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Na adolescência habitamos a mesma paisagem e fomos alimentados pela garapa da cana caiana e pisamos no barro que ficou pregado nos pés...

Na adolescência habitamos a mesma paisagem e fomos alimentados pela garapa da cana caiana e pisamos no barro que ficou pregado nos pés. Ramalho Leite e eu carregamos a sina de ter nascido na terra onde exala poesia e brotam sinais de bonança em cada córrego e capoeira. Entre Borborema e Bananeiras, Ramalho construiu vitórias antes de exibir o estandarte da imortalidade. No aceiro da paisagem das duas cidades encontra-se Serraria, com belas palmeiras que acenam do cocuruto das serras, impulsionando-nos a não desistir mesmo que os caminhos sejam enviesados.

Primeiro foi o anjo torto que mandou ser gauche na vida. Atendeu a ordem e tornou-se o sumo poeta brasileiro. Debaixo de mangueiras lia a ...

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Primeiro foi o anjo torto que mandou ser gauche na vida. Atendeu a ordem e tornou-se o sumo poeta brasileiro. Debaixo de mangueiras lia a história de Robinson Crusoé. Num meio-dia de luz branda uma voz de ninar vinda dos longes da senzala trouxe acalento, recordava que nunca esqueceu do café quente da preta amorosa, enquanto sua mãe cosendo olhava para o garoto que dormia no berço e o pai campeava pelo mato sem fim da fazenda. Até que despertou para a vida.

Dois acontecimentos em 2021, importantes para as Letras universais, passaram despercebidos entre nós. Foram os 700 anos da passagem do poe...

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Dois acontecimentos em 2021, importantes para as Letras universais, passaram despercebidos entre nós. Foram os 700 anos da passagem do poeta Dante e os 140 anos de nascimento do poeta Juan Ramón Jiménez, dois ícones da Poesia mundial.

É certo que outras datas igualmente relevantes foram ou deveriam ser lembradas no reino da Poesia, mas estas duas não poderiam passar desapercebidas.

No ano passado reencontrei mais uma vez estes dois poetas que me deram arrimo, por isso não poderia esquecê-los. Em décadas passadas Nathanael Alves me levou a desfrutar de muitas paisagens da Arte e fez conhecer os frutos da mística do poeta florentino, igualmente da riqueza poética revelada pelo espanhol. Também ajudou para que eu descobrisse a espiritualidade e sombras poéticas reveladas por ambos, indispensáveis ao alimento da alma, que os dois souberam cantar.

Quando o professor Francelino Soares comunicou que havia indicado meu nome à professora Tania Castelliano para ocupar uma vaga na Academia...

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Quando o professor Francelino Soares comunicou que havia indicado meu nome à professora Tania Castelliano para ocupar uma vaga na Academia de Letras que estava sendo implantada em Cabedelo, logo aprovado em consenso pelo grupo que estava à frente da sua organização, imensa foi minha surpresa. Maior ainda mais quando conheci a lista dos 40 acadêmicos e acadêmicas e os patronos e patronesses das cadeiras que passamos a ocupar, muitos dos quais meus conhecidos e outros que agora engradeceram a fortuna da amizade.

Os poetas místicos buscam resposta para as inquietações motivadas pelas transformações em seu redor, sejam de ordem espiritual ou materia...

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Os poetas místicos buscam resposta para as inquietações motivadas pelas transformações em seu redor, sejam de ordem espiritual ou material, porque alteram a paisagem da vida e atormentam a alma.

Em qualquer época de nossa vida ou situação como a que se vive nos dias atuais, é tempo para buscar resposta nos poetas e místicos. Respostas que vêm de quem contempla o mundo com os olhos do coração e afastam a dor com uma metáfora.

Quando nos aproximamos do sítio, pequena aglomeração rural, inesperadamente um menino saiu apressado de uma casa de taipa, pequena, telh...

