Toda manifestação homofóbica se resume na falta de amor, de respeito para com o próximo, com a comunidade e com a vida íntima alheia. Respeito que não deve se limitar às relações entre homens e mulheres, mas entre quaisquer indivíduos que desfrutem comunhão afetiva. A harmonia de um relacionamento, de um ambiente familiar transcende a questão de gênero, pois é uma virtude de caráter e de nobreza. Há muitas relações homoafetivas em que existem muito mais dignidade, amor e respeito do que entre casais de sexo oposto.
Muito nos impressionaram as notícias recentemente divulgadas sobre a maneira discriminatória com que o empresário depoente na CPI da Covid se referiu ao senador Fabiano Contarato,
bem casado há mais de uma década com o fisioterapeuta Rodrigo Groberio, com quem tem dois filhos. Infelizmente isso ainda acontece, conquanto vivamos uma época em que o preconceito e a discriminação, sob qualquer forma, têm sido rejeitados pela sociedade pensante, com ênfase na mídia nacional e internacional, inclusive no Jornal A União, que dedica amplos espaços de abordagem correta acerca da diversidade humana, com séria rejeição a manifestações de comportamento homofóbico.
A ciência da psique já atestou que não há possibilidade alguma de redirecionamento de perfil sexual através de nenhuma terapia. A tendência para comunhão afetiva entre iguais é visceralmente pessoal, espontânea, e pode variar com as condições, o meio, as emoções e todo um contexto que envolve cada individualidade. Além de ser uma questão puramente pessoal e que não diz respeito a ninguém, as modernas pesquisas científicas apontam para que a tendência à comunhão afetiva entre pessoas do mesmo sexo pode até vir na genética, com a própria vida, ou na formação biológica. Por isso que a OMS a retirou de sua lista de doenças, desvios ou perturbações psíquicas, há algum tempo.
Há meia dúzia de anos, foi espantosa a repercussão positiva em cidades do mundo inteiro por conta da decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos reconhecendo o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Curiosamente, a mesma decisão de nosso Supremo Tribunal Federal, há alguns anos, não teve igual acolhimento da opinião pública, ainda que o nosso país haja se antecipado, estendendo os direitos matrimoniais por unanimidade.
Chico Xavier, eleito em votação nacional como o “Maior brasileiro de todos os séculos”, aborda o assunto de forma sensata e educativa, no livro Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel:
“A homossexualidade, definida no conjunto de suas características por tendência da criatura para a comunhão afetiva com uma outra criatura do mesmo sexo, não encontra explicação fundamental nos estudos psicológicos que tratam do assunto em bases materialistas. Observada a ocorrência, mais com os preconceitos da sociedade, constituída na Terra pela maioria heterossexual, do que com as verdades simples da vida, essa mesma ocorrência vai crescendo de intensidade e de extensão, com o próprio desenvolvimento da Humanidade, e o mundo vê, na atualidade, em todos os países, extensas comunidades de irmãos em experiência dessa espécie, somando milhões de homens e mulheres, solicitando atenção e respeito, em pé de igualdade ao respeito e à atenção devidos às criaturas heterossexuais”.
Como símbolo de uma vida dedicada ao amor fraterno com uma produção de centenas de livros, dos quais nunca se disse autor e não quis receber nem um centavo, tendo doando às causas sociais todos os lucros obtidos, Chico coloca o amor muito acima da identidade de gênero. Afinal, espírito não possui sexo e o sentimento entre eles, que é o que perdura além da vida material, está em outro nível. Jamais deveria incomodar a quem quer que seja.
“Em minhas noções de dignidade do espírito, não consigo entender porque razão esse ou aquele preconceito social impedirá certo número de pessoas de trabalhar e de serem úteis a vida comunitária, unicamente pelo fato de haverem trazido do berço características psicológicas e fisiológicas diferentes da maioria. “Acreditamos que o tempo e a compreensão humana traçarão normas sociais susceptíveis de tranquilizar quantos se vinculam a semelhante segmento da comunidade, assegurando-se-lhes a benção do trabalho com o respeito devido a todos os filhos de Deus. Até que isso se concretize, não vejo qualquer motivo para críticas destrutivas e sarcasmos incompreensíveis para com os nossos irmãos e irmãs portadores de tendências homossexuais, a nosso ver claramente iguais às tendências heterossexuais que assinalam a maioria das criaturas humanas”.
