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O último dia 20 de abril marcou mais um aniversário de Augusto dos Anjos. Há 137 anos, ele veio ao mundo; há 109, a força de sua poesia fo...

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O último dia 20 de abril marcou mais um aniversário de Augusto dos Anjos. Há 137 anos, ele veio ao mundo; há 109, a força de sua poesia foi plasmada em um livro singular, sob todos os aspectos – título, vocabulário, ritmo, sonoridade, concepção... –, há 107, morria o homem e, com ele, o poeta, desconhecidos ambos, mas deixando um legado incomparável à literatura.

O texto que apresento a seguir, sobre o soneto “Último Credo”, de Augusto dos Anjos, é fruto do diálogo sistemático que tenho em sala de aul...

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O texto que apresento a seguir, sobre o soneto “Último Credo”, de Augusto dos Anjos, é fruto do diálogo sistemático que tenho em sala de aula, procurando estabelecer um caminho metodológico de leitura analítica e crítica.

Certamente, alguns devem estar incomodados com o título atribuído a este ensaio – “A equação da espiritualidade”. O incômodo é proveniente de se ver, habitualmente, Augusto dos Anjos como o poeta da morte, sentido que ganhou uma dimensão inercial, de tanto repetido. Digamos que, de um modo didático, podemos caracterizar a sua poesia da seguinte maneira: os poemas constituem um sistema de vasos comunicantes, devendo ser lidos em conjunto, cuja linguagem científica

Em A besta humana ( La bête humaine , 1890), Émile Zola põe na boca da personagem Séverine Roubaud os detalhes do assassinato do senhor ...

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Em A besta humana (La bête humaine, 1890), Émile Zola põe na boca da personagem Séverine Roubaud os detalhes do assassinato do senhor Grandmorin, presidente da companhia de trens, por seu marido, que fez dela cúmplice forçada. O crime acontece no interior de um trem, que se desloca de Paris ao Havre (Capítulo II), e só nos é mostrado fragmentariamente. O leitor tem conhecimento do acontecido, não tem dúvida a respeito dos culpados, mas faltam-lhe os detalhes do ocorrido.

Morrer é verbo depoente em latim. Isto significa que o verbo apresenta uma forma passiva, mas com um sentido ativo. Assim, “mŏrĭor”, prime...

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Morrer é verbo depoente em latim. Isto significa que o verbo apresenta uma forma passiva, mas com um sentido ativo. Assim, “mŏrĭor”, primeira pessoa do indicativo infectum de “mŏrī”, “morrer”, não é “eu morro”, embora traduzamos e digamos assim, mas é qualquer coisa como “algo me faz morrer”. Na realidade, ninguém morre, a não ser que provoque deliberadamente a sua morte. É sempre "algo" que nos leva a morrer. Tanto é que o atestado de óbito deve sempre deixar claro qual foi a causa mortis.

Eu tinha 8 anos, mal sabia ler, e já conhecia de cor a primeira parte de “O Canto do Piaga”, de Gonçalves Dias. Ainda que essa primeira pa...

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Eu tinha 8 anos, mal sabia ler, e já conhecia de cor a primeira parte de “O Canto do Piaga”, de Gonçalves Dias. Ainda que essa primeira parte tenha 24 versos, distribuídos por 6 quadras, confesso que não sou nenhum prodígio. Um prodígio saberia Gonçalves Dias de cor. O fato é que três das minhas irmãs mais velhas do que eu — eu sou o sétimo de uma família de 10 — estudaram em colégio de freiras, em Bananeiras, e uma delas mais afeita às artes cantava no coro. Foi através de minha irmã e da música, que a já citada primeira parte de “O Canto do Piaga” se alojou na minha memória.

Aprendemos mais com a leitura dos autores do que lendo o que se escreve sobre eles. Antes que alguém me crucifique pela afirmação, eu me e...

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Aprendemos mais com a leitura dos autores do que lendo o que se escreve sobre eles. Antes que alguém me crucifique pela afirmação, eu me explicarei. Há um vício corrente nos cursos de Letras de começar o estudo de um autor pela sua fortuna crítica. Seria compreensível essa atitude na pós-graduação, quando se espera que os mestrandos e doutorandos já tenham uma sólida base de leitura. Não é o caso. Na graduação, então, nem se fala, tendo em vista que, como sabemos, Letras não é o curso dos sonhos nem de muitos que ali se encontram.

