Bom humor Sorriso que brota dos olhos E brinca nos lábios. Palavra fluida e leve. Margaridas que se aquecem ao sol, Manhã de verão, ...

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Bom humor


Sorriso que brota dos olhos
E brinca nos lábios.
Palavra fluida e leve.
Margaridas que se aquecem ao sol,
Manhã de verão,
Mas também cabe o friozinho do inverno,
Acompanhado de um vinho bom.
Se tiver de partir, não seja adeus e sim até breve.
Dependendo do olhar, tudo pode ser perfeito,
Viver pode ser uma grande aventura,
O céu será sempre bonito, independente da cor.
É preciso apenas esperança no peito
Criatividade no pensar
E uma dose de bom humor.

A matéria da jornalista Lucilene Meireles sobre a professora Adélia de França, publicada em A União deste domingo, 30 de agosto de 2020, al...

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A matéria da jornalista Lucilene Meireles sobre a professora Adélia de França, publicada em A União deste domingo, 30 de agosto de 2020, além de oportuna, como resgate de uma grande profissional do ensino na Paraíba, serviu para fazer-me voltar no tempo e lembrar-me de quando, adolescente, fui seu aluno na casa da Rua Almeida Barreto, no Centro, para sempre associada, por mim, à imagem inesquecível da mestra.

Homens, animais e plantas. Que a vida cotidiana seja plena e feliz, para todos os seres desta nossa Terra! Como protetora independente, d...

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Homens, animais e plantas. Que a vida cotidiana seja plena e feliz, para todos os seres desta nossa Terra!

Como protetora independente, durante toda minha vida, só vejo AMOR nos olhos dos animais.

Está no ar um novo episódio do ALCR-TV. A presente edição se divide em três partes: Atualidades do mundo cultural; comentários sobre textos...

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Está no ar um novo episódio do ALCR-TV. A presente edição se divide em três partes: Atualidades do mundo cultural; comentários sobre textos publicados; e a participação de leitores no Ambiente de Leitura Carlos Romero. Não deixem de assistir até o final.

Onde se esconde o poema? Seria na inspiração do poeta concentrado ou no homem distraído, sofrido ou desesperado?

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Onde se esconde o poema?


Seria na inspiração
do poeta concentrado
ou no homem distraído,
sofrido ou desesperado?

Tenho um amor muito grande pela humanidade de Antonio David Diniz. Por isso foi com encantamento que vi sair, anos atrás, o belo livro com...

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Tenho um amor muito grande pela humanidade de Antonio David Diniz. Por isso foi com encantamento que vi sair, anos atrás, o belo livro com seu nome seguido do subtítulo “30 anos de fotojornalismo”, numa caprichada edição da UFPB.

Quando pensamos que a porta está definitivamente fechada, alguém sopra com força a janela e nos escancara um novo mundo, cheio de paisagens...

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Quando pensamos que a porta está definitivamente fechada, alguém sopra com força a janela e nos escancara um novo mundo, cheio de paisagens desconhecidas, deslumbrantes. Aí, o instinto de proteção dá um sonoro aviso de alerta, que surdamente ignoramos.

Mesmo que as certezas nos resguardem de sofrer, nos peçam cautela e atenção, mesmo assim, nosso ímpeto de buscar o desconhecido prevalece e deixamos o destino tecer suas tramas e nos enredar em histórias e sonhos.

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Foi assim comigo. Quando revejo o passado, assusto-me com a impetuosidade que vivi, as maneiras que o destino manipulou meus passos, as múltiplas vezes que tive que derrubar casas e reconstruí-las novamente em outro lugar, em outra vizinhança. A vida acabou me ensinando que as situações idealizadas são frágeis e que é melhor aceitar os vários recomeços, os vários tropeços com valentia, com coragem e sem lamentos.

Os caminhos podem ser conhecidos e certos, mas a força do que nos rege, acrescenta pedras a serem afastadas, montanhas a serem subidas, descidas íngremes que diminuem o ritmo de nossos passos e nos presenteiam ao final, com lindas paisagens, ipês-amarelos no meio de um pasto todo verde, brisa morna com cheiro de mato.