Chico Xavier conclui brilhantemente, com a dignidade que pautou seu exemplo de amor:
“Dia virá em que a coletividade humana aprenderá, gradativamente, a compreender que os conceitos de normalidade e de anormalidade deixam a desejar quando se trate simplesmente de sinais morfológicos, para se erguerem como agentes mais elevados de definição da dignidade humana, de vez que a individualidade, em si, exalta a vida comunitária pelo próprio comportamento na sustentação do bem de todos”.
Não há seringueiras na Rua das Seringueiras, assim como não existem imburanas na Rua das Imburanas ou pinheiros na via batizada com o nome da árvore simbólica do Natal. A exceção deve ser as castanholas na Rua das Castanholas, já que essas plantas parecem se adequar a qualquer espaço pelas vias da cidade.
Uma pena não encontrar as belas cerejeiras no logradouro que homenageia a planta símbolo do Japão. Decepcionante também não descobrir um lugar cheio de flores na Rua das Flores. Afora o nome poético, a foto revela um lugar comum.
O budismo, cuja filosofia me interessa muito, diz que nós inventamos desejos e nos tornamos dependentes deles. Sei disso a partir de várias experiências. Uma delas foi o cigarro. Sim, já fui fumante. Aliás, acho que quase todo mundo da minha geração foi.
Não conheço ninguém que gostou do cigarro da primeira vez que provou. Gosto ruim na boca, tontura, enjoo. Com o tempo, a pessoa aprende a gostar, e vou dizer, pense numa coisa difícil de largar. Quem já fumou sabe disso. Conheço muita gente que largou há anos e ainda sente falta. Não é o meu caso. Foi a própria filosofia do budismo que me ajudou nesse sentido.
O meu pensamento foi simples: se eu já vivi sem isso, posso voltar a viver. Assim consegui me livrar de um mau hábito que mantive por muitos anos e, o que é pior, consciente dos prejuízos que aquilo me causava.
Vez por outra penso nisso com relação às redes sociais. Lembro quando uma amiga me sugeriu abrir uma conta no Facebook. Fui resistente no início, mas cedi. Foi muito interessante começar a encontrar amigos que não via há algum tempo, familiares que estavam morando fora, curtir postagens engraçadas, músicas, fotos, fazer amizade com gente que não conhecia "em carne e osso". Com o passar do tempo, fui me animando e comecei a escrever alguns textos e publicá-los ali. As pessoas interagiam, curtiam e isso foi se tornando cada vez mais divertido. Uma ou outra treta também acontecia, mas era algo raro.
Um dia escrevi um texto chamado "Você não é obrigado a nada". Postei e, de uma hora para outra, centenas de pessoas estavam me solicitando amizade. Essa frase até virou "meme" ou o "meme" serviu de mote. Isso foi em 2015 e esse texto continua sendo muito compartilhado. A experiência permaneceu interessante e segui escrevendo e postando. Novos amigos foram chegando, alguns passaram a me ajudar, corrigindo erros, incentivando que escrevesse mais, sugerindo temas. Algumas deles, até viajei para conhecer pessoalmente. Outros, recebi aqui em João Pessoa, inclusive na minha casa. Não me desapontei. Pelo menos os que encontrei aqui, em São Paulo, Curitiba e Fortaleza foram do tipo "o santo bateu".
Continuei escrevendo e fazendo amigos novos e antigos. E a outra verdade é que criei uma necessidade. O Facebook passou a fazer parte da minha vida diária. E deve ser assim na vida de muitos. Plataforma política, paqueras, muro de lamentações, poesia, literatura, humor, gente talentosa e, claro, coisas desagradáveis também. As últimas eleições presidenciais exacerbaram demais o lado tóxico das redes.