Ao ler o mais recente e belo texto de Germano Romero, “ Uma vida de herói ”, eu senti um estalo na memória. Quando eu vi a estrutura do po...

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Ao ler o mais recente e belo texto de Germano Romero, “Uma vida de herói”, eu senti um estalo na memória. Quando eu vi a estrutura do poema sinfônico de Richard Strauss, que Germano descreveu, Mnemosine, a deusa da memória e mãe das Musas, veio em meu auxílio e, de imediato, a minha mente só chamava para a Eneida de Virgílio:
I - O herói (Der Held) II - Os adversários do herói (Des Helden Widersacher) III - A companheira (Des Helden Gefährtin) IV - As batalhas (Des Helden Walstatt) V - As obras de paz do herói (Des Helden Friedenswerke) VI - Saída do mundo, consumação e transcendência (Des Helden Weltflucht und Vollendung)

Explico-me. É impossível ler a crônica poético-musical de Germano Romero e não associar ao poema épico de Virgílio. Era como se cada palavra dita, correspondesse, na sua essência, à narrativa da Eneida.

Senão, vejamos: o herói Eneias é apresentado, desde o Livro I da Eneida, embora só venhamos a saber os detalhes de sua origem, de sua viagem e o porquê de ele ter sido escolhido pelos deuses, para ser o herói da nação troiana, no Livro II. Eneias, filho de Vênus, é um predestinado ao heroísmo e deve fugir, para fundar uma nova Troia, pois a sua Troia foi destruída pelos gregos. Assim, decidiram os deuses súperos (I. O herói – Der Held).

Para que Eneias cumpra a sua missão e possa realmente ser merecedor da condição de herói assinalado pelos deuses, ele precisa enfrentar muitas adversidades e, claro, adversários, na sua complexa viagem, terra marique, por terra e por mar, à nova Troia, que de verá ser fundada no Lácio, na península Itálica, berço da futura Roma. Ele é que assentará as bases dessa gloriosa cidade, destinada a ser a Caput Mundi, a Cabeça do Mundo. Os adversários iniciais são tanto os gregos, que invadem Troia e a destroem, quanto monstros, como o ciclope Polifemo, as Harpias voadoras, além de pestes, naufrágios, errâncias e más interpretações dos oráculos para que ele encontre o caminho assegurado pelos deuses. Até a própria Juno, a deusa-mãe, o persegue, por razões que estão além da alçada de Eneias, como o julgamento de Páris e o rapto de Ganimedes, troianos, como Eneias, que a ofenderam (II. Os adversários do herói – Des Helden Widersacher).

No Lácio, Eneias vai encontrar a companheira também destinada pelos deuses. Trata-se de Lavínia, a filha do rei Latino, com quem o herói há de casar. Mas não pensemos que o casamento será sem dificuldades, tendo em vista que o herói vai ter que enfrentar novas adversidades para a conquista de Lavínia. A terra fundada será chamada de reino Lavínio, em homenagem à esposa. Fica claro, portanto, que à conquista da mulher, precede a conquista da terra (III. A companheira – Des Helden Gefährtin).

As novas adversidades, pois um herói não é só afeito às adversidades, como também elas nunca acabam, apenas mudam o seu grau de dificuldade, serão as batalhas desenroladas no Lácio, para a conquista da terra; batalhas que ocupam um terço da narrativa, do Livro IX ao XII da Eneida. Destaque-se, principalmente, batalhas contra os Rútulos do rei Turno, o principal oponente do herói, pois Lavínia já estivera prometida a ele, antes da chegada de Eneias. Como já dissemos, conquistar a terra é conquistar a mulher (IV. As batalhas – Des Helden Walstatt).

O auge dessas batalhas é o combate singular entre Eneias e Turno, culminando com a morte deste último. Como a Eneida é um poema inacabado, o poema se fecha abruptamente com a morte de Turno. Virgílio, acometido por uma doença, na volta da Grécia para Roma, morre em Brundisium, atual Bríndisi, em 19 a. C., após dez anos de trabalho no poema, que começou com um pedido pessoal de Otávio César Augusto. Após a sua morte, Augusto designa os poetas Tucca e Varius, para editar o poema como ele se encontra, com cerca de 50 versos hexâmetros inacabados e sem o epílogo, característico dos poemas épicos.

