A cidade cresce, se descaracteriza, fica cinza. Os faróis dos carros só são belos nas fotos noturnas com longa exposição do diafragma ...
O vai-e-vem da esperança
LIVRO NEGRO (Do canto obscuro a beira do mito, percorre-se o possível.) Medusa, Sangre minha língua, Recubra de vida ...
Planície
(Do canto obscuro a beira do mito, percorre-se o possível.) Medusa, Sangre minha língua, Recubra de vida a hóstia - alento do passado. Musa, surpreenda o que no sossego dos dias tingidos, simplesmente - ignora.
Em qual categoria de poeta eu me insiro ? Sou um pintor de luas tortas. Tombadas sobre a terra frágil. Ou seja, trato da poesia fra...
Minha última pele
Sou um pintor de luas tortas. Tombadas sobre a terra frágil.
Ou seja, trato da poesia fragmentada de nosso tempo, dos seus andrajos sustentando uma terra inóspita para a beleza.
Meu poema não é passivo, não enleva a alma ao paraíso, ele lambuza o leitor com a realidade, com a angústia do ser consciente.
O pasto é para todos, por isto cuido do arado, planto, colho, engulo, mas, ao acaso, rumino versos que são a minha fome perseguida.
Aquela palavra-frase que me ignora as súplicas e me arrebata ao seu bel prazer.
Chamo de estalo da palavra este açoite aguardado da musa. Mas luas tortas carecem de aplicabilidade.
Daí ser ignorado tal arquiteto e seu anacronismo.
A lua suspensa e seu telescópio já não dizem nada.
Os irmãos Lumiére não se reinvetam na poesia.
O espaço-tempo não tem fragrância, ele é um galope doido de imagens e informações.
Sei que o poeta não é um ser prático, mas é rico em praticâncias e desassossego.
E assim acordei sendo. Esta é minha última pele. Visto o que sobra das luas que picoto e remendo em minha vida.
Quem sabe aprenda a amanhecer em algum olhar. O que me diz leitor?
A ARTE DO DESAPARECIMENTO Em algum momento há de se aprender sobre o desaparecimento Os dentes assinam as raizes das ...
A vida tem sua fome de glória
Em algum momento há de se aprender sobre o desaparecimento Os dentes assinam as raizes das coisas (algo desapercebido - o lapidar da esfinge) A vida tem sua fome de glória e guerra pela verdade e estende seu piso até a Terra que nos preenche com a derradeira surpresa.
PARANOIDE CAMARÁ Já marquei as circunstâncias com alfinetes coloridos Não me perderei revirando prejuízos no Nada E...
O horizonte é o fluido que deságua na morada do abismo
Já marquei as circunstâncias com alfinetes coloridos Não me perderei revirando prejuízos no Nada E se a imprecisão no poema for uma renúncia, um estar solidário ao conjunto dos passos autômatos, rítmicos, dos exércitos, me calarei de desprezo pelo ofício da escrita.
Vejo como necessária a celebração da vida, da condição racional do homem, de sua possibilidade de escolhas. Mas bem sei do quão é d...
A condição humana
Chega-se ao ponto de ser quase um absurdo discutir o já tão repisado tema do livre arbítrio após um olhar para a foto que motivou este texto.
Convido o leitor que passe o olho na imagem, deixe que ela se fixe, que ela o veja e seja vista, que ela turve os seus olhos e suas certezas, suas verdades.
Em seu sermão sobre São Roque, o Padre Antônio Vieira nos diz que “em todo ato, em cada ser humano habitam muitas verdades”. Falo sobre as verdades que essa foto de Vitor Nogueira me despertou.
Dizem muito da inteligência artificial, da possível empatia que pode ser inserida na forma como a frase é elaborada, como as palavras ...
O significado da palavra
ANCESTRALIDADE (Não sei o que faço falando por sua boca, brotando sabe-se por qual poro de sua existência....
Ancestralidade
(Não sei o que faço falando por sua boca, brotando sabe-se por qual poro de sua existência. ) O som como se soletram os mortos, o remorso, a solidão da passagem das sombras, o interlúdio, o ludibrio das expectativas, as cartas reembaralhadas e seu cheiro de saudade, algum resto de tinta revestindo as paredes dos sonhos, e o testemunho da História que é sua, dentre tantos esquecidos.
PROMESSA DE CONTRATO O cavalo - este que em mim galopa - sou eu sóbrio, farto de portar certezas e testemunhas que cat...
Sombras somadas
O cavalo - este que em mim galopa - sou eu sóbrio, farto de portar certezas e testemunhas que cato pelo caminho Talvez por não resistir à história, insisto nas fábulas dos ladrilhos revirados pelos cascos das mãos nuas Mas quem sabe, em uma manhã despercebida das ausências, eu desabe sobre uma almofada, aqui mesmo nesta sala, onde por vezes, me vejo um tolo E desista de assinar meu nome; de distribuir elogios à loucura.
Aos poucos estão trocando o piso das calçadas de Vitória; novas normas para tornar mais seguro o dia a dia dos pedestres. Podem achar ...
A leveza da queda
Podem achar estranho, mas não me atraem calçadas regulares. Os buracos, as irregularidades e os desníveis me servem como camuflagem do relógio do tempo, como um sinal de que mantenho momentos de distanciamento, de contemplação, de ausência.
Uma ilha dentro da ilha. Poderia definir assim o local onde conversávamos, tranquilamente, sobre literatura. A constante discussão, en...