Muitos começaram a abandonar a interação para se protegerem. Sim, tudo pode se tornar nocivo. Mas, preciso admitir, para mim sempre foi mais prazeroso do que ruim. Vez por outra acontece de retirar alguém do meu grupo de amigos ou de ser retirado. Enfim, é o mundo virtual permitindo que você "dê sumiço aos seus desafetos".
De todas as gostosuras que essa rede me trouxe, o contato com o povo das artes foi a coisa mais gratificante. Poetas e escritores que admiro interagindo comigo. Artistas plásticos que amo, atores e atrizes, músicos, palhaços. E pessoas interessadas nesse universo, que fazem postagens lindas, divertidas e inteligentes.
A semana passada, levei um susto gigante. Um amigo comentou a minha idade e fui nas minhas informações ver o que estava ali registrado. Minha conta foi desativada. Não foi bloqueio, coisa pela qual alguns têm passado. Simplesmente recebo um aviso que não tenho idade suficiente para usar o Facebook e por isso não tenho acesso à minha conta. Eles me pedem que mande um documento de identidade, que comprove meu tempo no planeta, mas de nada adianta. Que sensação horrível. Foi como se tivesse chegado em casa de uma viagem e a encontrasse completamente vazia, saqueada.
Aquilo me deu um desamparo enorme. Bia, minha amiga, falou em "morte virtual". E foi assim que me senti. Pensei numa música em que Gil fala da morte. Eu "morri" mas ainda estava lá. Me botaram para fora da festa. Desapareci para meus amigos, que ficaram sem saber o que aconteceu. E cada vez que lembro de alguém que gosto ou de um texto que não salvei meu peito congela.
Ainda conversando com Bia, ela me perguntou se vou criar nova conta. Respondi que não sei, que talvez eu ressuscite no sétimo dia. Ela falou — entendendo ao que me referia — que é no terceiro. Sete foi a criação do mundo. Rimos juntos e já surgiu a ideia para a primeira música da TRILHA SONORA: Meu Mundo Caiu, de Maysa
As outras são:
▪ Volta (Lupicínio Rodrigues), com Gal Costa
▪ Coragem, Coração (Carlos Rennó / Cláudio Monjope), com Ney Matogrosso
▪ Não Tenho Medo da Morte , Gilberto Gil
▪ Começar de Novo (Ivan Lins / Vitor Martins), com Simone
A pandemia não foi de todo embora; persiste em casos esparsos, que assustam e às vezes matam. Ainda assim, é grande a pressa das pessoas para voltar ao antigo normal. Isso se explica pelo longo tempo em que o coronavírus privou-as de liberdade, modificando hábitos, dificultando a convivência e fazendo a maioria se enfurnar em casa.
A casa existe como um contraponto da rua, é o lugar para onde se volta depois de sair (com todas as ressonâncias simbólicas que esse gesto possui).
Angela Merkel, a primeira-ministra alemã, como se sabe, está se aposentando, após quase vinte anos à frente do governo do mais importante país europeu, pelo menos em termos econômicos. É uma aposentadoria voluntária e não imposta por alguma derrota eleitoral ou por qualquer outro tipo de desgaste político. Foi anunciada já há algum tempo, o que é surpreendente, pois significa a espontânea renúncia ao poder, objeto de tanto apego por parte da totalidade dos que o detêm, por parte de uma líder no auge de seu prestígio e de sua popularidade. Um gesto, portanto, absolutamente raro e admirável, num mundo extremamente marcado pela ambição e pela total ausência de desprendimento.
Quem passou dos 60 e viveu a infância no interior, certamente, lembra disso. Os grãos – esverdeados e separados em duas bandas – chegavam das feiras livres e mercados públicos para os quintais onde um tacho e o fogo os aguardavam.
Na minha e na casa de muitos, qualquer que fosse a região do País, o melhor café não vinha empacotado das prateleiras de armazéns, ou bodegas. Surgia, isto sim, dos tachos sobre fogo de lenha.
Cacos
Eles me olham da gaveta invisível
Com olhos de Argos
Silentes e vigilantes.
Reviram o instante, vasculham arredores
Subidas, descidas, curvas
Grutas de elos perdidos.
