Os ossos da baleia A arte permite um legado sem tragédia I Minha terra é uma ilusão da linguagem. Tenho de meu esse ra...
O Estalo da Palavra (VI)
Rascunhos do Absurdo encontrava-se pronto, a boneca do livro entregue a Miguel Marvilla para a preparação da edição. Minha expectat...
Estalo da Palavra (V)
Pólos Para Gabriel Meu pai vestia uma pele de sonhos amarrotados. Tardava horas campeando pequenos nadas. Grande ...
O estalo da palavra (IV)
Para Gabriel Meu pai vestia uma pele de sonhos amarrotados. Tardava horas campeando pequenos nadas. Grande colecionador de figurinhas, trazia colada nos olhos sua fortuna de desejos.
Dimensões As palavras estão sempre lá, com seus olhos atentos a me observarem do silêncio.
O Estalo da Palavra (III)
As palavras estão sempre lá, com seus olhos atentos a me observarem do silêncio.
Verdes Versos I O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara. Vegetariano...
O Estalo da Palavra (II)
O escrito, o exposto, essas meias verdes verdades, já não se escondem atrás de máscara.
O esquecimento jamais devolve seus reféns. FABRÍCIO CARPINEJAR
A poesia começa assim Emprenhar-se de miudezas; deixando as mãos rendidas aos gestos costumeiros. E, quando a luz...
O Estalo da Palavra (I)
Emprenhar-se de miudezas; deixando as mãos rendidas aos gestos costumeiros. E, quando a luz se aperceber, desmembrada pelo estalo da palavra, jogar-se nos trilhos para salvar a flor.
Marco Zero Avançamos desgarrados neste Tempo tardio. A partir daqui, se inicia o reino das ostras e do...
O segredo das tempestades
Avançamos desgarrados neste Tempo tardio. A partir daqui, se inicia o reino das ostras e dos desencantados. Recolhamos a vela — sudário santo — que há de ser lenço e manto aos que choram e perecem sobre as rochas.
SONETO EM CRISE O perdido traz a marca na testa, esboço do nome, falso retrato, um corno - caligrafia da besta -, revol...
Sonetos sem teto
O perdido traz a marca na testa, esboço do nome, falso retrato, um corno - caligrafia da besta -, revolta e um perfil de semblante amargo. A fala que se esforça em verso, ofensa, um desmentir inútil do absurdo que transpassa o ser fútil e enlaça a criatura com seu silvo agudo,
NOME O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fom...
Meu rastro pelas calçadas
O nome que me resta não cabe em meu corpo ouvidos poucos se prestam a escutar a minha urgência troco a minha fome pelo espasmo de minha carne pouca e esse desapego deixou de ser escolha, é o meu rastro pelas calçadas onde escrevo meu nome de hoje
Decreto (para ser lido tomando-se água de coco à beira mar) Atenção! Está suspensa a transitoriedade das insignifi...
No falso silêncio da crisálida
(para ser lido tomando-se água de coco à beira mar) Atenção! Está suspensa a transitoriedade das insignificâncias. Não é permitida a inspirabilidade do óbvio. É mandatório o afogamento das circunstâncias. O status quo deverá ser limpo com papel higiênico. Será suprimido do vocabulário o beijo sem língua. No cardápio das quartas-feiras o prato principal será o ócio. Que se nomeiem os filhos conforme o cricrilar dos grilos. Cada bocejo deverá ser celebrado como profecia.
Gira flor retorna ao berço das imagens, Mundo em moldura de sonhos nascido no infinito dos olhos a cada nascente e p...
Gira flor
MONÓLOGO A DOIS Falo a história dos dias, assim, despercebido, entoando versos que não ecoam mais o assombro da belez...
Vi essa praia crescer, derramar-se sobre o mar
Falo a história dos dias, assim, despercebido, entoando versos que não ecoam mais o assombro da beleza Perto de mim há um anjo que me entende, e chutamos pedras As luzes polvilham a cegueira, e eles já não veem o bordado das asas, as tranças do anjo, a textura desalinhada de seus passos e me condenam a loucura (A praticancia desassistida de sonhos é o testemunho da morte que abomino)
CAÍRAM AS FOLHAS Caíram as folhas que vi nascer quando parti Não fui testemunha das aguadas e da prenhez da terra que...
Caíram as folhas
Caíram as folhas que vi nascer quando parti Não fui testemunha das aguadas e da prenhez da terra que alimentaram Apenas a meia-volta da memória se despede, vez ou outra E sigo na constância, e os dias, sim, brotam
Varal Roupa lavada desconhece a história. Dela tiraram as palavras, os odores, tiraram o enigma das cores. Já neste var...
Penduro cheiros neste varal
Roupa lavada desconhece a história. Dela tiraram as palavras, os odores, tiraram o enigma das cores. Já neste varal mágico, o que se vestiu, o que existiu, o que é e não simplesmente foi, o que está exposto é a materialização de minhas vivências. Penduro cheiros neste varal: O cheiro de talco de minha avó; Meu pai-cheiro. Nele estão também os cabelos longos de meu irmão Que verteram poesia e sofrimento. (Quem sabe também o seu último olhar para a morte?)
