Assisti a João Pessoa crescer. Quando morei no bairro do Miramar, eu tinha seis anos. E a ladeira da Igreja era de barro, um atoleiro só, que o ônibus das Lourdinas parava na Av. Epitácio Pessoa para descermos. E eu ia a pé para minha casa na pracinha do Clube Cabo Branco. O bairro era pequeno, poucas casas, e conhecíamos quase todos os moradores. Hoje? Onde era minha casa virou um edifício gigante. E o bairro cresceu. E as Muriçocas tomaram conta. Literal e carnavalescamente.
Depois morei na Rua João Amorim. Essa, no centro, oitão do Bompreço. Está lá meio que abandonada. Passo por lá e me vejo aos 7/8 anos, brincando na rua. Tudo tão seguro e familiar. Vejo as casas dos vizinhos queridos. Alguns já morreram.
com Teca e Claude
Quando moramos na Praça da Independência, a praça era nossa. Passei lá esta semana e caiu uma manga no meu carro, quebrou o para-brisa. Tomei um susto. Parei o carro, e andei num dos lados da praça a pé. Quase pude ouvir a saída das Lourdinas e o burburinho que fazíamos. A Maximiano Fiqueirêdo era tão bucólica! Com suas mangueiras! E casinhas simples, mas pitorescas. Hoje tudo transformado em comércio, com placas de amianto horrorosas e calorentas. Passo por ali de carro, e pouco tenho tempo para contemplar minha Praça de menina e das bicicletas. Mas a casa que vendia ovos na Rua Marechal Deodoro continua lá. Mesmo com ares mal assombrados e precisando de uma boa pintura, ainda me vejo carregando os ovos no bagageiro. Sonho com essas ruas, minhas quedas, meus medos, minhas tardes a caminhar pra lá e cá. Com os conflitos em casa. Minhas tardes nos alpendres e a olhar o mundo lá fora.
Na Av. Camilo de Holanda foi depois. Era linda! Tinha Flamboyants no meio das vias. E a Rua Borja Peregrino tinha a casa de Washington, o “comunista” do Lyceu. Nos tempos que falavam mal dos comunistas. Pelo jeito, ainda falam! Era um mundo sem telefone e sem televisão em casa. Luciano Bernardo morava na esquina. Os Soares, ao lado. Dr. Brás e Maria da Penha, Kathya e irmãos mais pra lá. Diana Rangel na esquina.. Maurício do volley! E ter vizinhos para brincar era importante. A rua era a outra casa. Ainda é. Jogava ossinho no terraço de ladrilho hidráulico, e minha mãe começou a dirigir um "Simca" lilás. Que carro Kitsch! Um dia quebrou o muro todo.
Ignês Navarro morava ao lado. Mas só muito mais tarde viríamos a nos aproximar na Adufpb e no grupo Coisa de Mulher. E a casa de pedrinhas cor de rosa da esquina? Linda que era! E que, mais tarde eu passava com os olhos arregalados quando ia para as aulas de ballet no Teatro Santa Rosa, de ônibus. Andava de ônibus a cidade toda. Ônibus do Colégio que ia de Jaguaribe aos outros bairros. E batia tudo a pé também, comendo jambo pela Av. Coremas e contemplando os chãos fúcsia.
Depois de casada morei ao lado do Espaço Cultural, que já era o que é. E no Cabo Branco, à beira mar, onde tinha a lua cheia mais linda que já vi. Curti o que pude a praia, o frescoball, o sol, o amor e também o des-amor... Tempos difíceis. Mas também de re-nascimentos.
Quando me despedi de minha casa, mas permaneci no Bessa, fiquei a pensar nesse bairro que há 37 anos quando aqui cheguei, só tinha o meu Conjunto Oceania, vacas que nem profanas eram, caju de conta e um mar infinito e de azul profundo e que era todo meu.
Pense numa saudade que eu sabia que teria. Como se não bastassem as lembranças, a vida vivida com todos os seus esplendores e tristezas, morro de saudades do canto dos passarinhos. Em tempos de asfalto, inseguranças, e barulhos tantos, esses cantos que não são da cotovia nem rouxinol nos aquecem a alma. São cantos das minhas manhãs felizes, enquanto faço o meu café todo dia todo.
Hoje o Bessa tem Caribe cópia, trânsito, acidentes, roubos, muito lixo, mas algumas coisas lindas ainda teimam em permanecer. Os passarinhos! O azul do mar? A lua cheia e incandescente, também teima. E eu? Teimo em ficar por aqui, com um olho no passado e os outros sentidos no futuro.