Nestes últimos meses, aprendi muito sobre a imprevisibilidade. Todas as prioridades, os planos, as passagens para viagens agendadas, tudo estagnou de repente para que eu preservasse a vida. Fiquei só, por longos cento e quatorze dias.

Tive a oportunidade de colocar em prática a palavra “solitude” que, segundo o dicionário Michaelis, é uma palavra poética, diferente da solidão que expressa a dor de estar sozinho, a solitude expressa a glória de estar sozinho. É a solitude que nos oferece a oportunidade de apreciar o silêncio, o tempo e principalmente, a beleza. A solitude me abriu um mundo mais íntimo, mais rico de conhecimento, mais perceptivo sobre o que vale a pena investir e principalmente, do que vale a pena desejar.

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Celebro esse tempo comigo mesma, cheia de gratidão. Continuo acreditando que o imprevisível, seja lá chamado de destino, acaso, fatalidade, tem verdades que não somos capazes de entender. É aceitar, realinhar o rumo e seguir a vida.


Cristina Lugão Porcaro é bacharela em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora

O quarto era amplo, confortável, agradável. Todos os ambientes da casa foram decorados por um profissional, sem nenhuma interferência de Pa...

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O quarto era amplo, confortável, agradável. Todos os ambientes da casa foram decorados por um profissional, sem nenhuma interferência de Paulo, mas Dolores era mulher refinada e discreta, e nada na casa era exagerado ou de gosto duvidoso, a despeito das insistências e irritações do decorador. A cama ampla, em madeira de cor discreta, em linhas modernas, sem nenhum entalhe ou adorno, embora de estilo diverso, incrivelmente harmonizava-se com a cadeira de balanço, daquelas tradicionais com palhinha, que raramente balançava.

No Bairro dos Ipês, em Mandacaru e adjacências existe um senhor de idade avançada que cata resíduos pelas ruas, quase todos os dias, usando...

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No Bairro dos Ipês, em Mandacaru e adjacências existe um senhor de idade avançada que cata resíduos pelas ruas, quase todos os dias, usando um sinal inusitado de anunciar sua aproximação. Chapéu de palha na cabeça e empurrando um carrinho de mão, ao longe se ouve o assobio dele. Um som fino e prolongado, por vezes imitando pássaros, sempre alegre. Escutando, sabe-se que é hora da colocar na calçada o lixo domiciliar reciclado.

Muito cedo desenvolvi paixão pelo cinema. Esclareço que quando menciono “cinema” refiro-me à forma e ao conteúdo. Para mim, gostar de cinem...

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Muito cedo desenvolvi paixão pelo cinema. Esclareço que quando menciono “cinema” refiro-me à forma e ao conteúdo. Para mim, gostar de cinema significa ir ao cinema, assistir a filmes em salas de cinema. Lá eu não perco nada da produção. Não tem menino, cachorro, geladeira, telefone, campainha nem vizinhos. O cinema é um ambiente feito para se ver filmes e jamais será substituído pela TV!

Desapareceria completamente do ar e da lembrança (Não que tivesse o menor interesse em alimentá-la) Mesmo porque de antes ele viera cu...

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Desapareceria completamente do ar e da lembrança

(Não que tivesse o menor interesse em alimentá-la)

Mesmo porque de antes ele viera cumprindo à risca

Aquilo que, certamente, era o completo receituário

De quem, como ele, se soubesse chegando ao final

De velhíssima alternância entre exposição e sumiço

E houvesse apenas essa saída, de sumir de uma vez

A lembrança do nome da professora Ângela Bezerra de Castro como candidata à presidência da Academia Paraibana de Letras, simultaneamente co...