O ritmo dos pássaros e dos fantasmas
As velhas casas escoam seus sapatos a cada chuva, a cada partida Mas há um íntimo que perpassa a ausência: O peso da...
Ao farfalhar das sombras
QUANDO ESTENDI SEU CORPO NA AREIA Não sei mais de nada. O infortúnio é próprio da falta de sentido. (Ou será a fortuna...
O mito é o pássaro que sobrevoa a tarde?
Não sei mais de nada. O infortúnio é próprio da falta de sentido. (Ou será a fortuna de ter te conhecido sob o efeito do álcool?) A razão são as estrias que acumulamos na pele, e descamam a cada verão escaldante. Quando estendi seu corpo na areia, à semelhança dos fósseis, um outro tempo dizia qual o nome e o motivo de nosso encontro, e o quanto de surpresa preencheria o vazio de nossa existência.
Falo agora do seu silêncio, dizendo: se afasta de minha boca Eu queria me recordar, mas o vazio tem a força que aspira os sonhos, e a memória é um tempo perdido no não encontrar o seu abraço (O cinza não suporta o negro das noites e seus redemoinhos) Não aceito esta morte, perder o amor arrebatado do paraíso do seu nome, e a balança que rege as mãos, e o sentido dos gestos, a mentira de rosto limpo nas manhãs de paz Não quero ser obrigado a parar a noite, uma parte constrita de minha existência pertence ao desespero de sua sombra Eu me curo no tardar de sua partida.
Meu irmão tinha uma mala de livros um dia ele a abriu na minha frente e partiu para o desmedido entrei na mala e me cobri com as páginas de seus sonhos.
Os restos de ontem combinam com os corpos de outras eras. São os mesmos mortos, as mesmas taças, o mesmo desperdício. A tradição das luvas e das meias, as fendas na carne, as porções de nozes sobre a mesa e as varejeiras, tranquilas, sobre os castiçais
Eu não saberia dizer, estou atordoado, pisar o sem fundo das casas, entrar pelos telhados na vida das pessoas, saber os muitos tons da verdade, que a terra engole a fala dos homens e os aniquila com esse funil de lama tragando o ar e a voz de Minas. O mito é o pássaro que sobrevoa a tarde? Não, isso é poesia, e estou falando da morte.
A CASA QUE ME RECEBEU DE PÉ Olhá-la sobre os ombros da primeira mulher Depois do gosto do leite, o pão, o ovo frit...
Alguma coisa chamada cor
Olhá-la sobre os ombros da primeira mulher Depois do gosto do leite, o pão, o ovo frito na manteiga - a saciedade Cantos escuros, lascas de madeiras e a correria das formigas nos tacos brilhantes E o erguer-se, esse simulacro de liberdade das patas A primeira janela, o canto das Nereidas, e o enigma da luz (Ficou, de fora, a promessa do azul)
MANUAL DA ARQUITETURA DO VAZIO “ Os quartos por onde eu deito são pedaços de parede ” (Roberto Almada) Divida a casa por circuns...
A simplicidade do sótão disfarçando a imensidão
CAMINHAVA-SE e o não distante, retinia nos bolsos. (não se atropela com passo inútil a promessa do broto de amanhã) ...
No silêncio das cinzas
e o não distante, retinia nos bolsos. (não se atropela com passo inútil a promessa do broto de amanhã) Retiniam nos bolsos os cristais, as balas, o despreparo de ser na miséria. Caminhava-se perdidamente, às cegas, tonto de saber-se tonto,
Rotina Convivia-se com a conformidade de ter o universo próximo de casa. O espaço delimitado pelo absurdo traço da co...
No curtume das horas ou nas contas do terço
Convivia-se com a conformidade de ter o universo próximo de casa. O espaço delimitado pelo absurdo traço da conveniência era marcado pelas solas dos sapatos. (e trazia a fotografia do mijo fora da privada) Para o gozo o número era par. Pouco importava a singularidade da morte.
NATUREZA As artimanhas dos grãos perseguindo a eternidade As vozes perdidas no bambuzal O ponteio disperso no ve...
As artimanhas dos grãos
As artimanhas dos grãos perseguindo a eternidade As vozes perdidas no bambuzal O ponteio disperso no verde profundo O despejar no Mundo de chumaços de Pólen O prisma orvalhado nascendo no tear das aranhas O revoar das lanternas noturnas A generosidade da Paz entrecortada de espantos
SILÊNCIO, POR FAVOR A beleza, essa panaceia para o desatino, deixa de lado os seus afazeres árduos de ser exceção den...
Rei do Futebol
A beleza, essa panaceia para o desatino, deixa de lado os seus afazeres árduos de ser exceção dentre a vulgaridade dos dias e se curva diante do Rei do Futebol.
Era longe de um recanto a outro, (custavam anos e atropelos) construí-los, encontrá-los, destituí-los do poder sobre nossa vida A facilidade de idealizar, corromper a decência da crítica, evitar o torpor da certeza das paredes
ÁGUA A água dura o tempo de seu gosto, o reflexo oblíquo do Sol que insiste, o pormenor dos cinquenta tempos do Mundo ...
No rasante da libélula
A água dura o tempo de seu gosto, o reflexo oblíquo do Sol que insiste, o pormenor dos cinquenta tempos do Mundo no rasante da libélula É esta água, repasto de surpresas, não a mesma, sempre a mesma, dispersa no azul redondo Água que transborda e cessa, recria e arrasta, carrega o som e derrama o silêncio