Não foi à toa que o Concilio Vaticano II realizou significativa (e oportuna) revolução religiosa, por volta da década de 60. Estudava eu ai...
Não gaste o seu latim
Não foi à toa que o Concilio Vaticano II realizou significativa (e oportuna) revolução religiosa, por volta da década de 60. Estudava eu ainda no Seminário quando o Latim foi abolido nas missas em diversas partes do planeta. O objetivo básico consistiu em tornar acessível a cerimônia aos principais interessados, os chamados “fiéis”, facilitando-lhes a compreensão das palavras pronunciados pelo padre.
Falar sobre a crônica de Luiz Augusto , como forma de lembrar seu aniversário, representa muito mais que um esforço analítico para captar e...
Caminhos de Luiz Augusto
Falar sobre a crônica de Luiz Augusto, como forma de lembrar seu aniversário, representa muito mais que um esforço analítico para captar e expor suas preferências temáticas e a composição dos processos criativos que predominam em sua prosa poética. Significa, antes de tudo, um reencontro com a sua forma de ser mais definitiva, esta que se eternizou através da linguagem.
Tornou-se lugar-comum, na imprensa, reportar desastres previsíveis como “tragédias anunciadas”, influência evidente do belo título que é o ...
A impressionante influência vocabular da literatura
Tornou-se lugar-comum, na imprensa, reportar desastres previsíveis como “tragédias anunciadas”, influência evidente do belo título que é o Crônica de uma Morte Anunciada, de Gabriel García Márquez. Claro que isso não é de hoje. Todo sujeito ciumento é um “Otelo”, desde que Shakespeare escreveu a peça a respeito do suplício do Mouro de Veneza. Todo homem excepcionalmente forte é um “Hércules”, desde que Eurípedes encenou a tragédia Heracles entre os gregos, Sêneca levou ao palco o Hércules sobre o Eta, entre os romanos.

Se esse caminho, porém, é de mais sofrimento do que aventura, o rótulo é o de “via-sacra”, “via-crúcis” ou “calvário”, por conta do peso do texto evangélico que transformou, também, todo traidor em “judas”, toda vítima em “cristo”, todo homem caridoso em “bom samaritano”, todo fim do mundo em “apocalipse”.
De igual modo, abrindo para o Velho Testamento, todo começo de qualquer coisa é “gênesis”, todo assassino é um “Caim”, todo lugar maravilhoso é um “paraíso”, toda debandada é um “êxodo”, toda enchente é um “dilúvio”, todo vidente é um “profeta”, toda figura com salvadora liderança é “messiânica”, toda decisão sábia é “salomônica”, todo embate desproporcional, tipo camundongo Jerry contra o gato Tom, Oliveiros contra Ferrabrás, Vietnã versus Estados Unidos, é uma luta de “Davi e Golias”.

Igualmente, “pantagruélico” é o comilão por excelência, desde que Rabelais escreveu seu romance Gargântua e Pantagruel, e “acaciana” é sempre uma figura pública tipo Conselheiro Acácio, pseudo-intelectual pomposo, desde que Eça de Queirós escreveu o romance O Primo Basílio.

Um dos casos mais famosos de apropriação desse tipo é o de Freud, que viu no personagem clássico de Sófocles – Édipo Rei – o protótipo do portador do complexo emocional que envolve amor e ódio na relação filho-mãe-pai, tendo Gustav Jung estabelecido a mesma relação filha-pai-mãe no Complexo de Electra, partindo das peças de Sófocles e Eurípedes que contam como essa personagem matou a mãe, Clitemnestra, pra vingar a morte do pai, Agamênon.
Quanta História por trás de cada palavra!
O novo rejúbilo soou tão avantajado quanto o outro, e obrigava Agenor a um quase esforço de resistência para não fechar os olhos, novament...
Sarriá, funeral e confinamento (Parte Final)
O novo rejúbilo soou tão avantajado quanto o outro, e obrigava Agenor a um quase esforço de resistência para não fechar os olhos, novamente atingido pela inconveniência inesperada, profundamente desagradável, justamente num dos momentos mais pesarosos por que teve de passar na vida.
Há semanas ele achou um cantinho pra morar sem poder chamar de seu. Mesmo assim lá se aninhou decidindo adotá-lo.
Uma sobra de gente



um cantinho pra morar
sem poder chamar de seu.
Mesmo assim lá se aninhou
decidindo adotá-lo.
Voz sumida, aquele murmúrio de palavras indistintas. Com a concha da mão imprenso o ouvido ao fone. Quem... por favor? O ciciar ainda não d...
Pelo telefone
Voz sumida, aquele murmúrio de palavras indistintas. Com a concha da mão imprenso o ouvido ao fone. Quem... por favor? O ciciar ainda não diz se é de gente ou do vento. Melhora um pouco, é de gente mulher, sim. A impaciência relaxa para uma escuta mais calma, até fagueira. Os que chegam a essa distância de vida compreendem.
Vamos dançar? Se pudesse, hoje, te tiraria para dançar... Dançaríamos juntinhos, De rosto colado, E em teu ouvido, Eu cantaria baix...
Vamos dançar?



