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      PARANOIDE CAMARÁ Já marquei as circunstâncias com alfinetes coloridos Não me perderei revirando prejuízos no Nada E...

poesia capixaba jorge elias neto
 
 
 
PARANOIDE CAMARÁ
Já marquei as circunstâncias com alfinetes coloridos Não me perderei revirando prejuízos no Nada E se a imprecisão no poema for uma renúncia, um estar solidário ao conjunto dos passos autômatos, rítmicos, dos exércitos, me calarei de desprezo pelo ofício da escrita.

Vejo como necessária a celebração da vida, da condição racional do homem, de sua possibilidade de escolhas. Mas bem sei do quão é d...

morador rua pobreza injustica fotografia padre antonio vieira
Vejo como necessária a celebração da vida, da condição racional do homem, de sua possibilidade de escolhas. Mas bem sei do quão é desigual esse direito de escolha em nossa sociedade.

Chega-se ao ponto de ser quase um absurdo discutir o já tão repisado tema do livre arbítrio após um olhar para a foto que motivou este texto.

Convido o leitor que passe o olho na imagem, deixe que ela se fixe, que ela o veja e seja vista, que ela turve os seus olhos e suas certezas, suas verdades.

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Vitor Nogueira
Em seu sermão sobre São Roque, o Padre Antônio Vieira nos diz que “em todo ato, em cada ser humano habitam muitas verdades”. Falo sobre as verdades que essa foto de Vitor Nogueira me despertou.

Dizem muito da inteligência artificial, da possível empatia que pode ser inserida na forma como a frase é elaborada, como as palavras ...

preconceito discriminacao racial
Dizem muito da inteligência artificial, da possível empatia que pode ser inserida na forma como a frase é elaborada, como as palavras são dispostas no texto. Digo inserida pois a formatação do virtual passa, pelo menos por muito tempo, pelo controle humano. Já ouçof muitos colegas de profissão afirmarem que isso já está ocorrendo e apresentam alguns exemplos nos nossos grupos de whatzapp. Chegam a dizer que a IA (esta é a forma mais usual de se referir a inteligência artificial) já consegue, em alguns exemplos que veicularam, superar um diálogo presencial.

      ANCESTRALIDADE (Não sei o que faço falando por sua boca, brotando sabe-se por qual poro de sua existência....

poesia capixaba jorge elias neto
 
 
 
ANCESTRALIDADE
(Não sei o que faço falando por sua boca, brotando sabe-se por qual poro de sua existência. ) O som como se soletram os mortos, o remorso, a solidão da passagem das sombras, o interlúdio, o ludibrio das expectativas, as cartas reembaralhadas e seu cheiro de saudade, algum resto de tinta revestindo as paredes dos sonhos, e o testemunho da História que é sua, dentre tantos esquecidos.

      PROMESSA DE CONTRATO O cavalo - este que em mim galopa - sou eu sóbrio, farto de portar certezas e testemunhas que cat...

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PROMESSA DE CONTRATO
O cavalo - este que em mim galopa - sou eu sóbrio, farto de portar certezas e testemunhas que cato pelo caminho Talvez por não resistir à história, insisto nas fábulas dos ladrilhos revirados pelos cascos das mãos nuas Mas quem sabe, em uma manhã despercebida das ausências, eu desabe sobre uma almofada, aqui mesmo nesta sala, onde por vezes, me vejo um tolo E desista de assinar meu nome; de distribuir elogios à loucura.

Aos poucos estão trocando o piso das calçadas de Vitória; novas normas para tornar mais seguro o dia a dia dos pedestres. Podem achar ...

prosa poetica jorge elias neto
Aos poucos estão trocando o piso das calçadas de Vitória; novas normas para tornar mais seguro o dia a dia dos pedestres.

Podem achar estranho, mas não me atraem calçadas regulares. Os buracos, as irregularidades e os desníveis me servem como camuflagem do relógio do tempo, como um sinal de que mantenho momentos de distanciamento, de contemplação, de ausência.

Uma ilha dentro da ilha. Poderia definir assim o local onde conversávamos, tranquilamente, sobre literatura. A constante discussão, en...

anu branco ecologia vitoria espirito santo
Uma ilha dentro da ilha. Poderia definir assim o local onde conversávamos, tranquilamente, sobre literatura. A constante discussão, entre os raros interessados, sobre a evolução – aí já se encontra embutida uma fonte de discordância excitante – que ocorreu na poesia brasileira nos últimos cem anos ... Bravos companheiros e fantasmas, nós, na ante-sala do auditório da Biblioteca Pública Estadual. Uma ilha dentro da ilha…

      As velhas casas escoam seus sapatos a cada chuva, a cada partida Mas há um íntimo que perpassa a ausência: O peso da...

