Para Jorge Tufic Nosso foco míope, nesse setembro escarlate ‒ com suas horas retintas ‒ ignora a aurora despreza a lona do circo austral de estrelas impregnando o azul da Nação com a face perdida na orgia. E, essa, desfigurada revisita seus mortos homens pássaros plumagens poesia desgastada. E estendida a flâmula sobre o bastião da América ensaia o remendo do pavilhão desfeito.
ODE À BANDEIRA Para Jorge Tufic Nosso foco míope, nesse setembro escarlate ‒ com suas horas retintas ‒ igno...
Ode à bandeira
Para Jorge Tufic Nosso foco míope, nesse setembro escarlate ‒ com suas horas retintas ‒ ignora a aurora despreza a lona do circo austral de estrelas impregnando o azul da Nação com a face perdida na orgia. E, essa, desfigurada revisita seus mortos homens pássaros plumagens poesia desgastada. E estendida a flâmula sobre o bastião da América ensaia o remendo do pavilhão desfeito.
Manual de consulta breve sobre a diversidade de homens nascidos no ventre da Mãe Terra Olhos que se abrem inocentes não tardam em ...
Sobre a diversidade dos homens
Retalham o em torno lançando farpas no vazio da mente.
Algumas casas Algumas casas despertam, outras avisam, sem saber, algumas nos entopem o ouvido com sons que queríamos es...
Cicatrizes da cidade
Algumas casas despertam, outras avisam, sem saber, algumas nos entopem o ouvido com sons que queríamos esquecer. Algumas casas tem algo de servidão, deixam tapetes a espreita de nossas urgências. Algumas, mesmo que inocentemente, nos seduzem. Já outras se transformam em arrependimento. Casas, muitas agora, não dizem nada, são cicatrizes das cidades - certezas do absurdo.
Névoa, resto que me permito de lucidez Vê-se que o rio é lento e a violência com que lança o corpo do homem carrega uma...
Névoa
MULHER AMARGA-VIDA Esse olhar suspeito em meus peitos ― maravilhas americanas ― sob listras nacionalistas se confunde ...
Anotações sobre os super-heróis
Esse olhar suspeito em meus peitos ― maravilhas americanas ― sob listras nacionalistas se confunde enquanto, alucinada, rodopio e visto minha tiara não sou sexo, não sou foda sou a sádica do chicote por fora dourada e dentro uma TPM do cacete.
Suicida Autêntico, me interrompo, e quando leres estes versos não saberei de meu êxito. Histeria Recordo esse cort...
Breve dicionário poético da loucura
Autêntico, me interrompo, e quando leres estes versos não saberei de meu êxito.
Recordo esse corte, essas cicatrizes repetidas, e a milimétrica cautela de preservar espaços vazios. Desabo contorcido na gratuidade dessa inconsciência fingida.
Pago e me deito para contemplar meus vazios. Pago e me destruo para ser aceito. Pago minutos lacanianos de suspense e lágrimas. Pago, e sou interrompido na súbita solidão do divã.
Eis meu presente: esse falso (re) pouso.
O abrupto medo – temor –antecipado dos olhos, dos homens.
O minuto dividido em sessenta pressentimentos.
Tampar o rosto eufórico para enxugar uma lágrima de desespero. * transtorno afetivo bipolar
Não interromper o ato continuo de repetir. * transtorno obsessivo compulsivo
Passos apressados, peito apertado, – arfante– no instante imperfeito, no contínuo suspiro que se arvora .
Malhar os músculos, dar uma mijadinha e alisar o cabelo com a mão suja do pinto.
Plantar balas para brotar drops
"... o silêncio é uma espessura." (Francisco Bosco) Encontre um tecido, qualquer papiro, revire essas coisas mirabulosas, - as páginas ávidas de luzeiros -, derrame o risco, desfaça-se em crostas. O mais é o menos desejado - míope de poesia, ruína, passo inútil, essa miragem na imensidão, acinte, avidez da boca, verdade fútil. Mora, remora, demora e vai, perseguindo o silvo do ignorado, pio despido, vazio entornado. Vadio silêncio, tinta incrustada, no inaudito desmundo de um nada, que reveste tudo, ladrilho, estrada.