Quando nos aproximamos do sítio, pequena aglomeração rural, inesperadamente um menino saiu apressado de uma casa de taipa, pequena, telha-vã e piso de chão batido. Parou perto de nós, descalço, tinha olhos de sol arregalados e fixos nos estranhos que chegavam. Se corpo tisnado, igual ao de outras crianças que chegavam com algazarra natural à idade.

Lembro que neste período do ano, quando as árvores mudavam as folhas, os cajus e as mangas maduros se esparramavam pelo chão, os araçás a...

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Lembro que neste período do ano, quando as árvores mudavam as folhas, os cajus e as mangas maduros se esparramavam pelo chão, os araçás amadureciam nas capoeiras e em casa mamãe pendurava num galho de árvore capulhos de algodão colhidos no roçado, onde colocava objetos – caixas de fósforos cobertas com papel dourado e flores de papel branco –, sabíamos que chegou Natal.

Na bodega se falava dos preparativos da festa que ocorria na cidade entre o Natal e Ano Novo, com parques de diversões, pescarias, barracas de jogos e bingos, além do pavilhão onde ocorriam os leilões com perus e galinhas assadas. Dias antes, comitiva da Igreja, com uma carta do padre, pedia pelos sítios donativos para as festividades e o custeio da limpeza e manutenção do templo dedicado ao Sagrado Coração de Jesus.

Eram oito dias de festas, com início pelo Natal, com a celebração do advento e nascimento do Menino Jesus, e concluídas em primeiro de janeiro, com a imagem do homenageado num andor que percorria nos braços do povo a Rua Monsenhor Walfredo até a Praça Antônio Bento, em frente da Igreja, onde ao entardecer, era celebrada missa.

De roupa e sapato novos, na boca da noite acompanhávamos grupo de gente procedente dos sítios que se dirigia à cidade, numa boa prosa, às vezes sob o luar.

A praça ficava engalanada para a festa, que começava ao final do dia, tinha intervalo para a Missa do Galo e depois todos voltavam aos folguedos para brincar até o dia amanhecer. Retornávamos felizes, empoeirados e cansados para a labuta do dia, aos afazeres do sítio que não poderiam deixar para depois.

O pensamento voltou para o menino que não saiu da manjedoura. As cantigas ensinadas por minha avó e mamãe são lembradas agora, enquanto a memória reconstrói aquelas cenas.

No sítio onde morávamos, vovó cantava essa modinha que recordo emocionado:

Nossa Senhora à beira do rio, Lavava os paninhos do seu bento filho. Nossa Senhora lavava São José estendia. O menino chorava com o frio que fazia. A Virgem, sorrindo assim lhe dizia: Não chore meu amor! Isso são os orvalhos do Pai do Senhor. O filho do rico em berço dourado e Tu, meu menino, em palha deitado!

Agora são recordações. Boas recordações. O tempo mudou ou mudamos nós? Ficaram as lembranças que nos consolam.

O Menino Jesus que venerávamos naquela época, renasceu agora, mas o coração de todos vive a apreensão da festa que pode não começar devido às balas a zunir sobre nossas cabeças, vindo não se sabe de onde.

Pedaços de recordações de como tudo se realizava com simplicidade, diferente do que vimos agora.

Recentemente visitei uma senhora de noventa anos, que resida em nosso recanto de terra, recordou estes versos, versos que não lembrava.

Com raízes familiares ligados à política ao tempo do Império, em meados do século XIX, o advogado João Dantas, cunhado de João Suassuna...

Com raízes familiares ligados à política ao tempo do Império, em meados do século XIX, o advogado João Dantas, cunhado de João Suassuna, tinha parentes atuando na política com prudência, inclusive, na recém implantada República.

Cedo foi estudar em Recife, base de sua atividade de observador junto a grupos que movimentavam a Faculdade de Direito na capital pernambucana, em princípio do século XX. Gestos comuns entre jovens que frequentavam aquele centro do saber jurídico, onde se edificava elevados conhecimentos sobre as Artes, as ciências jurídicas e sociais, sendo que alguns impunham bandeiras da política.