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As velhas casas escoam seus sapatos a cada chuva, a cada partida Mas há um íntimo que perpassa a ausência: O peso das solas, dos passos, das meias volta indecisas, do andar em devaneio e um certo calor despido de inocência Velhas casas, cenário do canibalismo dos justos, dos que se largam sobre o espaldar do trono da misericórdia

      QUANDO ESTENDI SEU CORPO NA AREIA Não sei mais de nada. O infortúnio é próprio da falta de sentido. (Ou será a fortuna...

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QUANDO ESTENDI SEU CORPO NA AREIA
Não sei mais de nada. O infortúnio é próprio da falta de sentido. (Ou será a fortuna de ter te conhecido sob o efeito do álcool?) A razão são as estrias que acumulamos na pele, e descamam a cada verão escaldante. Quando estendi seu corpo na areia, à semelhança dos fósseis, um outro tempo dizia qual o nome e o motivo de nosso encontro, e o quanto de surpresa preencheria o vazio de nossa existência.
SILÊNCIO ÁCIDO
Falo agora do seu silêncio, dizendo: se afasta de minha boca Eu queria me recordar, mas o vazio tem a força que aspira os sonhos, e a memória é um tempo perdido no não encontrar o seu abraço (O cinza não suporta o negro das noites e seus redemoinhos) Não aceito esta morte, perder o amor arrebatado do paraíso do seu nome, e a balança que rege as mãos, e o sentido dos gestos, a mentira de rosto limpo nas manhãs de paz Não quero ser obrigado a parar a noite, uma parte constrita de minha existência pertence ao desespero de sua sombra Eu me curo no tardar de sua partida.
DE IRMÃO PARA IRMÃO
Meu irmão tinha uma mala de livros um dia ele a abriu na minha frente e partiu para o desmedido entrei na mala e me cobri com as páginas de seus sonhos.
O DECLÍNIO DO ÚLTIMO DIA
Os restos de ontem combinam com os corpos de outras eras. São os mesmos mortos, as mesmas taças, o mesmo desperdício. A tradição das luvas e das meias, as fendas na carne, as porções de nozes sobre a mesa e as varejeiras, tranquilas, sobre os castiçais
BRUMADINHO
Eu não saberia dizer, estou atordoado, pisar o sem fundo das casas, entrar pelos telhados na vida das pessoas, saber os muitos tons da verdade, que a terra engole a fala dos homens e os aniquila com esse funil de lama tragando o ar e a voz de Minas. O mito é o pássaro que sobrevoa a tarde? Não, isso é poesia, e estou falando da morte.


As horas não são confiáveis, traiçoeiras, se repetem com sua vulgaridade sem fim, ostentando seu desejo de consumir cada espanto que nasce, cada corpo que tomba.


Desenterre os ossos ─ e seus medos sem face ─ deixados em outro tempo. E sobre a areia despeje o brinquedo de armar, essa cama da carne da marionete adormecida.

(do livro XXI Sombras, em fase de edição)

      A CASA QUE ME RECEBEU DE PÉ Olhá-la sobre os ombros da primeira mulher Depois do gosto do leite, o pão, o ovo frit...

literatura capixaba poesia jorge elais neto

 
 
 
A CASA QUE ME RECEBEU DE PÉ
Olhá-la sobre os ombros da primeira mulher Depois do gosto do leite, o pão, o ovo frito na manteiga - a saciedade Cantos escuros, lascas de madeiras e a correria das formigas nos tacos brilhantes E o erguer-se, esse simulacro de liberdade das patas A primeira janela, o canto das Nereidas, e o enigma da luz (Ficou, de fora, a promessa do azul)

MANUAL DA ARQUITETURA DO VAZIO “ Os quartos por onde eu deito são pedaços de parede ” (Roberto Almada) Divida a casa por circuns...

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MANUAL DA ARQUITETURA DO VAZIO

Os quartos por onde eu deito são pedaços de parede
(Roberto Almada)
Divida a casa por circunstâncias (o que fica na mobília são lembranças) o canto é o lugar secreto, ouvinte paciente, discreto já as paredes, labirinto, não duvide, segue ouvindo cada greta guarda um nome uma reticência e a fome os grandes segredos morrem quando as memórias escorrem mágoas no porta-retrato, amargas como o passado nos canos, todo o defeito, enganos, crimes desfeitos o som percorrendo tudo de uma ponta a outra, absurdo

      CAMINHAVA-SE e o não distante, retinia nos bolsos. (não se atropela com passo inútil a promessa do broto de amanhã) ...

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CAMINHAVA-SE
e o não distante, retinia nos bolsos. (não se atropela com passo inútil a promessa do broto de amanhã) Retiniam nos bolsos os cristais, as balas, o despreparo de ser na miséria. Caminhava-se perdidamente, às cegas, tonto de saber-se tonto,

      Rotina Convivia-se com a conformidade de ter o universo próximo de casa. O espaço delimitado pelo absurdo traço da co...