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A lembrança do nome da professora Ângela Bezerra de Castro como candidata à presidência da Academia Paraibana de Letras, simultaneamente compartilhada por um número expressivo de confrades, não é mais que o reflexo da presença peculiar de quem se orgulha em não buscar mais que ser professora, dito isto no discurso de posse, há 21 anos: “Venho de outra experiência existencial. Da utopia concreta que é a resistência de uma vida inteiramente dedicada à causa da educação. Não à teoria nem aos postos burocráticos, onde o distanciamento costuma esmaecer o impacto da realidade. Venho da linha de frente desta batalha que, se perdida, com ela também se perdem todas as perspectivas da sociedade”.

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Linha de frente iniciada ainda estudante como professora do Estadual de Cruz das Armas e exercida além da Escola Técnica Federal, além da cadeira de Literatura da Universidade, no fazer, divulgar e incutir os valores da terra, sempre omitidos nas antologias da consagração nacional.

O militante literário preso à geografia da Paraíba era um escritor da “caixa prego” como sua Universidade, assim recebida, como todos lembram, pelo articulista maior dos Associados, o Austregésilo de Ataíde, presidente, até morrer, da Academia Brasileira de Letras. E nós, poetas municipais, íamos aos federais como quem vai ao Olimpo. Foi um tento extraordinário do governo de Pedro Gondim sediar na Paraíba um congresso brasileiro de crítica literária, mesmo que, com Pedro Américo, Augusto dos Anjos, Pereira da Silva, José Américo, Zé Lins e Chateaubriand, constássemos do painel de estrelas das letras e artes nacionais. Mas nem Zé Américo nem Zé Lins constavam dos exemplos inscritos nos textos passados aos alunos. Entravam em aulas com Juarez Batista e Virginius. Dávamos a vida por uma manga, mas tínhamos que comer maçãs.

Surgia um nome que haveria de se dedicar com orgulho, sem utopia, da isolada república paraibana das letras
Então, me comovi incrédulo quando Nathanael Alves entrou na redação do jornal e me deu a notícia: “Estamos lidos e passados como exemplo na escola.” E entre cético e irônico: “No lugar de Bilac, o que pouco viu e sentiu na morte de Augusto. É conosco, material de segunda, que Ângela, a filha de Miriam, minha colega do TRE, está se vingando do poeta das estrelas”.

Surgia um nome que haveria de se dedicar com orgulho, sem utopia, da isolada república paraibana das letras. Demoro nesse marco por ter sido um dos acontecimentos mais emocionantes de toda a minha militância. Tanto ou mais quanto a generosa outorga do honoris causa da nossa Universidade. Ser dado como exercício escolar a quem se inaugura no mundo da leitura é ser chamado à responsabilidade.

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E é sempre assim que, daí até hoje, me coloco diante de ngela Bezerra de Castro. Não deve ser diferente para quem a tem acompanhado na cátedra, no livro, no ensaio esparso, nas conferências de puríssima aula. E a Academia, desde a sua posse, tornou-se a sua linha de frente. Não estranha, portanto, a simultaneidade de opções por seu nome numa instituição fundada por um professor emérito para o culto e o cultivo da nossa fortuna literária.


Gonzaga Rodrigues é escritor e membro da APL

A neve do tempo já havia pintado os cabelos dele. O mundo perdera parte do seu encanto com os desencantamentos do cotidiano daqueles dias. ...

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A neve do tempo já havia pintado os cabelos dele. O mundo perdera parte do seu encanto com os desencantamentos do cotidiano daqueles dias. Dias arrastados e repetidos. Dias de máscaras e vírus e isolamento.

É muito comum nos despedirmos numa comunicação escrita ou quando estamos falando com alguém à distância, enviando um abraço. Fazemos isso p...

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É muito comum nos despedirmos numa comunicação escrita ou quando estamos falando com alguém à distância, enviando um abraço. Fazemos isso porque entendemos a importância desse gesto simples representando atenção, afeto, consideração. O abraço, em todas as circunstâncias, tem um efeito terapêutico. É uma atitude carregada de sentimentos e emoções. Compartilha alegrias, comemora solidariamente as conquistas, festeja os acontecimentos felizes. Mas também transmite conforto nos instantes de dor, sofrimento, decepções, tristezas.