Num dia ensolarado, que poderia ser lembrado como marco do início de uma época abundante em benefício para a população, foi o começo de um...

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Num dia ensolarado, que poderia ser lembrado como marco do início de uma época abundante em benefício para a população, foi o começo de uma fase nublosa da História republicana, composta de tipos humanos de abomináveis atitudes, podendo-se resumir em falcatruas e dilapidação do bolso alheio pelos atos praticados, que acontece em escala crescente.

Caminho pelas veredas literárias de Ariano Suassuna como um caçador de esmeraldas, ansioso por descobrir a pedra valiosa, a recolher ao ...

Caminho pelas veredas literárias de Ariano Suassuna como um caçador de esmeraldas, ansioso por descobrir a pedra valiosa, a recolher ao bornal preciosidades das artes por ele lapidadas no reino onde é soberaníssimo. A produção literária dele é mina e fonte de água cristalina que sacia a sede de nossa alma.

Quem bebe no manancial de seus livros será enriquecido e alimentado pela sabedoria de personagens que brotam da terra castigada pelo Sol. Tudo é fonte de inspiração, terra iluminada pelas malacachetas.

Há menos de meio século, quando aportei nesta cidade carregando comigo os canaviais e as palmeiras de Serraria, a temperatura morna de Ara...

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Há menos de meio século, quando aportei nesta cidade carregando comigo os canaviais e as palmeiras de Serraria, a temperatura morna de Arara com seus seixos e agave dando o tom da paisagem, foi aqui onde encontrei o prolongamento do verde de minha terra. Igualmente aconchegante, tinha o verde diferente dos lugares onde brotei para a vida.

No dia 10 de novembro de 1891, o mundo da poesia ficou mais triste. Aos trinta e sete anos, Arthur Rimbaud encerrou sua temporada de poe...

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No dia 10 de novembro de 1891, o mundo da poesia ficou mais triste. Aos trinta e sete anos, Arthur Rimbaud encerrou sua temporada de poeta, iniciando no Paraíso celestial uma nova estação de sonhos e poesia. No óbito foi identificado como negociante e o diagnóstico – carcinose generalizada.

Triste sina de poetas que nem na morte como tal são identificados. As vezes na lápide se faz constar com esse nome. Nem sempre! Mas de Rimbaud ficou a imagem de um poeta genial, construtor de uma poesia irrefutável. Poesia que sempre será reconhecida, e novas gerações vão lembrar dele pela sua dimensão de qualidade inquestionável.

A cidade de Serraria precisa homenagear a professora, poetisa e médica Eudésia Vieira, paraibana que se dedicou à emancipação feminina e ...

A cidade de Serraria precisa homenagear a professora, poetisa e médica Eudésia Vieira, paraibana que se dedicou à emancipação feminina e muito lutou para ajudar famílias em estado de desventura.

Há cem anos, na sua juventude, em nossa cidade, atuou junto aos necessitados do saber, como professora. Revelando-se, no seu tempo, uma mulher comprometida com as causas sociais.

Quando publiquei o livro de crônicas “Recado do meu sítio”, em 2007, com prefácio de Carlos Romero , o poeta Luiz Augusto Crispim fez um c...

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Quando publiquei o livro de crônicas “Recado do meu sítio”, em 2007, com prefácio de Carlos Romero, o poeta Luiz Augusto Crispim fez um comentário que trouxe regozijo.

Desejo partilhar com os leitores deste privilegiado espaço de divulgação das artes e de saberes, o depoimento do cronista que, mesmo ausente, sua voz chega aos ouvidos com estímulo para continuar escrevendo.

Quando visitei Taperoá em remota ocasião, acompanhado de Gonzaga Rodrigues e do fotógrafo Antônio David para encontrar Dorgival Terceiro ...