Diante da morte prematura de Virgílio e da edição póstuma do poema, em 17 a. C., preservado como o poeta o deixou, não vemos a construção da nova Troia, o novo reino tão sublimado, que levará o nome de Lavínio, nem as obras de paz do herói. Estas viriam, consequentemente, vez que Eneias é o modelo do rei indo-europeu, em suas três fases de rei-guerreiro, rei-sacerdote e rei-empreendedor. Infelizmente, a parte que seria para celebrar os empreendimentos que levam ao progresso e à paz, como um tributo a Augusto e a sua decantada Pax Romana, não se encontra no poema (V. As obras de paz do herói – Des Helden Friedenswerke).

Do mesmo modo, não veremos a transcendência do herói, mas a tradição nos diz e isto é, de certo modo, antecipado no Livro I da Eneida, quando da profecia de Júpiter a Vênus. Eneias, depois de fundada a nova Troia, reinará por três anos, sendo arrebatado pelos deuses, num fenômeno que se chama de apoteose (ἀποθέωσις), saindo do mundo, transcendendo a matéria, para ir viver junto aos deuses, porque soube conquistar o status de herói que lhe foi conferido (VI. Saída do mundo, consumação e transcendência – Des Helden Weltflucht und Vollendung).

Em linhas gerais, podemos constatar como a estrutura de Richard Strauss para o seu poema sinfônico “Uma vida de herói” se aplica, na sua essência, ao poema épico e, mais estritamente, ao épico de Virgílio, com a tessitura de uma narrativa heroica. Não esqueçamos, ainda, de um detalhe: apesar de não ser um poema sinfônico, a Eneida, como os demais poemas, sobretudo, os épicos, foi feita para ser cantada, não para ser contada, acompanhada de instrumentos de percussão como a lira e o tambor, no ritmo do verso hexâmetro dactílico, com os seus seis pés bem marcados.

Tinha razão Gérard Genette, em dizer que a literatura é um sistema de vasos comunicantes. Vou mais além: a arte é um sistema de vasos comunicantes, estendendo a sua capilaridade ilimitada e instigando que se escreva sobre ela e se escreva sobre o que se escreveu sobre ela ad infinitum.

Na Teogonia , Hesíodo mostra como a Terra, Gaia (Γαῖα), é a grande-mãe do cosmos, porque dela deriva toda a procriação. Ela pare o céu, q...

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Na Teogonia, Hesíodo mostra como a Terra, Gaia (Γαῖα), é a grande-mãe do cosmos, porque dela deriva toda a procriação. Ela pare o céu, que já nasce constelado, assim como pare o mar e as montanhas. Desses partos, provêm o ar, o fogo, a água e a terra. Dela ainda nascem os deuses, a vida e os homens. Conforme já afirmamos, em outra ocasião, na cosmogonia de Hesíodo, porque a Teogonia, assim pode ser chamada, não foram os deuses que criaram a Terra e a vida, mas a Terra, como deusa-mãe, que gerou os deuses e toda a vida, que se conhece.

Todo o Evangelho é recheado de passagens que merecem muita reflexão. Diante de tantas, escolhi duas, que se tornaram muito populares, aind...

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Todo o Evangelho é recheado de passagens que merecem muita reflexão. Diante de tantas, escolhi duas, que se tornaram muito populares, ainda que seu sentido, muitas vezes, tenha sido distorcido. Quem não conhece os ditos “Dai a César o que é de César” e “Quem não tiver pecado que atire a primeira pedra”? O primeiro está ligado a uma pergunta capciosa feita pelos fariseus a Jesus, passagem encontrada nos três primeiros evangelistas (Mateus 22, 15-22; Marcos 12, 13-17; Lucas, 20, 20-26), menos em João. O segundo diz respeito à mulher acusada de adultério, passagem que vê unicamente em João (7, 53 – 8,11).

Qual a relação entre uma cerveja, uma ursa e um continente? O leitor pode estranhar a pergunta, mas estou me referindo à Antárctica, cujo ...

