Quem bebe no manancial de seus livros será enriquecido e alimentado pela sabedoria de personagens que brotam da terra castigada pelo Sol. Tudo é fonte de inspiração, terra iluminada pelas malacachetas.
Caminho pelas veredas literárias de Ariano Suassuna como um caçador de esmeraldas, ansioso por descobrir a pedra valiosa, a recolher ao ...
Ariano, o Imperador das Artes
Quem bebe no manancial de seus livros será enriquecido e alimentado pela sabedoria de personagens que brotam da terra castigada pelo Sol. Tudo é fonte de inspiração, terra iluminada pelas malacachetas.
Há menos de meio século, quando aportei nesta cidade carregando comigo os canaviais e as palmeiras de Serraria, a temperatura morna de Ara...
Lauro Xavier, o homem que plantava árvores
No dia 10 de novembro de 1891, o mundo da poesia ficou mais triste. Aos trinta e sete anos, Arthur Rimbaud encerrou sua temporada de poe...
Rimbaud, 130 anos depois
Triste sina de poetas que nem na morte como tal são identificados. As vezes na lápide se faz constar com esse nome. Nem sempre! Mas de Rimbaud ficou a imagem de um poeta genial, construtor de uma poesia irrefutável. Poesia que sempre será reconhecida, e novas gerações vão lembrar dele pela sua dimensão de qualidade inquestionável.
A cidade de Serraria precisa homenagear a professora, poetisa e médica Eudésia Vieira, paraibana que se dedicou à emancipação feminina e ...
Eudésia Vieira, 40 anos depois
Há cem anos, na sua juventude, em nossa cidade, atuou junto aos necessitados do saber, como professora. Revelando-se, no seu tempo, uma mulher comprometida com as causas sociais.
Quando publiquei o livro de crônicas “Recado do meu sítio”, em 2007, com prefácio de Carlos Romero , o poeta Luiz Augusto Crispim fez um c...
'Pequeno sertão: veredas', o recado de Crispim
Desejo partilhar com os leitores deste privilegiado espaço de divulgação das artes e de saberes, o depoimento do cronista que, mesmo ausente, sua voz chega aos ouvidos com estímulo para continuar escrevendo.
Quando visitei Taperoá em remota ocasião, acompanhado de Gonzaga Rodrigues e do fotógrafo Antônio David para encontrar Dorgival Terceiro ...
Como era verde Taperoá
No aceiro da Serra do Pico, espalhando-se pelo entorno, a vegetação era somente graveto, sem nenhum vivente. No leito seco do Rio Taperoá, que banha a cidade, um magote de cabras passeava.
O destino dos livros em Serraria era algumas casas na rua principal e ao redor da praça central, e objeto de adorno de salas nas casas...
O mundo encantado das livrarias
No sítio onde morávamos restavam, na maioria das vezes, revistas sobre agropecuária e a desbotada Bíblia, de modo que somente em Arara, já entrando na metade da segunda década de minha vida, cobicei a biblioteca de Marísio Moreno. Quando cheguei para morar nesta Capital, em 1971, ampliei o olhar à estante apinhada de livros que Nathanael Alves abriu para mim e que, depois, Gonzaga Rodrigues ensinou como escolher a melhor leitura e dela tirar proveito.
Aquela noite da agonia derradeira, quando contemplei o rosto sereno de minha mãe na cama do hospital, segurando meu braço, ela murmurou co...
O último olhar de mamãe
No ano passado não me avisaram quando começou a Primavera, mas agora fui avisado de sua chegada pela mudança do vento e da chegada de pequ...
Lua cheia e a Primavera
A Folhinha do Sagrado Coração de Jesus pendurada na parede da biblioteca apontava o dia 22 de setembro como início dessa estação, então comecei a prestar a atenção em flores e o vento da tarde durante minhas caminhadas vespertinas.
Criada para perpetuar as letras da Paraíba, a Academia Paraibana de Letras completa 80 anos. No dia 14 de setembro de 1941, com retardo de...
Os 80 anos da APL
Numa tarde da Primavera que findava, passando pela calçada do Parque Arruda Câmara, a Bica, como popularmente chamam o nosso ...
Poema de uma palavra
“Quando a notícia da morte de Jurandy Moura chegou à redação do jornal, seu corpo já estava estendido na lousa como pássaro sem vida“. ...
Pássaro estendido na lousa
Escrever é um ato solitário, requer silêncio e meditação, entretanto ao final é prazeroso o produto desse isolamento, mesmo sabendo que sã...