Quando visitei Taperoá em remota ocasião, acompanhado de Gonzaga Rodrigues e do fotógrafo Antônio David para encontrar Dorgival Terceiro Neto, a região era paisagem devastada, com aspecto desolador.

No aceiro da Serra do Pico, espalhando-se pelo entorno, a vegetação era somente graveto, sem nenhum vivente. No leito seco do Rio Taperoá, que banha a cidade, um magote de cabras passeava.

O destino dos livros em Serraria era algumas casas na rua principal e ao redor da praça central, e objeto de adorno de salas nas casas...

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O destino dos livros em Serraria era algumas casas na rua principal e ao redor da praça central, e objeto de adorno de salas nas casas-grandes de engenhos no tempo quando já estavam a caminho de apagar a fornalha.

No sítio onde morávamos restavam, na maioria das vezes, revistas sobre agropecuária e a desbotada Bíblia, de modo que somente em Arara, já entrando na metade da segunda década de minha vida, cobicei a biblioteca de Marísio Moreno. Quando cheguei para morar nesta Capital, em 1971, ampliei o olhar à estante apinhada de livros que Nathanael Alves abriu para mim e que, depois, Gonzaga Rodrigues ensinou como escolher a melhor leitura e dela tirar proveito.

Aquela noite da agonia derradeira, quando contemplei o rosto sereno de minha mãe na cama do hospital, segurando meu braço, ela murmurou co...

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Aquela noite da agonia derradeira, quando contemplei o rosto sereno de minha mãe na cama do hospital, segurando meu braço, ela murmurou com os lábios trêmulos “que Deus te abençoe”, e fui abençoado com a meiguice do seu olhar para o resto de minha vida.

No ano passado não me avisaram quando começou a Primavera, mas agora fui avisado de sua chegada pela mudança do vento e da chegada de pequ...

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No ano passado não me avisaram quando começou a Primavera, mas agora fui avisado de sua chegada pela mudança do vento e da chegada de pequenas flores no jardim suspenso de minha casa.

A Folhinha do Sagrado Coração de Jesus pendurada na parede da biblioteca apontava o dia 22 de setembro como início dessa estação, então comecei a prestar a atenção em flores e o vento da tarde durante minhas caminhadas vespertinas.

Criada para perpetuar as letras da Paraíba, a Academia Paraibana de Letras completa 80 anos. No dia 14 de setembro de 1941, com retardo de...

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Criada para perpetuar as letras da Paraíba, a Academia Paraibana de Letras completa 80 anos. No dia 14 de setembro de 1941, com retardo de quase cinco décadas em relação à Academia Brasileira de Letras, um grupo reduzido de homens dedicados ao uso da palavra escrita achou oportuno criar uma instituição para eternizar as tradições literárias de nossa terra àquela época reverenciada em todo o País, sobretudo pela produção de José Lins do Rego, Augusto dos Anjos e José Américo de Almeida.

Numa tarde da Primavera que findava, passando pela calçada do Parque Arruda Câmara, a Bica, como popularmente chamam o nosso ...

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Numa tarde da Primavera que findava, passando pela calçada do Parque Arruda Câmara, a Bica, como popularmente chamam o nosso zoológico, recordei que muitas vezes ali estive procurando imagens para compor a paisagem de minha poesia, já que Tapuio de minha infância estava distante. Lugar aprazível que nos envolve e conduz ao invisível prazer que não cabe numa crônica. Na minha juventude ali risquei na casca de uma árvore um “S”, a primeira letra do nome da Musa, sem que ela estivesse perto.

Foi um tempo quando caminhava por suas alamedas, contemplativo, sentava à sombra dos ipês amarelos e roxos, o espírito flutuava por sua paisagem enquanto o poema era resumido na escrita deixada no tronco da árvore onde desenhei a letra. Uma letra sintetizando a emoção de que um dia alguém lesse a mensagem do poeta desconhecido, deslumbrado com a beleza do rosto feminino na paisagem da imaginação.