Fazem-me dar voltas sem descanso
Nada me perguntam
Nem dizem se já é hora...
O que mais vem me impressionando ultimamente – no que se refere a esta ... marcha ... da Humanidade – é a revisão total que tenho feito do século passado, ao não mais vê-lo em filmes de lusco-fusco preto e branco, mas nítidos, remasterizados e colorizados, no YouTube, com ruas e avenidas de Londres, Berlim, Paris, Viena, Amsterdam ou Nova Iorque, em 1926, 1910, 1945, 1900, tudo com tal qualidade de imagens, que elas parecem ao vivo, sempre o trânsito intenso, multidões elegantes nas calçadas, um Ford 29 aqui, um V-8, ali um Citroën “traction avant” de 1935, moças e senhoras com vestidos da Dior ou Chanel, os cavalheiros, todos, de chapéu Prada ou Ramenzoni, - tudo estalando de novo, e isso ... parece ter a ver com a velha e estranha sensação, minha, de que os amigos Kaplan e Dr. Atêncio, de que meus pais, de que meus irmãos Wilma e Ney, de que o filho Dmitri, todos... continuam suas vidas em Pombal, Fortaleza e Sorocaba, ou ali, na Avenida Espírito Santo, tal a nitidez com que os vejo e ouço na memória. Agora mesmo, neste mesmo lugar em meu gabinete ,diante do computador, ouço mais uma vez a voz, lá fora – como em... 1994:
Euclides da Cunha diz em “O Homem”, segunda parte de Os sertões, estarmos “condenados à civilização. Ou progredimos, ou desaparecemos” (São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2019, cap. I, p. 114). A razão dessa afirmação taxativa é a reverberação do que ele viu em Canudos, a mais acabada imagem da barbárie, a ponto de ser chamada de “Troia de taipa dos jagunços” (Cap. II, p. 144; Cap. V, p. 225) e de “Jerusalém”, que se amaldiçoa (Cap. V, p. 255), numa alusão ao fato real da ação devastadora dos romanos contra os judeus, em 70 d. C., sob o comando do imperador Vespasiano e de seu filho Tito, e também ao grande mito de resistência guerreira na imagem da Troia homérica, devastada, igualmente, pelos argivos, sob o comando de Agamêmnon.
Bendito o tempo que conduz nossa vida, que acrescenta experiência, que nos dá sapiência, que oferece a oportunidade de construirmos nossa identidade, que nos proporciona astúcia para compor uma biografia.
O envelhecimento vem me ensinando a viver plenamente, e a abraçar a vida com sentimentos de amor-próprio. Vejo com clareza meu sentir e o quanto sou corajosa em redesenhar o roteiro da vida. Concluo que a felicidade está em mim. Reconheço minhas imperfeições, meus medos, minha vulnerabilidade, mas sou a dona do meu espaço amoroso e nada abalará essa enorme certeza do quanto minha vida é rara e preciosa.
Dez páginas, apenas e tão somente dez páginas em corpo 10 dos velhos magazines de linotipo!... E que páginas!
Há prefácios assim. Esse de meus frequentes retornos é assinado pelo professor José Pedro Nicodemos à edição feita para publicar pela Universidade Federal da Paraíba, através de sua editora, sob recomendação de um conselho editorial dirigido por Francisco Pontes da Silva.
Tenho várias manias e cacoetes. Sobretudo uma mania que considero muito boa. Aliás, me orgulho dessa mania. Sempre me dá bons retornos. Adoro visitar mercados públicos. Quando visito uma cidade, a primeira pergunta que faço é: “onde fica o mercado municipal?” Do jeito que adoro mercados, detesto shoppings. Em Itaporanga, no sertão da Paraíba, comprei algumas corujas esculpidas em madeira. Obras magníficas do saudoso Mestre Gabriel, artesão reconhecido. Gente de primeira qualidade. No Mercado de São Luiz do Maranhão, fiz algumas compras e ganhei preciosidades. CDs de um grupo de Boi de Matraca. Uma lindeza só. Em Belém do Pará, comprei um prato de cerâmica Marajoara (foto que ilustra esse texto) que ainda hoje está na minha sala.