Se pudesse, hoje, te tiraria para dançar...
Dançaríamos juntinhos,
De rosto colado,
E em teu ouvido,
Eu cantaria baixinho.
“Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele que lhe matou o filho. Homero é que relata isto, e é um bom autor, não...
Memórias incertas de Bento Santiago

Cabo Branco e outros mares trago medos da barreira de cabo branco saudades de barracas e agueiros meu pai beliscando uma agulha o meni...
Cabo Branco e outros mares



trago medos da barreira de cabo branco
saudades de barracas e agueiros
meu pai beliscando uma agulha
o menino que corria nas areias do sol
trago memórias do sal de tambaú
e do imponente hotel, cartão postal da maresia
lembranças do mercado, dos bares, da lua
o menino lambendo os dedos afrodisíacos
trago a solidão escura de manaíra
e o descampado vazio de seu calçadão
cantigas de nada para os pescadores da vida
cantigas de espumas nos pescados dos pratos
trago outros mares que jogam suas ondas em minha lida
bessa, e seus bares da moda
a penha, com seus hábitos populares
o seixas, onde o sol nasce primeiro
jacarapé, onde os corpos morrem primeiro
trago alegrias do cabo branco da infância
e medos, do cabo branco amanhã
trago dores e os banhos de sargaços na alma
trago suas tatuagens, marcando minha pele no azul do mar.
O beijo
o instante que precedeu o beijo
estava cheio de relâmpagos e trovões
coração disparado e muitos senões
querendo botar gosto ruim em meu desejo
o momento em que aconteceu o beijo
não tinha trovões, só nuvens
mas tinhas raios que anunciavam
o sol que brilhava até no Alentejo
o que aconteceu depois não foi lampejo
e não tem dicionário que defina
nada explica porque só essa menina
me deixa sem querer outro beijo.
Amigos
meus amigos guiaram ruas em itinerários
das acácias
alguns estão longe na retina
no sabor de jambo em paralelepípedos vermelhos
de jaguaribe
outros levaram meus pés para jogar
sonhos nas areias de um mar impúbere
àqueles acendiam poemas baseados em motivos surreais
na sala vazia do altiplano,
(temperados com gororobas deliciosas de morrison)
estes, mal chegaram e já saíram
(ficou um ou outro teimando a poesia).
Milênios separam o paulista Paulo Vanzolini do velho Salomão, aquele mesmo, o bíblico. Mas não consigo ler um sem lembrar do outro. Ambo...
Com a dor das mulheres
Milênios separam o paulista Paulo Vanzolini do velho Salomão, aquele mesmo, o bíblico. Mas não consigo ler um sem lembrar do outro.
Ambos cantaram os mesmos temas: a angústia e o desespero de um coração partido. Mais: a humilhação suprema da busca por um amor vagabundo, perdido nas noites. Mais, ainda: a renúncia ao mínimo resquício de amor próprio, bem necessário ao equilíbrio e à sobriedade, ao comedimento e à compostura.
O lugar comum costuma asseverar que a solidão é a melhor companhia. A mística religiosa, enraizada nas representações sociais, enaltece a c...
Delirium pandêmico
O lugar comum costuma asseverar que a solidão é a melhor companhia. A mística religiosa, enraizada nas representações sociais, enaltece a clausura como forma de se evitar o mal. O que se observa é que esse isolamento, na proporção que não faz o mal, igualmente não realiza o bem. Por acaso Deus quer eunucos?

Com isso, evidencia-se a saturação da futilidade valorativa de falsas exterioridades, veiculadas nas redes sociais. A fórceps, a pandemia tem obrigado a um caliginoso encontro consigo mesmo, impactado pelo conflito interno provindo de sonhos, desejos, pulsões e a inaptidão em mudar alguma coisa.
É aí que se acentua a baixo autoestima, um dos maiores problemas de uma contemporaneidade marcada pela fluidez dos relacionamentos em todos os aspectos. A primeira consequência é a autopiedade, consequente da percepção de que a idealização de si, ou de outrem, não passa de uma fantasia mental.
Através da autopiedade instaura-se um sentimento de invalidez mental que, além de adoecer fisicamente, introjeta uma sensação de inferioridade e de perda do sentido da vida, intensificado pela tendência decorrente da solidão em se relembrar apenas dos fatos dolorosos de uma vida que deveria ter sido, mas não é, segundo pueris idealizações. É que nesse estado a pessoa não consegue vislumbrar que o passado – por mais traumático que tenha sido – só existe enquanto categoria mental. Não é real!
Em segundo lugar, decorrente da autopiedade, vem o sentimento de culpa, sentimento este reforçado por crenças religiosas limitantes que buscam na culpa a forma suprema para a introjeção do medo e da manipulação. Daí a preocupação com as classificadas vítimas do mundo, as quais devemos “salvá-las”, quando quem precisa de “salvação” é a nossa própria incolumidade psíquica.
E a “caridade” presunçosa que faz pelos outros o que eles sabem e podem fazer? E a caridade esmola, a mais fácil, sobretudo quando se chamam os meios de comunicação? O que é a verdadeira caridade quando a existência da verdade está reduzida à percepção que a pessoa tem desta?

