Névoa, resto que me permito de lucidez Vê-se que o rio é lento e a violência com que lança o corpo do homem carrega uma...

Névoa

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Névoa, resto que me permito de lucidez Vê-se que o rio é lento e a violência com que lança o corpo do homem carrega uma outra força que não a das águas. (O poder da corrente é casto) O cultivo das imperfeições no todo seco, diz da caligrafia dos arados, dos infortúnios da semente nomeada pelos impuros. (Como é tênue o equilíbrio das raizes da ingazeira sustendo o barranco) Névoa, resto que me permito de lucidez, este caminho traçado no sem rumo é minha arte, o que possuo nos instantes de espasmo da consciência. (Lisboa, julho de 2022)
Anotações sobre um jornal
"A invenção da imprensa é o maior acontecimento da história. É a revolução mãe... é o pensamento humano que larga uma forma e veste outra... é a completa e definitiva mudança de pele dessa serpente diabólica, que, desde Adão, representa a inteligência." Victor Hugo, Nossa Senhora de Paris, 1831
O exercício era recortar o jornal
picotar as palavras lançá-las no aquário as bolhas de um solitário peixe tratavam de desmentir qualquer verdade
A notícia
tardava escorrida na lápide do cemitério muçulmano de Rabat e valia pela imensidão dos ossos recolhidos pelo olhar em um único entardecer No dia seguinte restava à primeira página: o mijo do cão as escamas do peixe e um ramalhete de flores
Coluna social
Destaque dos lábios cor das mechas leveza dos cristais trincados
Crônica esparramada
em canto de página sopro breve em Mundo louco
Cabeça pensante
de olhar disfarçado buscando o Zodíaco enigma dos astros
Páginas policiais
Fama dos brutos criaturas - homens ano®malias
Opinião do leitor
sumo e terra sob o prisma do editor
Política
Muitos se sujam outros lambem os beiços alguns rasgam a página uns poucos arquivam e se rebelam


Quis criar de um risco um nome que dominasse o tempo de um sinal fechado

Estatueta do pequeno jornaleiro e seu grito engessado no canto da sala

Escolhia a letra como se assim restituísse à palavra o poder usurpado pela imagem

Não a foto :entranhas reviradas em véu da boca ao cu sem retorno

Obituário
Vale de cruzes e homens perfeitos Fica a classe e foge o money Debaixo da lama tilintam moedas Guardado na vala fraldário Aedes aeternum
Sétima arte
em terra de paranóicos com espelhos on the pocket
Latrocínio
Ladra morde e não devolve
Habemus
Criamos as nuvens e a fumaça alertou aldeias elegeu santos

Manhã outonal de sol oblíquo em Paris sob os braços uma baguete e Le Monde

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