Nascido em 1912 em Exu, Pernambuco, Luiz Gonzaga foi um dos melhores músicos e artistas que o Brasil já viu. E a maior expressão da música sertaneja nordestina, considerado pelos estudiosos como o mais importante cantor-músico-compositor que o nordeste já produziu.
Tendo o seu pai Januário como mestre e ídolo, ele começou a vida tocando sanfona no interior do nordeste, percorrendo o polígono da seca e absorvendo toda a cultura regional, baseada principalmente no sofrimento do povo nordestino, assolado por esse flagelo.
Aos 13 anos comprou a sua própria sanfona, ajudado pelo coronel Manuel Alencar, seu protetor. Aos 17 saiu de casa para tocar no Crato, do outro lado da Serra do Araripe, e não voltou mais. Vendeu a sua sanfona e sentou praça no exército, em Fortaleza, em busca de uma renda regular. Passou nove anos.
Instalada a Revolução de 30, viajou pelo país sendo o corneteiro da tropa, e foi bater em Minas Gerais, onde mandou fazer uma sanfona e aprimorou o seu domínio, aprendendo escala musical com Domingos Ambrósio, sanfoneiro mineiro.
Luiz Gonzaga ("soldado Nascimento") na banda do 10º Regimento de Infantaria de Juiz de Fora-MG, em 1939 Fonte: Exército Brasileiro
Depois que deu baixa, emigrou para São Paulo e depois para o Rio de Janeiro, onde voltou à carreira de músico. Porém ainda não tocava músicas regionais nordestinas, senão músicas estrangeiras, nos bares e cabarés da periferia da cidade.
Até que um dia Luiz Gonzaga apresentou-se no Programa de Ary Barroso. Agradando, foi contratado pela Rádio Nacional, a poderosa e maior locomotiva que impulsionava a música brasileira da época. Assim recomeçava a carreira, que só terminaria com o seu falecimento em 1989.
Luiz Gonzaga aperfeiçoou o baião, que então era o único ritmo nordestino aceito pelos sulistas. Nos anos 1940 e 1950 era muito forte a presença do jazz, do Fox e,
principalmente, do samba canção, nas noites de Rio de Janeiro e São Paulo.
Porém na Rádio Nacional a sua carreira artística deslanchou. Em 1941 ele gravou o seu primeiro disco, pela gravadora RCA Vitor.
Somente no início da década de 1950é que ele passou a compor e divulgar outros rimos nordestinos, como o xote e o xaxado.
Ao final de sua carreira, entre baiões, xotes, toadas e xaxados, Luiz Gonzaga deixou um acervo de mais de 627 músicas gravadas em 266 discos, 53 músicas de sua autoria, 233 em parcerias e 331 de outros compositores. Foram parcerias com letristas e compositores do maior quilate. Deles destaca-se o advogado cearense Humberto Teixeira, com quem, em cinco anos de parceria, compôs centenas de músicas. E depois com o médico compositor, poeta e folclorista pernambucano Zé Dantas, com quem teve produção semelhante.
Em 1950 gravou a música ao mesmo tempo bela e triste, Assum Preto, que havia feito em parceria com Humberto Teixeira, pela RCA Vitor. E em 1952 confirma o sucesso como principal divulgador da música sertaneja nordestina, gravando a toada Acauã, com Zé Dantas, também pela RCA Vitor.
No mesmo ano de 1952 grava também na RCA Vitor o baião Paraíba, lançada em 1950 com o cearense Humberto Teixeira. E aquela música que viria a se tornar o hino nacional do sertanejo nordestino, Asa Branca, que havia sido lançada em 1947 da mesma parceria com Humberto Teixeira, e também um baião. Vinte anos depois, em 1972, essa música vestiria uma roupa nova na versão espetacular do magnífico conjunto recifense Quinteto Violado. Nesta versão destaca-se memorável solo da flauta de Ciano Alves.
Anos depois Luiz Gonzaga encontrou-se com aquele que se tornou o seu herdeiro artístico natural: o também pernambucano Dominguinhos. A partir daí tornaram-se inseparáveis, em diversos espetáculos pelo Brasil.