A sombra do zero O que contorna o início o preenche? E se o vazio diz seu nome, ele resvala ou já é abismo? A luz o desfolha...
A sombra do zero
O que contorna o início o preenche? E se o vazio diz seu nome, ele resvala ou já é abismo? A luz o desfolha ou não existe um porquê que deslize? Pode haver morno na essência do nada? O dentro e o fora cabem ou se perdem na desesperança?
Colírio que tece o dia Olhos cítricos, preguiçosos, em pelo de mel, um deixar-se estar na paz dos meninos de Liverpool (o que não s...
Colírio que tece o dia
Olhos cítricos, preguiçosos, em pelo de mel, um deixar-se estar na paz dos meninos de Liverpool (o que não se percebe é a arte dos felinos) ((Na redoma do que se denomina casa, tem um humano que me serve e eu lhe devolvo a percepção do sublime arbítrio )) E os Beatles, são um retrato dentro da vida que se persegue no tardar dos dias, Um algo que pulsa e cintila os tons do que se propõe eterno.
DESPEDIDA É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de p...
Despedidas
É na transição que me despeço pois outro em torno passa a ter sentido Não que seja felicidade a sucessão de portas, imagens, e a nova transparência do Mundo Não saber o nome que se diz quando se está surpreso passa a ser a vida (o recorte de cada adeus é essa bruma triste afastada dos olhos)
A quanto dista o zelo do cientista do abuso apaixonado do poeta com a palavra? Na véspera do lançamento dos meus livros “Manual para es...
Doutor, que tipo de poeta você é?
— Dr, que tipo de poeta você é?
Só sei que vou te amar I À quantas anda a secura de tua boca? Fulgura ainda em teus lábios a liga do beijo? Entendas que...
Só sei que vou te amar
I À quantas anda a secura de tua boca? Fulgura ainda em teus lábios a liga do beijo? Entendas que é breve o que se diz eterno. E que a intenção revela-se no mesmo segundo que a mão esbofeteia.
É necessário buscar espaço para o silêncio — ocupar-se dele. Até que nada mais sobre solucionável pela palavra. Existe u...
Bestando a apreciar bromélias
Nota Carlos Nejar (Porto Alegre, 1939), é poeta, ficcionista, tradutor, crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de...
A glacialidade no fogo
Carlos Nejar (Porto Alegre, 1939), é poeta, ficcionista, tradutor, crítico literário brasileiro, membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Brasileira de Filosofia.
Acerca do livro "Glacial", do poeta capixaba Jorge Elias Neto, ele escreve o seguinte:
A glacialidade no fogo
Certas coisas “calam” a alma, e uma desesperança preenche, subitamente, o espaço que recriamos, dia -a -dia, para existir. Após assistir ...
Um pedido de socorro pela Mata Atlântica
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.
A redoma estilhaçada faz frágil o ser antropocêntrico. A névoa, agora, é cinza de morte. A hora se apresenta túrgida de desassossego. O suor que nasce e evapora do febril pensante é quente, como no Holocausto de ontem. A vidraça, o vapor, a névoa, sobretudo o calor, fundem o metal encantado de Wall Street, em pleno Sol de meio-dia. É o céu um espelho partido, forjado por todos os alquimistas que acenderam o fogo da ambição. O girassol torporoso, refugia-se entre as pétalas que não tombaram ao orvalho ácido do alvorecer. Ele é incapaz de encarar a verdade deste Sol. O que dizer dos seres ignotos que se admiram nos espelhos das nuvens... Onde está a cuspideira, para que eu possa comemorar a soberba humana? Homem, mosaico de fluidos, senhor dos pensamentos dúbios e incoerentes, não tardes esperando que tua racionalidade te dê o norte. Ouve os ociosos que, perdidos entre estrelas, anteveem o simples fim. A rosa oriental que nasceu aos pés do cogumelo de poeira, já era rubra, ao brotar. Hoje, ganhou um toque tropical, está mais encarnada, herança diária dos inocentes exangues, que teimam em nascer, à margem do mundo globalizado. Os seres débeis já se esvaem na fumaça que escreve números em todo o céu. E o principal protagonista não lê os escritos das ondas, que, insistentes, desistiram de lavar as areias e passaram a deixar os seus escritos, nas memórias de uma geração.