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Rotina
Convivia-se com a conformidade de ter o universo próximo de casa. O espaço delimitado pelo absurdo traço da conveniência era marcado pelas solas dos sapatos. (e trazia a fotografia do mijo fora da privada) Para o gozo o número era par. Pouco importava a singularidade da morte.

NATUREZA As artimanhas dos grãos perseguindo a eternidade As vozes perdidas no bambuzal O ponteio disperso no ve...

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NATUREZA
As artimanhas dos grãos perseguindo a eternidade As vozes perdidas no bambuzal O ponteio disperso no verde profundo O despejar no Mundo de chumaços de Pólen O prisma orvalhado nascendo no tear das aranhas O revoar das lanternas noturnas A generosidade da Paz entrecortada de espantos

SILÊNCIO, POR FAVOR A beleza, essa panaceia para o desatino, deixa de lado os seus afazeres árduos de ser exceção den...


SILÊNCIO, POR FAVOR
A beleza, essa panaceia para o desatino, deixa de lado os seus afazeres árduos de ser exceção dentre a vulgaridade dos dias e se curva diante do Rei do Futebol.
CASA DO MEU NOME
Era longe de um recanto a outro, (custavam anos e atropelos) construí-los, encontrá-los, destituí-los do poder sobre nossa vida A facilidade de idealizar, corromper a decência da crítica, evitar o torpor da certeza das paredes

ÁGUA A água dura o tempo de seu gosto, o reflexo oblíquo do Sol que insiste, o pormenor dos cinquenta tempos do Mundo ...

poesia capixaba jorge elias neto

ÁGUA
A água dura o tempo de seu gosto, o reflexo oblíquo do Sol que insiste, o pormenor dos cinquenta tempos do Mundo no rasante da libélula É esta água, repasto de surpresas, não a mesma, sempre a mesma, dispersa no azul redondo Água que transborda e cessa, recria e arrasta, carrega o som e derrama o silêncio

Domingo. Sol à pino. Dia da final da copa do mundo. Brasil torcendo pela Argentina? Muitos farão isto, justificando que o Messi merece...

Domingo. Sol à pino. Dia da final da copa do mundo. Brasil torcendo pela Argentina? Muitos farão isto, justificando que o Messi merece…

Mas o inusitado perpassa a vida, mesmo para os que insistem em considerar possível manter-se “isentos” dentro de sua bolha do “paraíso terrestre”.

Trânsito lento na mão oposta em frente a UFES. Uma corrida de rua, de um homem só.

POST SCRIPTUM Podia imaginar um doce espírito ter o brilho secreto de um anjo derramando no absurdo o sem juízo de seu...

poesia capixaba jorge elias neto

POST SCRIPTUM
Podia imaginar um doce espírito ter o brilho secreto de um anjo derramando no absurdo o sem juízo de seu nome, qual fosse um simples manto pousado sobre a encosta, em um abismo, (refúgio e temor do ser humano), e o som, o eco, derradeiro grito, mantra de entrega de seu corpo manso (Não se disfarça, se acolhe o aflito salto na intimidade do infinito, daquele que sem asas faz seu voo) “mais tarde”, sem sentido e agudo silvo, remanso que não cabe ao corpo hirto e o baque do soneto no abandono.

Sou filho de Lourdes, migrante nordestina, natural do sertão do Rio Grande Norte. Para os oriundos da adversidade, não tem cantilen...

poesia capixaba jorge elias neto
Sou filho de Lourdes, migrante nordestina, natural do sertão do Rio Grande Norte. Para os oriundos da adversidade, não tem cantilena e lamentação. Existem trabalho e o instinto de sobrevivência. Sou neto de Isabel, a quem devo tudo que sou como poeta. Sou irmão de Voltaire, nordestino que despertou meu sonho de poeta, cuja atitude de ao ver a avó ajoelhar-se e beijar-lhe os pés, apenas hoje entendo. Era uma santa. Dediquei a ela meu primeiro poema publicado:

O mundo em um “livrinho”   Adentro, com pés trocados, este novo livro de José Augusto Carvalho. Faço isto, ao molde dos indíg...

O mundo em um “livrinho”  

Adentro, com pés trocados, este novo livro de José Augusto Carvalho. Faço isto, ao molde dos indígenas da suposta “cipango”, que trocaram o sentido dos seus calçados, para confundir os portugueses que percorreram o Brasil em busca da prata andina, pelo o famoso caminho das antas (Peabirú). Mas, entrar em um livro de linguística com os “pés trocados”, é algo que cabe a um subversivo, a um poeta, algo sempre repisado pelo professor José Augusto Carvalho, em suas conversas com os poetas que o circundaram ao longo da vida.