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Qual a relação entre uma cerveja, uma ursa e um continente? O leitor pode estranhar a pergunta, mas estou me referindo à Antárctica, cujo nome envolve estes três elementos tão díspares. E, se o continente é Antárctica, por que o chamamos de Antártida? Vamos por partes.

Paris é um corpo vivo, dinâmico, que troca a pele e se transforma continuamente; que se veste e que se desnuda; que se entrega ao trabalh...

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Paris é um corpo vivo, dinâmico, que troca a pele e se transforma continuamente; que se veste e que se desnuda; que se entrega ao trabalho e ao prazer. O seu ventre é Les Halles; sua cabeça e coração, a política, a especulação e o empreendimento; seus braços, a pequena e média burguesia; suas pernas, o operário; seu baixo-ventre, os prazeres lícitos e ilícitos do amor.

Pode o homem angustiar-se por ter a plenitude do conhecimento livresco? Por outro lado, o conhecimento livresco é suficiente para que nos ...

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Pode o homem angustiar-se por ter a plenitude do conhecimento livresco? Por outro lado, o conhecimento livresco é suficiente para que nos conheçamos como seres humanos? Em geral, a angústia de conhecer acontece diante da constatação de que quanto mais adquirimos conhecimento, maior a percepção de que precisamos aprender mais. O conhecimento seria, portanto, inapreensível na sua plenitude, só nos sendo concedido saber uma ínfima parte dele.

O cenário é Anfiteatro Flávio. O ano é 80 depois de Cristo. O César do momento é Tito, que tinha o mesmo nome do pai, o imperador Vespasia...

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O cenário é Anfiteatro Flávio. O ano é 80 depois de Cristo. O César do momento é Tito, que tinha o mesmo nome do pai, o imperador Vespasiano — Titus Flavius Vespasianus. O evento é a inauguração do anfiteatro que leva o nome da sua Gens, sua família. Na arena, uma cena clássica de Venatio ad bestias — a caça aos animais —, entretenimento que fazia parte das munĕra, os jogos gladiatórios dados pelo imperador. O momento era solene, para gáudio da população e dos estrangeiros, que acorreram a Roma, para ver a inauguração da mais nova maravilha do mundo antigo. O poeta é Marcus Valerius Martialis, o Marcial, responsável pelo único documento, escrito na ocasião das festas da entrega do teatro à população romana.

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Pensamos descontinuamente e nossa mania de classificação, que nos torna um Homo taxonomicus (olha aí a mania...) nos ajudou a exacerbar essa postura. Segundo Richard Dawkins, a evolução não pode ser pensada descontinuamente (A grande história da evolução: na trilha dos nossos ancestrais). Ele traz como exemplo a famigerada ausência de fósseis intermediários entre os primatas, os chamados elos perdidos.

Em um dos episódios de The Crown, o líder do Trabalhistas e ex-primeiro-ministro Clement Attlee recebe a visita de um funcionário que tra...

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Em um dos episódios de The Crown, o líder do Trabalhistas e ex-primeiro-ministro Clement Attlee recebe a visita de um funcionário que trabalha para o primeiro-ministro Winston Churchill, seu algoz nas últimas eleições. O funcionário é portador de uma correspondência do serviço de meteorologia, prevendo um efeito climático desastroso sobre Londres, para os próximos dias. Embora seja uma mensagem importante, ela não se encontra entre aquelas que sejam lidas pelo primeiro-ministro.

“Peregrinações e Sacrifícios” é o nome do sexto capítulo da segunda parte de Paulo e Estevão, romance de Emmanuel, psicografado por Chico ...

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“Peregrinações e Sacrifícios” é o nome do sexto capítulo da segunda parte de Paulo e Estevão, romance de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier. Este capítulo relata novas atribulações de Paulo no seu apostolado, incansável em suas viagens para a pregação da palavra de Cristo e para a disseminação de Sua Igreja. Em Filipos, na Grécia, Paulo sofre perseguições, é apedrejado, preso e açoitado impiedosamente. Quando tudo parece se encaminhar para o seu desalento, as portas das celas da prisão se abrem e Paulo consegue mais provas da força da palavra redentora de Cristo, convertendo os presos e o próprio carcereiro.

