O quadro que pretendeu representar um momento importante da vida brasileira (O Grito do Ipiranga) cobriu-se com um manto de irrealidad...

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O quadro que pretendeu representar um momento importante da vida brasileira (O Grito do Ipiranga) cobriu-se com um manto de irrealidade do começo ao fim, embora para muitas pessoas da época, e do ponto de vista estético do Romantismo, essas apropriações autorais e tentativas de glamourização histórica fossem passíveis de ser enxergadas como uma atitude não apenas louvável, mas até recomendável.

Quando estamos inertes, sentados ou deitados, contemplando ou dormindo, há uma sensação de estática que é a mais pura ilusão. Pura porq...

Quando estamos inertes, sentados ou deitados, contemplando ou dormindo, há uma sensação de estática que é a mais pura ilusão. Pura porque inocente, ou por esquecermos de que tudo no Universo está em constante movimentação. Quem vai lembrar ou imaginar que, mesmo parados, acordados ou imersos em sonhos, estamos viajando em círculos, a quase dois mil quilômetros por hora?...

      Névoa, resto que me permito de lucidez Vê-se que o rio é lento e a violência com que lança o corpo do homem carrega uma...

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Névoa, resto que me permito de lucidez Vê-se que o rio é lento e a violência com que lança o corpo do homem carrega uma outra força que não a das águas. (O poder da corrente é casto) O cultivo das imperfeições no todo seco, diz da caligrafia dos arados, dos infortúnios da semente nomeada pelos impuros. (Como é tênue o equilíbrio das raizes da ingazeira sustendo o barranco) Névoa, resto que me permito de lucidez, este caminho traçado no sem rumo é minha arte, o que possuo nos instantes de espasmo da consciência.

Cada uma de nossas felicidades encontra no afeto e no amor suas mais elevadas dimensões humanas. E quando elas se amalgamam numa superi...

Cada uma de nossas felicidades encontra no afeto e no amor suas mais elevadas dimensões humanas. E quando elas se amalgamam numa superior e única entidade, derivada da presença, condição física e afetiva em um só tempo de viver os dois maravilhosos cenários: o de pai e avô, é algo indescritível, sobretudo, quando o critério da verdade é o afeto liberador. A vida nos propicia caminhos surpreendentes quando o lirismo amoroso nos cristaliza pelo advento de ser e de desfrutar esta múltipla vivência. Tudo à conta do afeto e do amor.

O leitor, com certeza, conhece o conto Ideias de Canário , de Machado de Assis. Mesmo conhecendo-o, o leitor jamais o colocará entre os...

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O leitor, com certeza, conhece o conto Ideias de Canário, de Machado de Assis. Mesmo conhecendo-o, o leitor jamais o colocará entre os dez mais, onde se encontram Cantiga de Esponsais, Missa do Galo ou A Cartomante, por ser dos contos menos votados do Bruxo do Cosme Velho. Sugiro, no entanto, que quem o conhece faça uma nova leitura, revisite-o, e quem não o conhece procure conhecê-lo. Despindo-se das impressões alardeadas aos quatro ventos, com relação aos ditos grandes contos de Machado, como O Caso da Vara ou Pai Contra Mãe, o leitor vai, certamente, saborear um texto delicioso, em que nosso grande escritor de Dom Casmurro exerce com maestria uma de suas características mais marcantes – a ironia.

    NAVALHA O fio da navalha corta o cio. Fios de ouro nos dentes dos ricos. Fios de cobre das ruas sumidos. Fios de água q...

 
 
NAVALHA
O fio da navalha corta o cio.
Fios de ouro nos dentes dos ricos. Fios de cobre das ruas sumidos. Fios de água que correm no rio. Fio da navalha que corta o cio. Fio de cabelo que delata o crime.

Entre todos os trabalhos desenvolvidos no âmbito da Lies University o que mais fascina reúne um grupo de cientistas que tem dedicado t...

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Entre todos os trabalhos desenvolvidos no âmbito da Lies University o que mais fascina reúne um grupo de cientistas que tem dedicado todo o seu tempo a identificar mentiras. Nesta época de fake news será de suma importância.

O início dos trabalhos deu-se quase por acaso num jantar de celebração de mais um aniversário daquela centenária Universidade, quando alguém fez referência a estudos que apontavam basicamente quatro tipos de mentirosos.

Fui pego. Pus-me trêmulo, de pernas bambas. E tive os calafrios sentidos por Zezinho quando conheceu Zica, uma prima bem jovem do meu p...

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Fui pego. Pus-me trêmulo, de pernas bambas. E tive os calafrios sentidos por Zezinho quando conheceu Zica, uma prima bem jovem do meu pai que por duas semanas esteve conosco quando eu mal havia ingressado na adolescência. Falo daquela danada branquinha e de olhos verdes por quem Zezinho e eu quase morremos.

Sofri calado. Jamais deixaria transparecer o aperreio mal contido no coração juvenil. Faltava-me a coragem para confessar um amor a ser retribuído, não tenho dúvida, com o deboche da moça que tinha idade superior à minha e com uns puxões de orelha do velho Juca.

José Neiva 90 anos de uma vida bem vivida em família O início de tudo Nascido a 26 de junho de 1932, no sítio Riacho dos Cavalos...