Luiz Gonzaga era além de músico um grande artista cênico. A sua presença num palco era contagiante. São notáveis e gostosos os solos de sanfona em diversos espetáculos, como na música Samarica, Parteira. E na homenagem que fez ao jumento, que considerava irmão do sertanejo.
Ao longo de sua carreira participou de milhares de espetáculos pelo Brasil e exterior. Ele teve, então, muitos parceiros. Mas os espetáculos mais notáveis foram com Dominguinhos e com o cearense Raimundo Fagner, com memorável solo de sanfona.
Fagner, Luiz Gonzaga, Oswaldinho do Acordeón e SivucaArq. Nacional
Em inusitada parceria com Hervé Cordovil, Luiz Gonzaga compôs outro hino de nossa geração: o excelente e alegre Vida de Viajante , que canta junto com o filho Gonzaguinha, e contracenou com Fagner.
Ao longo da sua trajetória artística Luiz Gonzaga teve muitos e bons parceiros. Os mais conhecidos são mesmo Zé Dantas e Humberto Teixeira. Um bom exemplo, fruto dessa parceria, é O Xote das Meninas , composto com Zé Dantas e gravado em 1953 pela RCA Vitor. Nesta música Zé Dantas revelou o seu conhecimento de fisiologia e ginecologia. Também mostrou a sua veia poética, ao descrever a transição da infância para a adolescência, comparando a menina-môça com a flor do mandacaru. E ao associar ao fim da estiagem. Bonito!
Mas o escritor, historiador e jornalista investigativo Flávio Ramalho de Brito considera que o melhor de todos foi Zé Marcolino, de Sumé. E em quantidade de músicas teve João Silva, de Garanhuns.
Destaques para Pássaro Carão , música alvissareira com Zé Marcolino. E Uma Pra Mim, Outra Pra Tu , animada mazurca de quadrilha-de-São João, composta em parceria com João Silva, onde Luiz Gonzaga erra maliciosamente a divisão das mulheres do salão. Muito engraçada!
Figura discreta, João Silva compôs mais de duas mil músicas que foram gravadas por grandes nomes da música brasileira. Cem delas só com Luiz Gonzaga.
Luiz Gonzaga era muito atualizado. Como se pode ver no Xote Ecológico , que compôs com Aguinaldo Batista.
Além de músicas de Zé Marcolino, de Sumé, Luiz Gonzaga prestigiou outro autor paraibano: Rivaldo Serrano de Andrade. Pois em 1973 ele gravou a linda música Fogo-Pagou , de autoria de Rivinha Serrano, como era conhecido.
Com Humberto Teixeira, Luiz homenageou o seu pai, Januário, com o delicioso xote Respeita Januário .
No ano de 1953 o Nordeste foi assolado por uma das suas piores secas, com grande sofrimento para a população. O desastre ambiental provocou uma das maiores migrações já vistas no Brasil, com levas e mais levas de nordestinos emigrando para o sudeste, especialmente Rio de Janeiro e São Paulo. À época o Brasil era composto por 20 Estados e seis Territórios federais.
Pois bem: indignados com a inércia e incompetência do governo federal, presidido pelo gaúcho Getúlio Dorneles Vargas, Luiz Gonzaga e Zé Dantas compuseram a música Vozes da Seca, um brado de protesto contra o descaso que à época já era praticado contra o povo nordestino.
A letra da música é uma brilhante carta produto da indignação. Dirigindo-se respeitosamente ao presidente Vargas, inicia-se com a apresentação dos signatários, os nordestinos:
“Seu doutor, nordestinos, temos muita gratidão
Pelo auxílio dos sulistas, nesta seca do sertão...”
E continua com uma lembrança de que o presidente Getúlio Vargas foi eleito para governar, também, os nordestinos:
“É por isso que pedimos proteção a vosmicê
Homem, por nós, escolhido, para as rédeas do poder...”
Seguido do alerta para a ampla repercussão do flagelo da seca sobre a população da época:
“Pois doutor, dos vinte estados, temos oito sem chover
Veja bem, mais da metade do Brasil tá sem comer...”