“Ser pobre em Paris, é ser pobre duas vezes” (“Être pauvre à Paris, c’est être pauvre deux fois”, capítulo II, p. 336-7) Esta certeza viv...

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“Ser pobre em Paris, é ser pobre duas vezes” (“Être pauvre à Paris, c’est être pauvre deux fois”, capítulo II, p. 336-7)

Esta certeza vive na mente de Aristide Rougon, personagem de Émile Zola, do romance La Curée (1872), ao chegar em Paris e tentar a fortuna prometida pelo irmão Eugène, deputado e, depois, ministro e eminência parda de Napoleão III.

Haverá quem se lembre do personagem, já citado nessas plagas, na sua indecisão de apoiar ou não o golpe de Estado de Louis Napoléon, em dezembro de 1851. Hesitante, Aristide vive o momento do “alea iacta est”, proferido por César, no momento de atravessar o Rubicão e infringir, sem possibilidade de reparo, as leis romanas, conforme o documentado por Suetônio, na vida do Divo Júlio. No caso de Aristide Rougon, o fato de se dá no romance La fortune des Rougon (A fortuna dos Rougon), o primeiro da série https://en.wikipedia.org/wiki/Les_Rougon-Macquart, de Émile Zola.

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Agora, vemos o personagem em La Curée, em Paris, com a febre de riqueza na mente e na vontade. Riqueza fácil, sem trabalho produtivo, para viver à larga e poder descontar os anos de pobreza que viveu em Plassans, na Provença. A travessia do Rubicão de Aristide fora feita. Já não havia volta. Restava-lhe enfronhar-se nos meandros da cidade, para dela retirar o que ele desejava e o que ela oferecia:

Il aspirait ces souffles encore vagues qui montaient de la grande cité, ces souffles de l’Empire naissant, où traînaient déjà des odeurs d’alcôves et des tripots financiers, des chaleurs de jouissance.”

“Ele aspirava estes sopros ainda vagos que subiam da grande cidade, estes sopros do Império nascente, onde já se arrastavam os odores de alcovas e as negociatas financeiras, os calores do prazer” (Capítulo, II, p. 334).

Paris, teatro da pilhagem, era para ele, uma presa que corria diante de seus olhos. Aristide, como besta esfomeada, farejava o butim quente, que lhe devia ser servido como cão pertencente à matilha. É aí que se entende o sentido do título do romance – La Curée:

...“son instinct de bête affamée saisissait merveilleusement au passage, les moindres indices de la curée chaude, dont la ville allait être le théâtre” (id., ibid.)

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Com um emprego arranjado pelo irmão, no Hôtel de Ville, a prefeitura de Paris, Aristide tem acesso a informações privilegiadas sobre as reformas de Haussmann e se locupleta com elas, realizando todas as “magouilles” e “tripotages”, os famosos negócios ilícitos, que ele poderia e não poderia fazer. Para tanto, Aristide muda até o nome para Saccard, abandonando o Rougon. O nome escolhido aproxima-se foneticamente de saccage, pilhagem, mais do que adequado à ação predatória que ele vai encetar.

Saccard, melhor do que qualquer outro, materializa o uso do público para o seu benefício privado.
Rico, perdulário e desonesto, sem tempo para mulher, Renée, ou para o filho, Maxime, Saccard os deixa se afeiçoarem e tomarem conta um do outro, o que o desobrigava de sair de seus negócios – “Ele colocava, apenas uma vez por mês, os pés no quarto de Renée, e sempre para alguma delicada questão de dinheiro” (“Il mettait à peine une fois par mois les pieds dans la chambre de Renée, et toujours pour quelque délicate question d’argent”, capítulo IV, p. 423). Pouco a pouco, eles vão deslizando para uma relação incestuosa.