José Neiva
90 anos de uma vida bem vivida em família



O início de tudo

Nascido a 26 de junho de 1932, no sítio Riacho dos Cavalos, município de Esperança, José Neiva Freire viveu sua infância, até os 5 anos de idade, na cidade onde nascera. João Neiva, seu pai, carpinteiro por vocação, vendia fumo de rolo em dias de feira. A mãe, Corina, provia os inúmeros e preciosos afazeres domésticos.

Período em que a família passaria a residir no sertão da Paraíba, em São Mamede, quando o pai colocaria em prática seus pendores de artífice, durante o período de construção do mercado público da cidade. O dinheiro, percebido por aquele trabalho, mal dava para suprir as necessidades da feira. Ou seja, só dava mesmo para juntar uma cuia de feijão, uma de farinha e outra de milho.

Na manhã de sol ofuscado por nuvens escuras que sinalizavam o veranico de janeiro sobre a cidade de Alagoa Nova, Gonzaga e eu sentamos ...

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Na manhã de sol ofuscado por nuvens escuras que sinalizavam o veranico de janeiro sobre a cidade de Alagoa Nova, Gonzaga e eu sentamos na praça, enquanto Antônio David buscava ângulos diferentes para registrar cenas do cotidiano da cidade, sobretudo no entorno da igreja.

Três da tarde, começo de outono. Muita, mas muita gente, mesmo, nas mesas espalhadas pelas calçadas dos cafés e restaurantes de toda a...

Três da tarde, começo de outono. Muita, mas muita gente, mesmo, nas mesas espalhadas pelas calçadas dos cafés e restaurantes de toda a cidade, sob o sol intenso, surrealisticamente frio. Largos e longos barcos descobertos, apinhados de turistas, indo e vindo pelo Sena, passando por baixo das tantas pontes. Uma multidão enorme – com muitos, muitos chineses, muçulmanas, japonesas com elegância de Audrey Hepburn em “My Fair Lady” - locupletando a vasta praça agitada por pombos, ante a catedral de Notre-Dame. Um despropósito, a fila que se estende pelo passeio de uma rua da mesma ilha fluvial – Île de la Cité - pra ver a Sainte-Chapelle. Uma quantidade assombrosa de gente nos ônibus abertos abarrotados, em todas as ruas.

Telhados disformes, paredes manchadas, uma massa cinzenta sob a chuva contínua e de pingos gélidos de julho, chuva que vai e vem em...

Telhados disformes, paredes manchadas, uma massa cinzenta sob a chuva contínua e de pingos gélidos de julho, chuva que vai e vem em uma sequência imprevisível. Ao longo, árvores intraduzíveis, montanhas escondidas. No inverno, também são feitas belas telas, só que o pintor prefere usar uma paleta de cores de tons pastéis, do branco embaçado, do chumbo poético.

João Manoel não conversava detidamente comigo há mais de vinte anos. Numa das últimas reformas gráficas com que tentou renovar e mant...

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João Manoel não conversava detidamente comigo há mais de vinte anos. Numa das últimas reformas gráficas com que tentou renovar e manter o semanário “Contraponto”, lembrou-se do antigo gráfico que eu fui. Fiz-lhe ver que pouco, muito pouco podia ajudar, inabilitado por completo pela mudança radical de técnicas e sistemas trazidos pela informática. E naquele reencontro de falas e olhares, por não mais que alguns minutos, contivemos, mudos, o desabafo de mútuas e profundas afinidades de leitura e de comportamento humano, social e político enraizadas para toda a vida.

Nascer se nasce em qualquer lugar. Todavia quando perguntam de onde eu sou, fico confuso. Nasci em Jaguarão-RS, mas minhas filh...

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Nascer se nasce em qualquer lugar.

Todavia quando perguntam de onde eu sou, fico confuso.

Nasci em Jaguarão-RS, mas minhas filhas nasceram na Paraíba. Nasci de novo em cada uma delas.

Minha neta mais velha e meu neto mais novo também nasceram na Paraíba. Meu neto João nasceu em Roraima. Neles e nela ainda estou crescendo.

Lá na Serra do Teixeira, cariri paraibano, está o palco dessa história, a cidade de Princesa Isabel, onde nos idos de 1930, o C...

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Lá na Serra do Teixeira, cariri paraibano, está o palco dessa história, a cidade de Princesa Isabel, onde nos idos de 1930, o Coronel José Pereira, chefão da política naquelas brenhas de mundo, como retaliação ao governo da província, diante de sua briga com o mandachuva João Pessoa, declarou que aquela localidade dali em diante iria ser “Território Livre de Princesa”. Princesa continuaria brasileira, mas apartada da Paraíba.

      A Grande Pira O tempo é a grande pira que nos consome Pelas trilhas e opacidade das horas Passo a passo, a cada dia. ...

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A Grande Pira
O tempo é a grande pira que nos consome Pelas trilhas e opacidade das horas Passo a passo, a cada dia. E sem disfarces inúteis. Até a eternidade de um momento Em que não teremos nada Nem rosto, nem história. Só vaga lembrança reduzida a cinzas Cinzas de ninguém.