Em seguida dá uma aula de como se deve combater a seca e suas conseqüências:
“Dê serviço a nosso povo, encha os rios e barragens
Dê comida a preço bom, não esqueça a açudagem...”
Oferecendo ao presidente Vargas possibilidades de bons dividendos conservando a dignidade, por ser justo para com o Nordeste e o seu povo humilhado pela situação de ter se tornado pedinte:
“Livre assim, nós da esmola, que no fim desta estiagem
Lhe pagamo inté os juros sem gastar nossa coragem...”
E revela aquilo que será a redenção para o sertanejo nordestino afligido pela seca:
“Se o doutor fizer assim, salva o povo do sertão
Quando um dia a chuva vim, que riqueza pra nação
E nunca mais nós pensa em seca, vai dá tudo neste chão
Como vê, nosso destino, mercer tem na vossa mão...”
A canção conclui com uma advertência para o que acontecerá ao povo nordestino, se o governo federal continuar a dar-lhe as costas: tornar-se uma versão moderna do escravo histórico:
“Mas doutor, uma esmola a um homem que é são
Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão!”
Nos dias de hoje, quando o nordestino tem sido tão discriminado por pessoas de baixo nível, racistas de outras plagas em sua maioria, concluímos que agem assim por inveja, por não aceitarem que um povo tratado como cidadão de segunda classe, possa ter dado gente de tanto valor, tanta expressão cultural, política, científica e social, entre os seus filhos.
A civilidade é um comportamento cada vez menos praticado nos tempos atuais. A sociedade contemporânea não encara mais como importante cumprir as normas que garantam um bom convívio entre as pessoas. Valores e princípios são desconsiderados nas condutas dos indivíduos na vida social. Estamos perdendo o espírito harmônico que deveria existir nas relações humanas.
A foto de 5 crianças posando para uma simulada selfie na qual uma sandália de plástico faz a vez do celular que não possuem, é um petardo de alegria que vem pela internet ultrapassando latitudes e longitudes há mais de 2 anos.
Diante da foto, qualquer um de nós dá-se o direito de pensar na possibilidade daquelas crianças estarem talvez mais felizes ali, onde o princípio tecnológico da ação foi abolido em favor de uma fantasia compartilhada, do que estariam caso tivessem à mão um celular de verdade, e isso nos leva a crer na possibilidade de uma proeza metafórica poder as vezes resultar num tipo de alegria mais expansível que outras mais duramente enquadradas nos delimites da realidade,
Aquela noite da agonia derradeira, quando contemplei o rosto sereno de minha mãe na cama do hospital, segurando meu braço, ela murmurou com os lábios trêmulos “que Deus te abençoe”, e fui abençoado com a meiguice do seu olhar para o resto de minha vida.
Desde a infância sempre amei as mulheres. Nem mesmo a primeira decepção amorosa com Maria Dutra aos onze anos mudou isso. Até hoje os meus “melhores amigos” são mulheres. Quando iniciei nas crônicas semanais (Jornal de Agá, posteriormente Correio da Paraíba) já comecei escrevendo sobre os direitos da mulher, ainda antes de “virar moda” defender o sexo feminino. Lembro bem que cheguei a desafiar o então Presidente Collor que humilhava publicamente sua esposa Rosane.
A figura da madrasta comumente faz lembrar personagens desprovidas de afeto, inclusive estereotipadas negativamente pela sonoridade (“má”) da palavra portuguesa. Diferente da versão francesa: “belle mère” (bela mãe) ou do inglês “stepmother” (um grau de mãe) — que poesia... Nos filmes, romances e fábulas infantis são tenebrosas as referências de crueldade.
Em recente releitura de O Novo Testamento, um tema saltou aos meus olhos e ensejou diversas reflexões que desejo compartilhar com os leitores.
Revisando o Evangelho de Mateus, capítulo 2, li no versículo 11 – “E, entrando na casa, acharam o menino com Maria sua mãe e, prostrando-se, o adoraram; e abrindo os seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: ouro, incenso e mirra.”