A ESCRITA É UMA LIGA DE SANIDADE Muitos diriam para não fazer esses malabarismos de letras sem sentido Diriam que a set...
Ser o vento desperdiçando a força nas folhas mortas
Muitos diriam para não fazer esses malabarismos de letras sem sentido Diriam que a seta é a cura para a obtusa tortuosidade do nômade Mas buscar o visgo na ressurreição diária faz lampejar os olhos O Eu triturado renasce, não sóbrio, pois a vida não permite
Vejo nos dias atuais uma tendência à falta de proveito de um dos sentidos da poesia. Não creio que se tenha um caminho único a ser t...
Pela poesia, simplesmente
Não creio que se tenha um caminho único a ser trilhado – pelo contrário – mas tenho observado um favorecimento da busca pura e simples da abstração, do uso “despretensioso” das palavras; como se o poeta se sujeitasse aos novos paradigmas impostos pela atual visão caleidoscópica da arte; pela trilha atribulada e veloz da globalização.
O ÚLTIMO (Por que o último, se existe o contínuo da expectativa?) Os riscos ocupavam todas as paredes do cômodo ...
A sombra tomba sobre a terra ao sentir o fascínio do sol
(Por que o último, se existe o contínuo da expectativa?) Os riscos ocupavam todas as paredes do cômodo Custava revirar os olhos e contá-los (na verdade era impossível) Havia espelhos dependurados, nenhum espaço para incluir um sonho e uma possibilidade de saber do infinito E naquele em torno, que incluía a eternidade, se despejava o desejo humano
MONÓLOGO Pode ser meia a dor que te consome? Viver, apreender palavras, guardá-las no silêncio. O mormaço já est...
As mãos postas
A vogal é par, a consoante é impar – azulejos – na casamata do poema.
Canto primeiro Habita em mim um sem número de desterrados, meus pares eternos, raízes que me circundam. Resmas e re...
Cantos para meus filhos
Habita em mim um sem número de desterrados, meus pares eternos, raízes que me circundam. Resmas e resmas de histórias perdidas, descartadas, um cotidiano de ossos e aboios de heróis impuros. Um ser andor e barro, caligrafia, relicário das almas. Meu duplo é o ontem, a miragem sertaneja, o cedro-do-Líbano, a travessia dos Oceanos e das caatingas.
Coisas excepcionais aconteceram sob os olhos cansados de um relógio do tempo que não pediu para existir. Mãos o criaram ̶ eu sei. É que o Sol insistia em rodar, rodar e rodar... Era um deus. Sagacidade de uma prosopopeia.
Letra miúda, essa, do tempo, caber o risco do vento o uivo, o eco, toda delicadeza dos voos dispersos e restar espaço para tantos sonhos na inocência de uma infância.
O cerol do tempo lembrando que a morte é a única panaceia.
Surgem homens, incansavelmente, e a discórdia começa com as iniciais dos nomes.
Os homens se perderam, eu me perdi, sou um deus da guerra Milano, sou um deus plácido e sua faca o corte e a ferrugem dos séculos.
Sabe, pai, é triste não saber definir a noite.
A palavra malefício poderia ser desdobrada em oficio de ser mal ou um mal ofício, uma execução imperfeita, um ato humano. Intencionalmente estaria aí a dualidade, o espaço da religião.
O amuleto, um algo que já tentei ver através de um radioscópio, e que só mostrou minha mão que segurava uma ilusão envolta em séculos de tecidos negros que guardavam uma farpa da Santa Cruz.
Existiu um rosário de contas azuis e brancas, e uma pena do pavão de padre Cícero, e Santa Marta, ou uma outra Santa de vestes de freira, e um oratório azul como um túmulo de um ser puro nascido no Seridó, e um menino vivo a confrontar o espelho, essa imagem maldita que pensa saber todas as respostas.
Existe uma hierarquia para as perdas. A minha primeira foi a mãe do Bambi. E minha mãe nem sabia que eu já sabia da morte quando segurei suas pernas na janela do nono andar.
Guardei meus pés e minhas pausas.
Esse olhar de ódio é um teatro do absurdo de um homem além do discurso de querer-se sóbrio diante do naufrágio.
Nascemos e partimos para o esquecimento.
A espiral dos cromossomos se quebra. É o pó das urnas mortuárias e a carga nos ombros dos filhos.
A colcha de retalhos é o nosso destino, memórias, augúrios e peripécias. Isso é a vida. E a responsabilidade dando sentido ao ser torto no redemoinho.
Estenda sobre seu caminho de passos suas descobertas, e parte levando o que seja, leva ao menos um desejo de tarde e o sentimento tátil da bruma ao te despertar de um sonho.
Por vezes o pouco contato, o distanciamento, a ausência do olhar, do tato, nos desperta a falsa impressão de que aquela pessoa não exer...