Trago para vocês uma parte dos depoimentos do longo e demorado processo de beatificação do padre jesuíta espanhol José de Anchieta. ...

Testemunhas do processo da beatificação do padre José de Anchieta

padre anchieta
Trago para vocês uma parte dos depoimentos do longo e demorado processo de beatificação do padre jesuíta espanhol José de Anchieta. A razão pela qual trago é que consultando sites de genealogia, verifiquei que antepassados meus foram ouvidos como testemunhas no processo de beatificação, totalizando 04 antepassados ouvidos, oriundos de locais diferentes do Brasil no período inicial da colonização.

Em julho deste ano fará 397 anos (06.07.1627) da oitiva da minha décima primeira avó, Catarina Afonso, residente no Rio de Janeiro, mas natural de Vila de Vitória,
José de Anchieta
atual Espírito Santo. De origem pobre, uma das profecias de Padre José de Anchieta é que ela “passaria por muitos trabalhos” e “haveria de parir mais de um par de vezes”. De fato, conforme Catarina confirmou, teve 5 filhos e teve que trabalhar muito por ser pobre. A profecia ocorreu em virtude do Padre José de Anchieta ter sido chamado porque, aos 15 anos, Catarina se encontrava muito enferma e acreditava-se que ela faleceria, não vindo a óbito conforme previsto por Padre Anchieta. Era viúva do meu décimo primeiro avô, o português Antônio Dias Lobo e mãe do meu décimo avô Sebastião Lobo Pereira. Foi ouvida no Rio de Janeiro em 06.07.1627. Consta seu depoimento nos autos do Processo de Beatificação do Padre José de Anchieta, assim:

“Catarina Afonso (ouvida a 6 de julho de 1627), viúva de Antônio Dias Lobo, moradora nesta cidade do Rio de Janeiro, natural da vila de Vitória, com cerca de 68 anos de idade, filha de Álvaro Afonso e de Branca Fernandes. Conheceu-o e com ele tratou e falou muitas vezes na capitania do Espírito Santo, e isto haverá 45 anos a esta parte e o conheceu por tempo de 15 anos. Estando ela testemunha muito enferma na capitania do Espírito Santo, haverá 40 anos, indo visitá-la o Padre José, lhe dissera que havia de morrer da doença que tinha. E o dito padre a consolou, dizendo que não havia de morrer, e ainda havia de parir mais de um par de vezes e que havia de passar muitos trabalhos. E assim foi, porque ela pariu mais cinco vezes e por ser pobre,
passou muitos trepaus. E para a haver de por no lugar, não conseguiam colocá-la onde queriam. Pôs novamente a mão e a puseram onde queriam. Um irmão da testemunha, de nome Afonso, viu Anchieta absorto em orações. Em Vitória, estando Catarina Gomes, mulher de Fernão do Campo, de parto havia três dias mui atribulada, o pai dela, por nome Luís Gomes, se fora ter com o Padre Anchieta. Este recomendou que fosse embora e logo pariria. Anchieta disse, ainda, à mãe de Catarina Gomes, que sua filha haveria de ter três partos trabalhosos, mas que daí por diante os teria muito fáceis. E assim foi: depois de três crianças mortas, as seguintes nasceram com facilidade! Outro caso foi o de um anão aleijado, de nascença, índio trazido do sertão pelo Padre abalhos. Ouviu dizer que, na capitania do Espírito Santo que, desejando Miguel de Azeredo uma pedra larga e bem feita, que estava pegada ao seu engenho para mesa dele, e por ser grande e pesada a não podia menear nem levar, e vendo o dito padre os desejos do dito Miguel de Azeredo, estando com ele no seu engenho, lhe disse que mandasse buscar vir a gente que ele levaria a pedra. E pondo-lhe o padre a mão, a levaram para o engenho sobre uns Diogo Fernandes. Mandou Anchieta que o anão se levantasse. Este respondeu que não podia e andava de bruços. Então Anchieta tornou a dizer-lhe que levantasse e lhe tocou com um bordão: o índio se levantou e começou a andar!”
padre anchieta
Oscar P. Silva, 1909
Em 23 de abril de 1622, há 400 anos, foi ouvida também no Rio de Janeiro, outra minha décima primeira avó no processo de beatificação do Padre José de Anchieta. O nome dela era Antônia Rodrigues Sardinha, cristã-nova, nascida aproximadamente em 1561 em Porto Seguro, na Bahia. Era filha de portugueses e sobrinha-neta do Bispo Pero Fernandes Sardinha que foi devorado em Pernambuco pelos caetés. Assim, consta o testemunho de Antônia nos autos:

"Antônia Rodrigues (ouvida a 23 de abril de 1622), mulher do cidadão Manoel dos Rios, natural de Porto Seguro, com cerca de 61 anos de idade, filha de Duarte Nunes e de Maria Fernandes. Conheceu ao Padre Anchieta há mais de 40 anos na Bahia,
no Porto Seguro e no Espírito Santo. Conhecia-o também porque o padre José foi muitas vezes à casa de seu pai, de quem era amigo. Morando, ela testemunha na Bahia, no Engenho d'El Rei, o Padre José indo à sua casa, um dia, como costumava ir outros muitos, e, comendo lá, pediu-lhe um par de talhadas de abóbora em conserva. Não havia na casa porque não as tinha feito, certificando-se uma vez mais ao olhar o pote. Disse-lhe Anchieta que obedecesse, que fosse buscar e lhe trouxesse três talhadas de abóbora. Tornando a ver o mesmo pote, achara as três talhadas de abóbora, que as pôs no prato. Anchieta se pôs a rir..."

Também foi ouvida no Rio de Janeiro, minha décima-segunda avó Maria da Luz Escórcia Drummond, natural de São Vicente (São Paulo), casada com meu décimo-segundo avô cristão-novo João de Souza Pereira, o Botafogo:

Maria Escórcia (ouvida a 26 de outubro de 1620), natural de São Vicente, com cerca de 49 anos de idade, filha de Manoel da Luz e de Bárbara Rodrigues. Aprendeu com ele o catecismo, em São Vicente.”
Meu décimo-segundo avô João de Souza Pereira, o Botafogo, também foi ouvido no Rio de Janeiro:

"João de Sousa Pereira (ouvido a 23 de agosto de 1620), natural de Lisboa, com cerca de 80 anos de idade, filho de Francisco de Sousa Pereira e de Inês de Brito de Carvalhais. Desde 1572 conheceu Anchieta em São Vicente."
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Os autos do processo de beatificação trazem os depoimentos de muitas pessoas que participaram do início da colonização do país, registrando em especial: Susana Dias (neta do Cacique Tibiriçá), Salvador Correia de Sá (ex-governador do Rio de Janeiro por diversas vezes no século XVI, sendo sucessor do primo Estácio de Sá), Martim Leitão (ex-Ouvidor Geral e que é figura relevante na conquista da Paraíba), Aleixo Manoel (filho do meu décimo terceiro avô Aleixo Manoel Albernaz, o Velho); Antônio de Mariz (filho dos meus décimos terceiros avós Antônio de Mariz e Isabel Velho).

O Padre José de Achieta foi beatificado em 22 de junho de 1980, segundo Hélio Abranches Viotti, S.J. Os depoimentos podem ser acessados neste endereço.

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  1. Interessantes descobertas, Laura. Parabéns. Francisco Gil Messias.

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