Temos o retrato de uma situação terrificante que não pode ser mais olhada e analisada através da moldura. A Covid-19 é o acicate, não para a desesperança efêmera consequente da fragilidade emocional, mas para novos olhares sobre a condição humana enquanto vontade de potência, na concepção de Nietzsche, de que o ser humano nasceu para carregar o estandarte nas batalhas, pois da maneira que não existe felicidade eterna, inexiste desgraça que dure a vida inteira.
A notícia, no início da semana passada, foi só um susto. Mas, nos dias seguintes, ela se fez dolorosamente real! Aos 92 anos, o catalão m...
Um ser belo e pulsante
A notícia, no início da semana passada, foi só um susto. Mas, nos dias seguintes, ela se fez dolorosamente real!
Aos 92 anos, o catalão mais brasileiro de quem já ouvi falar, calou sua voz nesta Terra. Sim, agora e verdade! Dom Pedro Casaldáliga partiu hoje, em direção à sua nova morada!
Você jamais será esquecido, Dom Pedro! Das nossas mentes. Dos nossos fazeres. Dos nossos coraçõesEstou muda... Sem saber o que dizer, multo embora enviasse energias e torcesse para que acontecesse o que de melhor fosse para ele, diante de um quadro tão grave de problemas: principalmente os respiratórios.
Meu coração para por uns instantes...Estou profundamente triste…
Dom Pedro Casaldáliga agora é um anjo, que há de estar, eterna e suavemente, sobrevoando sobre nós e a nossa casa, a nossa Terra.

Fará imensurável falta a presença física de um dos seres mais belos e pulsantes que Deus colocou neste planeta: azul e de abundante água...
Como bispo de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga esteve sempre junto com o povo, num longo, amoroso e profundo caminho...
Você jamais será esquecido, Dom Pedro! Das nossas mentes. Dos nossos fazeres. Dos nossos corações.
Estou destroçada... Mas serei forte e serena, como o senhor sempre foi! Sei que seus ensinamentos e ações serão seguidos, compartilhados e multiplicados!
Salve a Teologia da Libertação!
Gratidão eterna pela sua grandeza, querido Servo da Vida e de Cristo!!!
Pode parecer aos mais impacientes que já não haja, a estas alturas, lugar para mais especulações a respeito da traição de Capitu, no célebr...
Ainda uma vez, Capitu

Pode parecer aos mais impacientes que já não haja, a estas alturas, lugar para mais especulações a respeito da traição de Capitu, no célebre romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Realmente. Tanto já se escreveu sobre esse tema, admitindo-se ou negando-se a tal infidelidade, que talvez não se justifique voltar ao assunto, tido por esgotado. E, no entanto, volta-se. Exatamente porque essa é uma das características dos clássicos: sua inesgotabilidade, sua permanente provocação aos leitores, suscitando eternamente novas leituras e enfoques, e rejuvenescendo o que já parecia, aos mais apressados, definitivamente velho e exaurido. E Dom Casmurro, ninguém pode negar, é verdadeiramente um clássico de nossa letras, com potencial de se tornar um clássico das letras universais, caso um dia o mundo resolva descobrir nossos autores.
Para meu pai, Romero [ in memoriam ], uma saudade imensa; Para Juca, um pai querido, super amoroso, e de carne e osso; Para Fred, um pai ...
Quando o assunto é paternidade
Para Juca, um pai querido, super amoroso, e de carne e osso;
Para Fred, um pai presente, por entre as Pitangas;
Para Flávio, uma vez, um quase-pai.

Hoje, domingo, comemora-se o Dia dos Pais. Enquanto comprava lembrancinhas para os “meus pais” queridos, aproveitei para presentear a mamãe aqui com algumas leituras, as quais recomendo:
Embora se tenha tornado, pela tradição popular, um mês aziago, o chamado mês do cachorro louco, Agosto, em sua origem, não é nada disso. Ag...
Agosto Augusto
Embora se tenha tornado, pela tradição popular, um mês aziago, o chamado mês do cachorro louco, Agosto, em sua origem, não é nada disso. Agosto vem de Augustus, uma homenagem a Octavius Augustus Caesar, o princeps, conhecido mais comumente como o imperador romano César Augusto.
Em seu nascedouro este mês se chamou Sextīlis e era, de fato, o sexto do ano, numa referência à sua ordem no calendário romulano ou no calendário de Numa Pompílio, posterior ao de Rômulo, ambos do século VIII a.C. Mesmo que Numa tivesse acrescentado dois meses ao seu calendário – Janeiro e Fevereiro –, o mês Sextīlis continuou como sexto, tendo em vista que os meses acrescidos foram postos ao final do ano, depois de December, dezembro.
São outros tempos e as bandas fugiram dos coretos. O da Praça Venâncio Neiva: esquecido num canto do logradouro; o da Praça da Independênci...
Coretos sem bandas
São outros tempos e as bandas fugiram dos coretos. O da Praça Venâncio Neiva: esquecido num canto do logradouro; o da Praça da Independência: invadido por flores.