Escrevi este texto a pedido da minha companheira, Xélia Osias , para homenagear o Papa Francisco. A Encíclica Fratelli Tutti versa ...

Fratelli Tutti

papa francisco enciclica fratelli tutti

Escrevi este texto a pedido da minha companheira, Xélia Osias, para homenagear o Papa Francisco.

A Encíclica Fratelli Tutti versa sobre a fraternidade e a amizade social, publicada pelo Papa Francisco (1936-2025) em três de outubro de 2020. O título, que vem do italiano e significa 'Todos irmãos', é uma citação de São Francisco de Assis (1181-1226), cuja visão humanista inspirou o Papa Francisco, o 'papa da simplicidade'. Essa visão é centrada na solidariedade como caminho para combater a desigualdade econômica e aliviar o sofrimento dos excluídos, que vivem à margem da dignidade humana. A finalidade da encíclica é destacar a necessidade de construir uma sociedade inclusiva, que promova a compaixão pelos empobrecidos, favoreça a felicidade individual e contribua para o bem-estar coletivo.

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@iamnsaparecida
O documento pontifício foi escrito para um mundo marcado pelo ódio e por múltiplas crises sociais, econômicas e sanitárias, especialmente pela pandemia de COVID-19, que intensificou ainda mais as desigualdades. Francisco, o ‘papa dos vulneráveis’, destaca que a crise de saúde mundial representou um momento de reflexão, em que as fragilidades do nosso sistema social e econômico se tornaram mais evidentes. Por isso, os temas centrais da Fratelli Tutti giram em torno da fraternidade, ou seja, da ideia de que todos os seres humanos, independentemente de suas nacionalidades, religiões ou condições sociais, são irmãos. A partir dessa premissa, surgem as relações de amizade, nas quais a empatia deve ser o alicerce das interações humanas, com o objetivo de construir, por meio do respeito mútuo, do diálogo e do cuidado com os desamparados, uma sociedade mais justa e solidária.

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A Encíclica Fratelli Tutti também critica os efeitos negativos da globalização, que frequentemente destrói o comércio local e gera exclusões e desigualdades. O ‘Papa dos excluídos’ denuncia um sistema econômico que prioriza o lucro em detrimento das pessoas mais vulneráveis e propõe uma economia orientada pelo bem comum. O ‘Papa da compaixão’ aborda, ainda, as consequências do individualismo excessivo, que enfraquece o senso de pertencimento e desintegra os laços sociais. Nessa encíclica, o ‘Papa dos famintos’ denuncia os danos causados pela cultura do descartável, que não se limita ao desperdício de bens materiais, mas se estende ao descarte das pessoas. Isso se reflete na marginalização de diversas comunidades, como imigrantes, pessoas com deficiência e os mais necessitados, que frequentemente são ignorados pela sociedade. O ‘Papa da esperança’ propõe uma cultura do cuidado, na qual todos os seres humanos sejam reconhecidos e valorizados, independentemente de suas condições sociais ou econômicas.

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@diocesedesetelagoas
Outro tema central da encíclica é a defesa da paz. O ‘Papa do diálogo’ destaca que a paz não pode ser reduzida à simples ausência de guerra, mas deve ser entendida como um esforço contínuo para construir uma sociedade mais justa, onde os direitos de todos sejam respeitados. O ‘Papa da unidade’ aborda os conflitos regionais, a violência e os desafios das migrações forçadas, convocando um empenho maior na resolução pacífica dos conflitos. O ‘Papa do meio ambiente’ sugere a solidariedade e a corresponsabilidade social como fundamentos para que as nações trabalhem juntas na resolução de crises globais, como as ambientais e a pobreza extrema. O ‘Papa da humildade’ defende a unidade política entre indivíduos e governos como meio para criar um mundo mais igualitário.

Por fim, a encíclica destaca a urgência do diálogo inter-religioso como um caminho fundamental para promover o respeito pelas diferentes culturas, reafirmando a importância da colaboração de todos na superação da intolerância
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Papa Francisco e Papa e o imã de Al-Azhar
@agencia.ecclesia.pt
e das divisões ideológicas, com o objetivo de promover valores universais, como a unidade na diversidade.

Na Fratelli Tutti e os desafios contemporâneos, no atual cenário de tensões globais, polarizações políticas, crises humanitárias e problemas ambientais, o ‘Papa do acolhimento’ convoca a humanidade a refletir sobre a construção de uma sociedade em que a fraternidade seja mais do que palavras, com mais práticas concretas e inclusivas, fundamentadas no respeito, na dignidade humana e no bem-estar de todos. O ‘Papa da Fratelli Tutti’ propõe uma visão de humanidade interconectada, capaz de superar o ódio, as guerras, a fome e as discriminações. A seguir, algumas de suas citações da encíclica:

— Amor universal que promove as pessoas: "Todo ser humano tem o direito de viver com dignidade e de se desenvolver integralmente, e nenhum país pode negar-lhe esse direito fundamental. Todos o possuem, mesmo aqueles que enfrentam limitações devido ao lugar onde nasceram ou às dificuldades que encontraram ao longo da vida. De fato, isso não diminui a imensa dignidade de cada pessoa, que se fundamenta não nas circunstâncias, mas no valor intrínseco do seu ser. Quando esse princípio elementar não é preservado, não há futuro para a fraternidade nem para a sobrevivência da humanidade." (Fratelli Tutti, n. 107). Conclui-se, portanto, que toda pessoa possui uma dignidade inviolável, que deve ser reconhecida e respeitada em todos os momentos e em qualquer lugar, sem exceção.
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@neipies.com/
— A eficiência do melhor de si: A verdade é que “A simples proclamação da liberdade econômica, enquanto as condições reais impedem que muitos possam efetivamente ter acesso a ela (...), torna-se um discurso contraditório.” (Fratelli Tutti, n. 110). Palavras como liberdade, democracia e fraternidade acabam perdendo seu real significado. Na prática, “Enquanto o nosso sistema econômico-social continuar a produzir até mesmo uma única vítima e enquanto houver uma pessoa descartada, não poderá haver a celebração da fraternidade universal (Encíclica Laudato Si). Uma sociedade humana e fraterna é capaz de se preocupar em garantir, de maneira eficiente e estável, que todos sejam acompanhados ao longo de sua vida, não apenas para atender às suas necessidades básicas, mas para que possam oferecer o melhor de si mesmos, mesmo que seu rendimento não seja o mais alto, mesmo que sejam mais lentos, ou mesmo que sua eficiência não seja a mais relevante." (Encíclica Economy of Francesco).
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Papa Francisco em Lesbos (Grécia) / Campo de refugiados Paul Haring
— Sobre a economia a serviço das pessoas: "A economia mundial deve ser repensada para que o centro sejam as pessoas e não o lucro, garantindo os direitos essenciais e a dignidade de todos." (Fratelli Tutti, n. 122).

— Sobre amor político e o bem comum: "A política, que é uma das mais altas formas de caridade, deve ser vivida de maneira a promover o bem comum." (Fratelli Tutti, n. 180).

— Sobre a cultura do encontro: "Falar de uma cultura do encontro significa que, como povo, nos apaixona a ideia de nos encontrarmos, de procurar pontos de contato, de construir pontes e de projetar algo que envolva a todos. Isso se tornou uma aspiração e um estilo de vida. O sujeito dessa cultura é o povo, não um segmento da sociedade que tenta manter a paz por meio de recursos profissionais e mediáticos." (Fratelli Tutti, n. 216). Portanto, o que a fraternidade nos propõe é justamente uma cultura do encontro, capaz de superar as divisões e de abrir caminho para um novo espírito de solidariedade.
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Encontro de imigrantes (Vaticano, 2017) Paul Haring
— Sobre o pacto cultural: "Quando uma parcela da sociedade tenta se apropriar de tudo o que o mundo oferece, ignorando a existência dos pobres, chegará o momento em que isso trará consequências. Ignorar a existência e os direitos dos outros inevitavelmente gera, mais cedo ou mais tarde, alguma forma de violência, muitas vezes inesperada. Os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade correm o risco de permanecer em meras formalidades, pois não são verdadeiramente acessíveis a todos. Assim, não se trata apenas de promover um encontro entre aqueles que detêm várias formas de poder econômico, político ou acadêmico; um verdadeiro encontro social exige um diálogo genuíno entre as grandes manifestações culturais que representam a maioria da população. Muitas vezes, as boas propostas não são acolhidas pelos setores mais pobres porque são apresentadas com uma roupagem cultural que não lhes diz respeito e com a qual não podem se identificar. Portanto, um pacto social realista e inclusivo deve ser também um 'pacto cultural', que respeite e acolha as diversas visões de mundo, culturas e estilos de vida que coexistem na sociedade." (Fratelli Tutti, n. 219).
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Vaticano (2017) L'Osservatore Romano / Pool AP
— Sobre consumismo: "O individualismo consumista gera inúmeros abusos. Os outros passam a ser vistos como meros obstáculos à própria tranquilidade, sendo tratados como incômodos, o que acaba por aumentar a agressividade. Esse comportamento se intensifica e atinge níveis alarmantes em tempos de crise, em situações catastróficas ou em momentos difíceis, quando prevalece o espírito do 'salve-se quem puder'. No entanto, ainda é possível escolher o cultivo da amabilidade; há pessoas que conseguem isso, tornando-se luz no meio da escuridão." (Fratelli Tutti, n. 222).


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  1. JOSE MARIO ESPINOLA1/5/25 22:22

    Il Papa di tutti i cosi foi o melhor Papa que a humanidade já teve. Rezemos para que seja substituido por alguem que dê continuidade a sua obra.
    Excelente texto, Kleber Maux! Muito bem escrito e concatenado.
    Parabens a você e ao ALCR por ter escritores como você.

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