A Saccard, interessava viver no luxo, gastando loucamente, tirando da nova situação – a modernização radical de Paris –, a sua colossal fortuna de cada manhã, comida a cada noite (“d’où il avait tiré sa colossale fortune de chaque matin mangée chaque soir”, capítulo IV, p. 426). Fortuna construída em seis meses, por meios ilícitos das informações privilegiadas, dos tráficos de influência, da prevaricação nos cargos públicos, no uso de laranjas (prête-noms, também conhecidos como hommes de paille...), no superfaturamento de indenizações e de obras, no desvio de verbas, nas especulações, na criação de empresas fictícias... Diante desse cenário, ele jamais se daria conta ou se incomodaria, se percebesse, com a relação incestuosa entre Renée e Maxime, que é pano de fundo, simbólico, do verdadeiro incesto que Zola, como republicano ferrenho, quer denunciar. O incesto de agentes públicos, cuja forma mais acabada é Saccard, com a coisa pública, tratando-a como coisa privada e cujo homme de paille é outro empregado da prefeitura, Larsonneau.

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Renée, nascida em berço de ouro, de família antiga parisiense, filha do magistrado M. Béraud Du Châtel, teve educação esmerada em colégio de freiras, mas, ao sair, engravidou de um amante casado. O pai lhe deu em um casamento arranjado ao recém-viúvo, Aristide Saccard, cujo interesse está no rico dote que receberá. Aristide só vê à sua frente o dinheiro, as moedas de ouro que parecem cair do céu aos montes, numa Paris que passa por uma transformação radical de suas vielas em grandes eixos, margeados por longos e amplos boulevares.

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A reforma do traçado de Paris foi a solução encontrada por Napoleão III e comandada pelo Barão Haussmann, prefeito de Paris, para a revitalização da cidade, embelezando-a, tornando-a habitável e salubre, beneficiando a circulação e o comércio, a exemplo de Les Halles Centrales, o grande mercado de Paris, ambiente de Le ventre de Paris, terceiro romance da série. Havendo, contudo, sub-repticiamente, a preocupação de evitar barricadas, como as de 1830, contra Charles X, que o alijaram da realeza; as de 1832, contra Louis-Philippe, que não tiveram forças para defenestrá-lo do poder, e as de dezembro de 1851, no início do golpe de Estado, promovido por Louis Napoléon, ironicamente, o primeiro presidente da república eleito. Um ano mais tarde, em 1852, ele se tornaria Napoleão III, matando a Segunda República, sacramentando o Segundo Império e permitindo que algumas pessoas se beneficiassem das reformas.

Saccard, melhor do que qualquer outro, materializa o uso do público para o seu benefício privado. Servo do dinheiro, o hotel de sua propriedade em que morava, no Parc Monceau, é o templo grave, cuja Caixa era o santuário, em que o cofre-forte, atarracado e pregado na parede, fazia o papel de deus, com ar de uma besta divina (“air de brute divine”, capítulo III, p. 385).

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Apesar dos exageros típicos da doutrina naturalista e do ímpeto, muitas vezes diatríbicos dos que fazem militância política, o romance La Curée é uma página ficcional de uma verdade plausível, que muito incomodou a sociedade francesa do final do século XVIII, já na Terceira República, depois da queda do Segundo Império (1870). Nada que não conheçamos profundamente, tornando-se, no entanto, catártico, por sabermos que nós, brasileiros, não inventamos nada disso...

"Nihil sub sole novum", como diria o Eclesiastes.


Milton Marques Júnior é doutor em letras, professor, escritor e membro da APL

A linha tênue, ainda obscurecida pela noite, vai, aos poucos, clareando e se torna mais nítida no horizonte sobre o mar. O silêncio da ampl...

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A linha tênue, ainda obscurecida pela noite, vai, aos poucos, clareando e se torna mais nítida no horizonte sobre o mar. O silêncio da amplitude se representa na sonoridade do suave pedal que se inicia com base nas cordas e trompas, quase pianíssimo. Assim Alexander Scriabin estreia a primeira de suas cinco grandiosas sinfonias, há exatos 120 anos.