Se fosse só isso a gente ignorava e tocava a vida, mas não é assim, o chato clássico faz questão de aparecer. É a autêntica mosca na sopa ou pedra no sapato, não tem jeito, acaba incomodando. É aquele cara que no final da palestra, às 13h, auditório lotado, todo mundo cansado, com fome, afim de sumir dali, e… adivinha quem levanta a mão pra falar? O chato, claro. Muito sem jeito o professor pede para as pessoas
O chato é um sujeito intermediário, ele está entre o sim e o não, aquele que nem foi e nem ficou, quer, mas não quer, nem ata nem desata. ...
O chato
Se fosse só isso a gente ignorava e tocava a vida, mas não é assim, o chato clássico faz questão de aparecer. É a autêntica mosca na sopa ou pedra no sapato, não tem jeito, acaba incomodando. É aquele cara que no final da palestra, às 13h, auditório lotado, todo mundo cansado, com fome, afim de sumir dali, e… adivinha quem levanta a mão pra falar? O chato, claro. Muito sem jeito o professor pede para as pessoas
Janelas… Quisera não ter que fechá-las e sempre mantê-las abertas. Abertas pra vida, com flores e céu. Embora comum, no ato de abri-las...
Abrindo janelas
Embora comum, no ato de abri-las, em cada manhã, há sempre uma surpresa. A rotina é bem-vinda e cria canais por onde o olhar se lança no mar, na relva e nas nuvens. Até o horizonte, que singra o limite em reta contínua, pincela os dois lados do mundo infinito com cores diversas.
Manhã ou crepúsculo, nas horas douradas, os tons se misturam em cada espetáculo. À chuva ou ao brilho do céu sem vapor,
Vivemos uma época assinalada por duas significativas realidades: o desenvolvimento científico e tecnológico e o vazio existencial. As conq...
Ante os desafios dos tempos atuais
Meu amigo João Paulo remeteu de Lisboa essa perola de comunicação de um acidente de trabalho feita por um pedreiro português ao Tribunal J...
O barril
Desci ao térreo, atei o barril com uma corda, voltei ao telhado, puxei o barril para cima e coloquei os tijolos dentro dele. Voltei para baixo,
Conta a lenda que Narciso viu seu rosto nas águas e ficou deslumbrado consigo mesmo. Desapareceram, pelo que eu saiba, os espelhinhos redo...
Imagem no espelho
No parque de diversões, havia o chamado “espelho mágico”, que retorcia, desfigurava, caricaturava no reflexo quem o olhasse. Era atração paga e bem consumida. O ser humano gosta de se olhar; espelhos e fotos,
Qual a mulher (salvo exceções) que não se mira na planície espelhada, antes de sair para uma festa ou, na menor das hipóteses, qualquer saída à rua para simples compra de um remédio? Homens, também, não os excluo.
Há uma música, sucesso regional nordestino, cujo enredo é um enamorado se enfeitando o dia inteiro para ver a querida e que ficou inteiramente frustrado pelo fato de ela não o haver notado, quando se encontraram: “Ela não olhou para mim/ passei horas no espelho/ me arrumando o dia inteiro/ ela nem olhou pra mim”.
Conheço um advogado que, antes de seguir à audiência, além de conferir o bom ajuste da roupa, verificava o nó da gravata. Era um nó; ajeita, desfaz, refaz, até que fique bem com o colarinho. O próprio Novo Testamento alude ao fato, numa das cartas do Apóstolo Paulo:
“Hoje vejo por um espelho embaçado” – alude à impossibilidade de conhecermos a totalidade real de Deus, aqui no tempo. Muitos literatos utilizam o espelho como metáfora. Pintores, também.
Espelho meu/ espelho meu/ existe no mundo/ alguém mais bela (o) do que eu? Cada idade tem sua juventude (ou cada imagem refletida ou captada) – se não me engano foi Jorge Luis Borges, poeta argentino, cego e genial quem proferiu essa máxima. Não sendo ele, me desculpem, mas as fases da vida jamais serão vistas, porque se dissolvem na totalidade da alma.
E alma (pessoa) jamais será fotografada, nem refletida. Mesmo que Jesus assegure que o olho é o espelho da alma. Sem nenhuma intenção de heresia, há olhos que não traduzem a interioridade recatada em seu misterioso quarto. Existe quem se veja no espelho ou fotografia com estranheza.
Explico: acha que não é ele. Ou se vê vivo, jovem, ou morto, velho. Até como outra pessoa. Não se conforma com a naturalidade impressa na foto, nem espelhada. Enfim, faz sua própria imagem. Será que Narciso se viu assim nas águas paradas?
Essa garrafa enrugada e escura foi objeto do desejo da meninada, no transcurso das décadas de 1950 e 60. Não exatamente ela e, sim, o que ...
Quem lembra?
Provei meu primeiro Crush aos 10 anos de idade, numa bodega de beira de estrada, no interior da Paraíba. O bodegueiro, que não tinha refrigerador, retirou da prateleira uma das 15 ou 20 garrafas ali enfileiradas, abriu-a e me deu sem copo, ali mesmo, no gogó. Meu pai, que então já se servia de uma dose do Conhaque de Alcatrão São João da Barra,
Quem mora por aqui já o viu. Uma figura envelhecida, alquebrada, maltrapilha, suja, caminhando a passos lentos levando invariavelmente um o...
