Natal. Tempo de sentimentos ambíguos. Para quem é religioso, há toda uma liturgia e rituais a cumprir. A contrição do nascimento de Jes...

Natal

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Natal. Tempo de sentimentos ambíguos. Para quem é religioso, há toda uma liturgia e rituais a cumprir. A contrição do nascimento de Jesus. A festa. No meu caso, aniversário da minha mãe também.

Passei a vida sentindo angústias de final de ano. Um prato cheio para as terapias e os exemplos da melancolia natalina. Quando pequena, havia os presentinhos embaixo da cama, e isso salvava tudo. Mas esse negócio de ceia e todo o resto só lembro depois
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de adulta. O sonhado Natal, família feliz, nunca foi o lá de casa. Eram dias de tensão sobre o que iria acontecer no cotidiano da família. Então, sempre íamos para o Natal em outra casa, fosse das primas ou, depois, das casas dos sogros, dos amigos. E, claro, isso deixou vazios e buracos de não completude, diante do que a imagem dessas datas tentava passar.

Quando tive a minha própria família, a angústia persistia. Mas eu ia em busca da Árvore de Natal perdida. Buscava garranchos pelo Bessa, enfeitava à minha maneira, presentes para os meninos, ainda buscando, mesmo que inconscientemente, aquele ideal que via nas revistas. Imaginem que até um presente para mim mesma eu colocava na árvore, meio escondido, para que os meninos tivessem o que me presentear. Os pais deles não priorizavam esses rituais. Só depois de um tempo percebi o vazio maior, deixei de lado os presentes e comecei a festejar a festa como forma de encontrar a família e homenagear mamãe. E até hoje é assim. A angústia foi se
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dissipando, mas uma certa melancolia ainda se vislumbra por entre os dias. Os registros das faltas são para a vida toda. Sem falar que todas as desigualdades gritam na sua cara: a miséria humana, as guerras, todos os abismos sociais e íntimos. Mas, na minha vida de pequenos quadrados, quando vou ao shopping e escuto Noite Feliz, alguma lágrima sempre aparece em nome de uma infância carente. Ou de uma saudade inexplicável. Até mesmo pelo mundo eu sinto. Ou principalmente por ele.

Passei a gostar da data, do final de ano, pois não tenho mais o frisson e a agonia de sair matando os bois por dia. Levo na calma. Me organizo com certa antecedência, e as confraternizações são sempre momentos de reencontro, balanços do ano, abraços e trocas. Como se não bastassem as das amizades, agora tem mais a do Clube do Livro. E livros lidos a gente troca. A cada autor, uma alegria. No grupo CoisadeMulher, as moças são animadas e até karaokê terá. Imaginem! No das amigas da vida toda, é o carinho da longevidade de nos reconhecermos umas nas outras. Nas amizades mais recentes, mimos, bambus, fósforos e papelaria. Brindes para o viver a vida!

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Mas, no final de ano, também lidamos com perdas, tragédias — as grandes e as pequenas do cotidiano. As retrospectivas são sempre doídas. Ouvir John Lennon e So This Is Christmas me leva para um lugar para lá da Lapônia. Sim, já passei Natal na neve, nas montanhas geladas, longe de casa, perto de casa, gripada e de cama, cheia de energia a tomar banho de mar, me preparando para me casar, para me separar, sozinha, acompanhada, na gandaia, reclusa, enfim… com todos os tipos de Jingle Bells. Ainda me emociono muito com o Baile do Menino Deus e a trilha sonora da Ciganinha. Memórias da Escola Sempre Viva, onde meus filhos dançavam e onde, hoje, minha neta dançou domingo.

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Natal. Filho caçula em casa para os dengos. Filho mais velho por perto. O peru ali pegando o tempero. Uma arvorezinha mixuruca para a neta. Umas lembrancinhas para os sobrinhos-netos. O vinho comprado, o espumante também. A revisão do ano perambulando pelos pensamentos. Os planos também. Mas nem pintei as unhas roídas, nem o cabelo, nem maiores revelações.

Tenho luzinhas azuis na varanda. Adoro! E ontem ganhei um pão caseiro de uma vizinha que, quentinho, com certeza vai me dar dor de barriga de comilança. Mas sigamos!

Não vesti vermelho nem verde. Mas um batom forte, sim. Dia de festa. Minha mãe celebra seus anos nas estrelas. Um brinde à sua passagem longa e complexa (como a de todos nós) por esta vida.

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Copiei das redes que as mulheres gostariam de ganhar no Natal coisas como: o fim da violência; segurança para voltar para casa sem medo; descanso; mais mulheres eleitas e comprometidas; mais vagas nas creches; políticas de cuidado; o fim do genocídio do povo negro; o fim do culto à magreza; um dia só para elas.

Agradeço ter conquistado alguns desses presentes e poder comprar também uns pequenos luxos para o Natal: queijo do reino e panetone, sim! E uma Noite Feliz.

Saúde e amor aos leitores. Feliz Ano Novo!

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