Nada menos humano, menos carnal que o verde. Pútrida carne verde dos abandonados em valas. O que é verde o corpo despreza. Catarro, pus, vômica sinônimos de morte. A pele que ainda respira quando verde agoniza. De verde apenas os seres de nosso pobre imaginário. Nada mais vida, mais sentimento que o verde.
Gostaria de que o final do ciclo dos sóis visíveis me encontrasse bestando a apreciar bromélias.
A transparência dos fatos macula-se com a palavra. Como se a busca pelo caos fosse brindada com louvor e êxtase.
Em algum momento, antes do fim absoluto, o homem enfim olhará suas mãos sujas com a poeira do caos.
“O esquecimento jamais devolve seus reféns” Fabrício Carpinejar Somos formigas demais para o verde que resta. A escada de Tistu já não existe mais, perdeu-se no fogo verde. Ele, felizmente, está salvo, é um anjo... Legou-nos a metáfora de seu toque, mas nessa fila de ir e vir só a pele interpreta e julga o que o olhar não entende. Somos deuses demais para o verde que resta. Pode chorar ingazeira, pois não se volta do esquecimento. O tropel segue polvilhando cinzas sobre o cobre do entardecer, e a consciência não segue os passos de seus atos. Afinal, criamos Deus à nossa imagem, temos a chave da vida. Somos dementes demais para o verde que resta.
O mar afoga as colinas onde até anteontem os passos deixavam [ marcas de certezas. Os três ou quatro versos que eu deixei voltaram ao sal. Já não restam vogais, somente rastros na rocha dos tempos. Rezar não adianta; na cruz – poleiro dos derradeiros papagaios –, os musgos viçosos sobrevivem. O VERBO partiu e levou consigo o pecado. O mundo suspira aliviado o retorno à solidão.
Certa vez, psicografei um beija-flor morto na morna manhã da sensatez. Ele me confirmou que a turba renovará o erro de sempre. – O desespero do luar está em teus olhos, disse-me ele. Diz-me, rapaz, és capaz de ver quantas perspectivas na falsa inércia de um tronco?... Acreditas mesmo que um coração pode ser o centro do Universo?...
Morre de pé o verde, até que a inexorável gravidade trace seu rumo definitivo: partir para o esquecimento.
Vó Bela! O homem é assim: cultiva a ausência do verde, e, quando este finalmente falta, vende o que resta aos idólatras. Benditos os iconoclastas derrubadores do ídolo verde! Vó Bela! Será que chegará o dia em que tomaremos em nossas bocas uma folha verde como hóstia?
Certas bocas não vestem bem as palavras.
Íntimo Ondas guardadas, não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. Deixados sós, o...
Esse crepúsculo atravessado na garganta
Ondas guardadas, não devolvem o gosto de sal aos lábios despidos de lembranças. Deixados sós, os lábios, não se desviam do destino. Mas o súbito tranco da cancela dos dentes intimida o deslizar da língua.
Abençoados os que se aconchegam no desencanto (a relva sob a bruma é mais úmida) Abençoados os de paixão ardente (o labirinto ...
Salmo de fim de ano
I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o...
A loucura atordoa
Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse rastilho de palavras que pressinto atadas aos calcanhares. Se o desfaço, perde-se o encantamento das vivências cerzidas. Sei que as mãos ensaiam obscenidades entre dois espelhos. Quero mesmo criar algumas reentrâncias na estrutura dos olhares. Mas olhos extraviados não ardem
Saudade, esse poro transpirando para dentro da memória um infinito perdido que simplesmente fica naquele lugar que pinica...
Saudade
esse poro transpirando para dentro da memória um infinito perdido que simplesmente fica naquele lugar que pinica e diz do cheiro dos que me amaram antes que eu pudesse perceber que existe a ausência
Eu criaria um Céu se nele coubessem as minhas asas, Mas os sonhos dos homens que recolho, que abraço, precisam de um mundo que se ...
Anjo tombado
O punhal tem duas faces: a que brota e a que geme. Eis a porção do falso que constitui a verdade... Se disser tudo, rest...