua. Ele está ansioso pelo que vai ouvir. Espera um relato condizente com a extraordinária experiência pela qual aqueles homens passaram. Como tem lá os seus dilemas metafísicos, imagina que o grupo possa lhe dar alguma indicação de que vale a pena crer em Algo Maior.

Segundo o criacionismo, o mundo foi criado por Deus. Isso, a meu ver, de modo algum O recomen...

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Segundo o criacionismo, o mundo foi criado por Deus. Isso, a meu ver, de modo algum O recomenda. É mais sensato imaginar que Deus queria fazer o mundo perfeito, à sua imagem, mas foi atrapalhado por um assistente inábil. Esse modo de ver se compatibiliza com os inúmeros desacertos que vemos nele. O maior desacerto é o próprio homem, esse bicho marcado pela dualidade do Bem e do Mal.

Há quem atribua nossas lacunas e arestas ao material de que fomos feitos – o barro. Por que Deus não usou um material mais resistente? Ou mesmo um desses produtos modernos, como o silicone? Algumas mulheres procuram hoje reparar o equívoco enchendo partes do corpo com esse nobre produto sintético. Mas é tarde. Por mais que plastifiquem a anatomia, a base continua lá, envelhecendo e se preparando para voltar à lama.

Deus usou o que tinha à mão, e só dispunha de seis dias. Era muito pouco para providenciar a Natureza com suas árvores, rios, vales, montanhas. Como seria possível, nesse prazo exíguo, trabalhar cada artefato com esmero? Um dos enigmas da Criação é saber por que Ele, sendo o patrão de si mesmo, trabalhou num prazo tão curto. Talvez não gostasse do que estava fazendo.

Como se não bastasse a exiguidade do prazo, Deus resolveu fazer o homem no último dia, ou seja, quando já estava exausto e tudo que queria era descansar (o trabalho foi tanto, e sob pressão, que Ele descansa até hoje). O efeito dessa pressa é que Adão foi um protótipo mal testado. Isso constituiu uma brecha para o descalabro que se seguiu: veio a Serpente, assessorada por Eva (ou vice-versa), e levou o primeiro homem a provar do fruto proibido. Adão pecou e logo descobriu, envergonhado, que estava nu – o que é estranho. Como ele poderia se perceber nu se nunca tinha usado roupa? O fato é que, devido a esse primeiro pecado, perdemos o Paraíso e nos tornamos mortais.

Geralmente se considera a morte a pior coisa que pode nos acontecer, mas há nisso um contrassenso. As pessoas aceitam de bom grado que o homem é um ser vivo – nasce, alimenta-se, cresce – mas acham um absurdo que ele vá morrer. Ou seja: querem da biologia apenas o que ela traz de bom. É como se depois de nascidos e já formados devesse ocorrer em nós um cancelamento das leis naturais e alguma forma de transcendência viesse nos animar; alguma coisa que daria a nossas células a eternidade. Infelizmente não é assim, de modo que o melhor é tratar de comprar o jazigo (pode ser em prestações). Tem gente que deixa para fazer isso literalmente “na última hora”, o que não é aconselhável. Comprando logo pode-se escolher o lugar e, com sorte, a vizinhança.

Teorias como a do Big Bang sugerem que a Criação está em curso. O universo continua a se povoar de luas, estrelas, galáxias, buracos negros. E agora, aparentemente, sem o controle divino. Deus pretendia que o Cosmo se resumisse à Terra, ao Sol e a alguns poucos corpos celestes, mas parece que perdeu o controle. Outros dizem que Ele continua descansando, mas um dia acorda e vai dar um sentido a tudo isso. Só nos resta esperar.

Quando os negócios vão bem; quando tivemos um dia até satisfatório de trabalho; quando nos preparamos para dormir confiantes no dever cump...

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Quando os negócios vão bem; quando tivemos um dia até satisfatório de trabalho; quando nos preparamos para dormir confiantes no dever cumprido; enfim, quando tudo parece nos predispor à felicidade – eis que aparece a “coisinha”. Ela vem sob a forma de um receio, uma leve preocupação, uma lembrança incômoda que envolve nossa relação com os outros.  

“Toma um fósforo! Acende teu cigarro!” Já se vão mais de cinco décadas desde que ouvi esses versos pela primeira vez. Quem os citava era u...

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“Toma um fósforo! Acende teu cigarro!” Já se vão mais de cinco décadas desde que ouvi esses versos pela primeira vez. Quem os citava era um colega do Liceu Paraibano apaixonado por Augusto dos Anjos e que sabia de cor quase todo o “Eu”. Ele sublinhava com tragadas esparsas o recitativo e assumia um tom lúgubre, que realçava o pessimismo do poema. Um dos versos era de descrença profunda no amor – dizia que a “pantera” da ingratidão é a inseparável companheira do homem.

O fanático é alguém excessivamente aferrado a um credo, um sistema, uma ideologia. Ele não manifesta apenas uma adesão; de tal...

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O fanático é alguém excessivamente aferrado a um credo, um sistema, uma ideologia. Ele não manifesta apenas uma adesão; de tal modo se compenetra daquilo em que acredita, que a priori despreza qualquer valor ou sentimento distintos dos seus.

Gilberto Freyre escreveu dois artigos de enorme importância para a bibliografia crítica de Augusto dos Anjos. O primeiro foi redigido em i...

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Gilberto Freyre escreveu dois artigos de enorme importância para a bibliografia crítica de Augusto dos Anjos. O primeiro foi redigido em inglês e publicado em The Stratford Monthly (Boston, setembro de 1924). Traduzido para o português por Miguel Lopes Viera Pinto, está reproduzido em Perfil de Euclides e outros perfis, que foi publicado em 1944 pela José Olympio, na série Documentos Brasileiros.

Ainda não sei por que me dispus a cursar Medicina. Filho e sobrinho de professores, sempre estive ligado ao...

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Ainda não sei por que me dispus a cursar Medicina. Filho e sobrinho de professores, sempre estive ligado ao magistério. Comecei dando aulas particulares de Português na casa dos alunos. Com isso juntei um dinheirinho, que me permitiu dispensar a mesada do “velho” e comprar meu primeiro carro – um Fusca usado. Fiquei exultante, pois com ele era mais fácil arranjar namoradas.