Há quem pense na Ilíada e na Odisseia apenas como poemas épicos, a enfocar as façanhas de Aquiles e dos Argivos, ou a mirabolante viagem ...

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Há quem pense na Ilíada e na Odisseia apenas como poemas épicos, a enfocar as façanhas de Aquiles e dos Argivos, ou a mirabolante viagem de Odisseu. Não resta dúvida de que essas narrativas seminais do mundo ocidental são grandes épicos. Mas se fossem apenas poemas destinados à exaltação dos feitos heroicos, teriam sido esquecidos, mortos no seu tempo. Ninguém mais falaria deles, até porque a Tragédia deu outro encaminhamento ao literário, a partir do século V a.C. Não esqueçamos, no entanto, que sem o épico não existiria o trágico, nem existiria o primeiro texto sistematizado sobre os gêneros literários – a Poética, de Aristóteles.

A obra de Émile Zola, Les Rougon-Macquart, é mais do que uma série de romances sobre a família que lhe serve de título. Trata-se, na real...

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A obra de Émile Zola, Les Rougon-Macquart, é mais do que uma série de romances sobre a família que lhe serve de título. Trata-se, na realidade, de um painel, em 20 títulos, sobre a sociedade francesa do alvorecer ao final do segundo império (1851-1870). Seguindo a doutrina naturalista de que é o maior nome, esse escritor francês já nos fornece uma boa síntese dessa sociedade em três romances, La Curée (1872), L’Assommoir (1877) e Pot-Bouille (1882). Curiosamente, são romances cujos títulos são de difícil tradução para a língua portuguesa. Ainda que se traduza L’Assommoir por A Taberna, a narrativa diz mais do que o nome do bar do Père Colombe.
Ela se refere ao sentido de jogar alguém no abatimento, de matar com um golpe violento, de destruir, concepção que se encontra no verbo assommer. E isso é o que acontece com a maioria dos personagens, envoltos em uma vida miserável, deixando-se consumir pelos vícios, dentre eles o álcool. Nesse sentido, Gervaise Lantier, a personagem central, é emblemática. Dos outros dois romances, desconheço – é possível que haja – tradução em língua portuguesa.

A primeira formulação a respeito da origem da inspiração, no mundo ocidental, remonta ao século VIII a. C., com a Teogonia de Hesíodo , po...

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A primeira formulação a respeito da origem da inspiração, no mundo ocidental, remonta ao século VIII a. C., com a Teogonia de Hesíodo, poema em que, para poder cantar a saga de Zeus como o primeiro herói, na sua luta contra os Titãs e contra o gigante Tifeu, Hesíodo precisa fazer uma celebração das Musas e do seu poder inspirador de poesia e de conhecimento. São as Musas, filhas de Zeus, o mais sábio dos deuses, e de Mnemosine, a deusa da memória, que guardam o conhecimento, inspirando os poetas, os estudiosos e os reis, estes para, especificamente, a aplicação da Justiça.

“Um homem médico é, pois, igual em valor, a muitos outros, para retirar dardos e aplicar fármacos calmantes.” (Idomeneu a Nestor, em plen...

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“Um homem médico é, pois, igual em valor, a muitos outros, para retirar dardos e aplicar fármacos calmantes.” (Idomeneu a Nestor, em plena batalha entre gregos e troianos. Ilíada, Canto XI, versos 514-5)

As palavras medicina e mezinha têm a mesma raiz etimológica. A primeira forma é erudita, proveniente de medicina, medicīnae, cuja origem, no latim, está ligada ao verbo depoente medeor, por sua vez, originário do verbo médio grego μέδομαι (médomai), ambos com o sentido de cuidar e tratar, alongando o significado em grego para também proteger. A segunda forma, mezinha, é uma corruptela da primeira, sendo, hoje, um arcaísmo, com sua datação em textos remontando ao século XIII, mas ainda muito empregada nas regiões mais distantes do mundo urbano. Registra-se, ainda, a forma meizinha, produto de uma ditongação natural, para a oralidade. O importante a guardar, independente da forma, é que, em princípio, o médico e a medicina encontram-se na esfera do cuidado, do tratamento e da proteção.