Os leitores de cada dia
Uma vez Ariano Suassuna falou que se dava por satisfeito sabendo que seus livros tinham sido lidos por uma pessoa. Dizia isso para demonstrar quanto apreço tinha pelos livros,
Quando minha filha chegou em casa com os dois últimos livros publicados por Walter Galvão, acompanhávamos as notícias dos instantes que p...
A redação ficou triste
Em décadas, ele recolheu numerosos amigos, entre os quais, Angélica e eu nos incluímos, que sentiram sua inesperada partida.
Sentimos profundamente o modo inesperado como ele partiu sem que houvesse despedida. Carregaremos a dor de não mais contarmos com a proximidade de sua amizade e a leitura de seus artigos, a menos que recorramos aos livros, onde deixou seu pensamento. Não chorei a perda do amigo porque todas minhas lágrimas já foram vertidas, mas guardarei a calor da mão estendida e o abraço como patrimônio de memória.
Existem amizades edificadas com tijolos e argamassa que as artes possibilitam construir, no sincero aperto de mãos e na troca de experiênc...
Vida Aberta, um poema global
Com Waldemar José Solha se deu assim: construímos nossa amizade a partir de meado da década de 1970. Ele, volumoso em leituras, ensinava a arte de escrever e de pintar, eu, um jovem sorumbático vindo de Serraria com passagem por Arara, escutava mais do que conversava, ou dava pitaco sobre os assuntos abordados. Ouvia e peneirava tudo o que ele falava e assim aprendi muitas coisas que me têm sido úteis.
No dia em que a rosa surgiu entre galhos, as pétalas caíram ao toque de minha mão displicente. Observávamos as manhãs esperando o sol que ...
Meeiro do jardim
As flores do pequeno jardim de nossa casa são atraentes. Sendo poucas, a beleza se torna grande. As roseiras encostadas à parede do muro, na lua cheia que tivemos recentemente, abriram-se em forma de cacho, expelindo perfume e sorriso.
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Até o final dos anos de 1960, na Paraíba vivia um caboclo que tinha a alma cheia de serenidade e sabia cantar o sentimento do povo de sua...
Zé da Luz, iluminai a poesia
Cheguei para morar nesta cidade banhada pelo mar, sem sair do meu cantinho de terra. Há 50 anos, precisamente no dia 27 de junho de 1971,...
Aqui andava como um camponês
No segundo ano de pandemia, em que mais uma vez os festejos juninos foram sem graça, consola-me recordar o tempo recluso na memória. Sã...
Festejos juninos sem graça
Na época de criança no sítio Tapuio, que continua compondo a paisagem da memória afetiva sempre recordada como alimento para a paz do espírito, alguns lembravam das festas juninas na fazenda quando nossos antepassados ali chegaram, de carro-de-boi e facão, abrindo veredas para plantar esperança e cultivar família.
No bairro onde habito, ainda apresentando aspecto rural apesar dos grandes edifícios erguidos em seu entorno, vez por outra aparece um car...
O canto do carcará
Noutra ocasião, ainda à mesa do café, lá fora o carcará mais uma vez anunciava a solidão dos animais que perderam sua paisagem, que catam espaço para viver e repousar. Carregamos a mesma sina de viver cada um sua agonia, num voo rasante entre nuvens nebulosas dos tempos atuais.
Vai para longe, carcará, leva a saudade que não consigo reduzir nem conter os anseios que atormentam. Caminhar pelas veredas de Serraria, com a camisa aberta ao peito, como cantou o poeta, seria o bálsamo a ungir esta nostalgia. Não é preciso permanecer tanto tempo rondando minha casa, mesmo às escondidas, porque esse seu cantar basta. O retinir do seu canto me faz lembrar as manhãs quando andava pela capoeira, solitário, narrando para as sombras invisíveis - a minha própria sombra - os devaneios atormentadores.
Antigamente no meu caminhar soturno pelas veredas de minha terra escutava o canto dessa ave que ribombava na solidão das grutas, onde também retinia a ária silenciosa do meu coração, que sufocava e ninguém ouvia.
Naquela manhã, o carcará urbano, solitário, pareceu evoluir das nossas lamentações. Seu canto intermitente, às vezes longínquo, tinia aos meus ouvidos. Olhava pela janela, por onde o vento frio penetrava na sala, mas não o avistava. Retornando aos afazeres, envolto meditações acera de passagens do Cântico dos Cânticos, ainda sem acomodar no papel os pensamentos que vagueavam pela mente, tentava afastar as antigas lembranças do passado que buliam comigo. Agarrei o lápis e comecei a rabiscar este remendo de crônica.