Tive a sorte de por um breve tempo conviver com ele. Nosso primeiro encontro se deu em João Pessoa, onde Celso viera participar de um congresso. Deparei-me com uma figura branda, afável e bem-humorada. Sabendo da sua admiração por José Lins do Rego, convidei-o para conhecer no Pilar o Engenho Corredor.
Fomos em meu carro, numa manhã de sol, contemplando à beira da estrada as plantações de cana e conversando sobre assuntos vários (apesar do ar discreto, ele era um grande conversador). Fez elogios ao autor de “Menino de Engenho” e “Fogo Morto”, que considerava o mais denso e vigoroso de nossos regionalistas pela dimensão trágica da obra.
Engenho Corredor (Pilar-PB) @Plataforma 11
Chico e Denise Viana com Celso Cunha Acervo do autor
Certa vez o encontrei com a sua simpática esposa, Dona Cinira, num dos elevadores da Universidade Federal Fluminense, onde eu fora inscrever Denise no Mestrado em Língua Portuguesa. Nesse encontro, fomos convidados para a festa do seu 70º aniversário. Nela ocorreria o “Pagode do Celso”, um evento promovido por alunos, amigos e colegas – todos, como ele, adeptos do samba.
Poucos sabiam que o erudito professor, sempre nas aulas de terno e gravata, era fã desse ritmo popular e tão brasileiro. Vi-o cantando ao lado de Nei Lopes e de outros membros da Velha Guarda da Portela, que levou a festa pela madrugada. Tudo isso ao embalo de um bom uísque, que o mestre também apreciava, e da cachacinha que circulava farta entre os pagodeiros (o Zeca, como se vê, não desmente a progênie).
Celso Cunha Acervo pessoal
Ele foi nosso primeiro gramático a descrever o bom uso da língua em autores contemporâneos. Suas abonações da norma traziam passagens de escritores cuja leitura me estimulava a escrever (Rubem Braga, para citar um exemplo). Celso Cunha me incutiu a percepção de que no dinamismo do presente é que a língua testemunha a grandeza do seu passado.






















