Franzino, vestindo camiseta e short, sandálias nos pés, rosto sério e olhar compenetrado, o menino Pedro ia de mesa em mesa na lanchonete/padaria com um pedido especial. Chegava de mansinho, silenciosamente, até ser notado. E ao ter a atenção para si dizia sem arrodeios. “Compra um pudim para mim?”.
A abordagem parecia estranha. Se estava com fome, o mais lógico era pedir um sanduíche ou algo parecido. Mas, não! Era um pudim o que o menino Pedro desejava, especificamente, um pudim inteiro.
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E lá ia o menino Pedro repetir o pedido em outra mesa com o mesmo olhar sério: “Compra um pudim pra mim?”.
O movimento do início da noite era grande na lanchonete/padaria. Pedidos de pães, tortas, sanduíches, vai e vem de atendentes, clientes apressados para retornar para casa e consumir os alimentos recém adquiridos. Enquanto isso, Pedro peregrinava quase que invisível por entre as mesas. A cada não ele seguia resignado, porém, determinado, à próxima tentativa.
Com apenas 10 anos, o menino Pedro tinha como arma apenas a determinação de pedir. Faltava-lhe a manha de uma abordagem mais suave, uma argumentação mais elaborada, digamos, um tom profissional que a vida ensina. E isto, aliado à insensibilidade tão comum nos dias de hoje, de ontem e de sempre, contribuia mais facilmente para a coleção de “nãos”.
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Pedro, o menino do pedido, queria o pudim e apontava para todos qual o tipo que desejava. Era uma iguaria inteira, enfeitada com três uvas-passas em cima e com uma camada de calda de caramelo. Um pudim dentro vários que estavam dentro da vitrine do freezer, tentadoramente a atrair os olhares.
Pedir um pudim inteiro? Talvez só o fizesse por pura inocência? Ao aproximar-se de uma mesa e repetir o pedido do pudim ao ocupante, pela primeira vez não recebeu uma resposta negativa. Tampouco foi um sim. Na verdade, o interlocutor teve a curiosidade aguçada. “Mas, um pudim? Você quer uma fatia de pudim?”. Pedro prontamente respondeu. “É um pudim. Aquele ali!” E apontou a vitrine onde repousavam uns 10 pudins inteiros.
O ocupante da mesa retrucou. “Você não quer um sanduíche para comer logo?”. E Pedro sustentou o seu pedido: “Não. É um pudim”.
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A resposta gerou mais curiosidade. Talvez um bolo fosse até mais sensato pedir. Contudo, a vida trabalha com muitas lógicas. E Pedro foi mais uma vez questionado sobre seu pedido. “Mas, pra que você quer um pudim inteiro?” Na pergunta também havia escamoteada quase uma afirmação: “Seria mais fácil pedir um bolo, pães, coisas mais fáceis de transportar e baratas para o benfeitor”.
Porém, o pequeno Pedro queria o pudim e não se desviaria do seu objetivo.
A resposta de Pedro explicava tudo. “O meu irmão fez aniversário. Não foi hoje. Mas não teve bolo. Eu quero levar um pudim pra ele, pra meu outro irmão e pra minha mãe”. E acrescentou que o irmão recém-aniversariante tinha 9 anos e o outro era ainda menorzinho. Não falou sobre o pai, nem deu detalhes da vida. Só respondia com sinceridade de criança o que lhe perguntavam.
Ahhhh! Talvez muitos ainda encarassem uma excentricidade o pedido do pequeno Pedro, ou fruto da ingenuidade ou mesmo supérfluo.
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E logo passar no caixa, o pudim embalado, pago, o pequeno Pedro agradeceu rapidamente e levou com cuidado pela calçada da rua o seu pedido para fazer a festa do irmão mais novo e da sua família. Pedro no pedido do pudim, apenas pedia para ser de vez em quando feliz.