Ah, viver é tão desconfortável. Tudo aperta: o corpo exige, o espírito não para, viver parece ter sono e não poder dormir – viver é incômodo. Não se pode andar nu nem de corpo nem de espírito.
(Clarice Lispector)
(Clarice Lispector)
Essa nada mole vida na terceira idade não tem sido fácil! Tema da redação do Enem: “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. Não sei se os jovens que fizeram a prova tinham o conhecimento necessário para tal desafio, embora muito tenha se falado em etarismo, preconceitos e envelhecimento nos últimos anos. E sempre soube que, para qualquer exame, ler jornal, sites e estar bem-informado conta. Já eu, se fosse fazer a Redação, talvez tirasse dez. Muito o que contar sobre acordar, sair, solidão, invisibilidade, limitações, expectativa de vida, de como somos tratadas no diminutivo, os tantos fins, o ladeira abaixo, alegria de viver, amizades e amores. Ou a falta!
Curated Lifestyle
No dia seguinte, quis ir ao Pão de Açúcar comprar umas guloseimas e, do jeito que estava em casa, fui. Já me disseram que, depois de uma certa idade (que idade certa seria essa, só Deus sabe!) não se pode sair desleixada. Estava de bermuda, camiseta enxovalhada, Havaianas
GD'Art
Hoje, na fisioterapia, me ofereceram uma cadeirinha. Na musculação, o personal chama meu muque de “tchau” (o músculo mole que balança quando damos tchau!); ou diz: “Levante o bracinho, baixe a perninha...” Fiquei a pensar na vida de novo! E, seja malhando, recebendo aparelhos para as tendinites, fazendo mercado ou qualquer outra coisa do dia a dia, somos lembradas dos anos que nos acompanham. E com ironia e sarcasmo.
Marcelo Gleiser Luciana Whitaker
E eu mesma me pergunto: Quando comecei a envelhecer? A vista cansada aos 39 anos me abriu os olhos. Mas ainda era jovemmm: “Envelhecer tem vantagens e desvantagens: deixas de ver as letras de perto, mas passas a ver os idiotas ao longe.” (Mafalda) Acho que, para as mulheres, a menopausa é um marcador. Os cabelos brancos? As rugas? A insônia? As guloseimas que temos que frear? Tudo isso
Curated Lifestyle
Mas sou uma otimista. Com pequenas doses de melancolia. Então tento olhar o lado bom da moeda. A segurança do que se quer ou não. A não necessidade de agradar mais. Uma certa calmaria. Até demais por vezes. A percepção de que tudo passa. Uma resiliência diante das coisas difíceis. Aceitação e adaptação sem maiores atropelos. E, quando o podcast pergunta: “O que é uma boa vida?”, acho que é olhar para trás com alegrias e faltas. Pois ninguém consegue viver tudo o que quer numa única vida. Bom trabalho, bons amores e uma leve, só leve, sensação de que a vida presta!
“A vida é breve, mas cabe nela tudo: o riso, a dor, o amor, o sonho...” (Cecília Meireles)


























