Não falo sobre poemas
Eu os faço
Apenas
Mas deles eu não sei nada
É como ouvir
Na concha o mar
Sem nunca chegar perto das ondas
Não falo sobre a poesia porque
É tão gigante e intensa
Que se soubesse dela
Jamais poderia fazê-la
(Por incompetência)
Não falo sobre o tal do eu lírico
Porque só tenho o suficiente
Para uma cerveja
Na carteira
E eu queria tomar 18
Poemas envasados
E em cada rótulo ler:
"Teor poético
Acima de 100%
Depois
É com você...:
"...Em caso de excessos
Chamem mares
E estrelas..."
Só queria
Saber
Como se faz essa tal disritmia
Na imensidão
Dos tempos
Que passaram
Haviam homens Deuses
Mas só depois
Os Deuses
Se tornaram homens
Nos tempos
Do germinar
As primeiras
Ramas da vida
E a ida célere
Da mutação orgânica
Tangida pela paciência do tecer
E o mundo explodiu em cores
Em cheiros
Sabores
E o hábito de amores
Mas também
A necessidade
De comer...
(A vida invetou
A roda
De si
Mesma)
O alaranjado
Do Céu
No ocaso do sol
É a cor da lágrima
Por nós em nós
(É a solidão da caminhada
Fazendo o próprio
Destino entre a partida e a chegada)
Tempo que se abre a nossa frente
Como estrada
Ainda não percorrida
E sem se saber porquê
Ou por quem foi traçada
Assim vamos
Boi na boiada
Numa vida
Indefinida
Mergulhar
No azul
Tecer a trama
Da noite
Com o dia
E amar todas
As coisas
Em busca de ser
Mergulhar
No mar de mim
Sabendo que "mim"
São todos
Que sentem
Essa sensação primeira
Antes de si
Retornar
Das águas
Profundas
E estar
E reproduzir
E amar
Tudo em volta
Como um beijo de Yemanjá
Oxalá
Deus da brancura
Como a cor do esperma
Gameta
Líquido da vida
Em busca do amar no óvulo
Para retomar o mar na fecundação
E ir ser
Vida após vida
Uma fazendo a outra
Estar
Ser
Sorrir
Amar
E morrer
Como as coisas divinas
As pedras?
Elas
Como eu
Escrevem idas e vidas
Quem não é Orion
Sol
E sal na caminhada
Sobre a terra?
Não moro na borda do Universo
Porque ele sou eu
Cheio de falhas
E Desejos
Somos
Cada um de nós
Deuses
Mas o Deus que desejo meu é lindo
Como eu e é daqueles que também
Vivem o que é bom, mas dói
Dói
Como a extrema alegria dói e
Só os Deuses sabem disso
Ele é um conjunto de Eus
Maiores que
Min
Mergulhar
No azul
Tecer a trama
Amar o improvável
E ser tão intensamente
Que se possa quebrar a barreira
Do tempo linear
Ele me envelhece
Eu o compreendo
E vivo fora dele
Historiador
Que sou
Fiz um acordo com o tempo:
Ele me mostra coisas
Escondidas
E eu escondo nele
As que alguém
Um dia vai achar
Caetano fez outro
Acordo
Confio mais nele
Mas não poderia
Fechar essa ideia
Sem evocar o imenso
J. W. Solha
Aquele que é e fez
O que nem sonharia
Mas como eu
Ele vive todos
Os dias fazendo a sua arte
Para contar a quem queira saber:
Vamos morrer todos
Alguns
Sem entender nada
Outros cheios de arte
Não é culto a personalidade
É legado de amor
E sensibilidade
É saber o que significa Maiakovski
Ou Benjamin na hora do suicídio