O velho andarilho
Quem é? Aqui referem-se a ele como “o velho do saco”, numa alusão à estranha bagagem que leva à “cacunda”. Dizem até que fora um homem de posses e aqui e acolá elencam uma série de motivos que teriam levado essa criatura aos abismos da dignidade humana. Hipóteses, é claro.
Quem não carrega alguns desses pesos impensáveis às costas? Pode haver peso maior do que a perda de entes queridos? De um filho, por exemplo. Não estamos livres dessas tragédias, e como pesam.
O que não dizer daqueles amores mal sucedidos...as paixões que não se resolveram e ficaram pelas estradas da vida. Muitas vezes se perderam por uma palavra que deixou de ser dita, por um pedido de desculpas que nosso orgulho não permitiu.
Não podemos deixar de colocar nessa incômoda bagagem os sonhos que não se concretizaram. É uma estatística dolorosa contabilizar os projetos que as mais diversas circunstâncias da vida nos obrigam a ir adiando, adiando... até que essas quimeras fossem definitivamente sepultadas.
Não sabemos fazer o tempo voltar e então o que nos resta é suportar o peso dessas recordações, de alguns arrependimentos e de muitas saudades.
Assim, quando me deparei com o “velho do saco”, subindo pela Epitácio dias atrás, enxerguei aquela excêntrica figura de forma diversa das anteriores. Pude vê-lo com respeito e até com alguma ternura, quando pensei se o que levamos sobre os ombros não seria tão enfadonho e torturante quanto aquilo que ele leva sobre os dele. Talvez.
Soube que voltam a cogitar da mudança de nome do nosso aeroporto. Desta vez para, em lugar de Castro Pinto , o nome do meu biografado José...
Castro Pinto
O exemplo de Castro Pinto, a razão de manter seu nome vivo, valia, avultava inquestionável nas três primeiras décadas do século passado. Ele foi do tempo em que o discurso era a arma superior e a razão maior do êxito político. Acrescentando-se a esse dom o exemplo moral e a lição de democracia.
Deixando de lado o testemunho conterrâneo dos Chateaubriand, Celso Mariz, Coriolano, Horácio, reafirmados pela geração de José Octávio e Humberto Melo, vejamos o registro insuspeito de Liberato Bittencourt em seu Brasileiros Ilustres:
Setenta anos depois desse depoimento, é a Castro Pinto que Oswaldo Trigueiro de Albuquerque Mello, ex-governador do mesmo padrão moral e intelectual,
Há muito mais a transcrever de Oswaldo, de Celso Mariz, de Coriolano, das revistas e almanaques do IHGP e do acervo dos que ocuparam a sua cadeira na Academia de Letras. Sem dúvida nenhuma José Maranhão está entre os brasileiros que honraram o cargo e o que mais demorou nele por confiança popular demonstrada em sua consagração para o Senado. Por isso mesmo, dificilmente consentiria em se usurpar a homenagem de todos os tempos a Castro Pinto.
Nelson Gonçalves e Adelino Moreira lançaram em 58 o samba-canção Escultura , em que o boêmio – cansado de tanto amar – começa a... escultu...
A mulher ideal
Tal qual ouro finíssimo, firme como rocha, Seja o teu coração limpo, aceso feito tocha. (A. S.) "O melhor é comprar meias sem cos...
De partida para o Caminho
Aconselhou-me a simpática voluntária da “Associação dos Amigos do Caminho de Santiago em Zaragoza”.
— E mais – continuou – mesmo que esteja a 500 metros de uma cidade, se sentir uma pedra no sapato, é preferível que pare, retire o calçado, e só prossiga depois de remover a pedra de dentro dele. Se não fizer isso, é uma bolha garantida!
— Muito obrigado pelas dicas — respondi.
— E você — disse ela dirigindo-se a Victor, o amigo espanhol que me acompanhava — também fará o caminho?
Eu ri, interiormente, porque aquela senhora nem imaginava a quem formulava tal pergunta. Victor era um cético empedernido que me seguia a estes lugares apenas por amizade e excesso de gentileza. Às vezes até me acompanhava, paciente e resignadamente, até endereços como Taizé, na França.
Nos 80 anos de John Lennon, ano passado, quem ganhou o presente fui eu, este fã devoto aos Beatles: uma audição da versão de luxo do álbum...
Para John Lennon, menos sempre foi mais
O meu pai jamais deixou de reconhecer os pequenos e eventuais sucessos do aluno medíocre que eu sempre fui. Nessas pouquíssimas oportunida...
Castro Pinto e Samuel Duarte
Hoje, não ouço mais a voz do meu pai, o bordão que soava altissonante, repercutindo nos quatro cantos da casa da Rua Desembargador José Peregrino, 321, cujo teto o abrigou durante exatos quarenta e oito anos.
Entre os ofícios de pai, está o de comemorar o aniversário dos filhos – e comemorá-lo da melhor forma possível, provendo-o não apenas do m...
Traição de pai
Vá se entender os prêmios literários. Vá se procurar entender os requisitos que levam a uma premiação como o Nobel de literatura, por exem...
O Nobel de Borges
Essa frase do filósofo compositor Renato Russo, na canção “Tempo Perdido” do grupo Legião Urbana, nos leva a refletir sobre a forma como c...
Temos nosso próprio tempo
Assisti a João Pessoa crescer. Quando morei no bairro do Miramar, eu tinha seis anos. E a ladeira da Igreja era de barro, um atoleiro só,...